Segredos de um Escândalo | CRÍTICA

Participamos da cabine de imprensa de um filme extremamente polêmico (para não dizer bizarro), desenvolvido a partir de uma história real: uma professora de 34 anos se envolveu com um aluno vinte anos mais jovem, chegando a engravidar e dar a luz na prisão. “Segredos de um Escândalo”, longa dirigido por Todd Haynes, mescla ficção e acontecimentos reais para nos apresentar a história de Gracie (Julianne Moore), uma mulher que tem sua vida virada do avesso após protagonizar um escândalo de proporção internacional: o envolvimento com Joe (Charles Melton) um garoto de treze anos. O envolvimento conturbado e criminoso destruiu seu casamento, sua reputação e causou estragos permanentes não apenas na vida de Gracie, mas também daqueles ao seu redor. Após mais de vinte anos, Gracie e Joe vivem sua vida de forma pacata junto de seus filhos. Porém, o clima pacífico é abruptamente interrompido quando a renomada atriz Elizabeth Berry (Natalie Portman) precisa estudar minuciosamente a vida e personalidade de Gracie para interpretá-la em um filme. O tempo de convivência de Elizabeth com a família de Gracie traz muito mais problemas do que se esperava.

Para entender a premissa do filme, não é necessário exatamente que o espectador saiba da história real que embasou o enredo. Porém, ter conhecimento dos fatos reais proporciona uma melhor compreensão, além de aprimorar a experiência do público. O enredo, obviamente, foge em totalidade do convencional, devido a circunstância absurda em que os acontecimentos se desenvolvem. Portanto, dificilmente quem assistir cairá no tédio durante a sessão. Até nas cenas de pouca ação a atenção voltada aos diálogos e a atuação é total, e isso é fundamental para que o filme se torne uma experiência: grande parte do conteúdo é repleto de elementos subliminares que tornam “Segredos de um Escândalo” um drama denso e comovente.

Durante o longa, poderemos encontrar algumas pontas soltas no desenvolvimento. Alguns furos podem deixar em aberto questões que acrescentariam positivamente ao filme, mas acredito que até esse aspecto seja proposital, pois o que não fica explícito nos leva a levantar questionamentos intrigantes. Por que Gracie apresenta traços tóxicos na criação das filhas? Por que os vizinhos, mesmo conscientes do escândalo, nutrem tamanho apreço por Gracie e Joe? São os questionamentos que sustentam a atenção do público mediante um contexto tão bizarro. E vão além: em diversos momentos poderemos questionar nossos próprios princípios ao (quase) tomar as dores de Gracie, indagando internamente se ela foi uma mulher de fato cruel, se é mentalmente perturbada ou se ela realmente apenas acreditou estar fazendo o certo, devido ao estado de negação em que a protagonista vive, mascarando suas dores e seus atos, seja na maquiagem e vestes delicadas mediante seu círculo social ou nas acusações em particular de que Joe é quem a teria seduzido.

A construção da trama de forma geral se deu de maneira muito inteligente: não haveria melhor maneira de conhecer os desdobramentos de forma detalhada sob várias perspectivas do que utilizando o enredo de uma estranha revirando os detalhes em busca do maior número de informações possível.

Dentre os diversos fatores que merecem destaque no filme, acredito que o principal está no trabalho do elenco escolhido. Enquanto Natalie Portman tira o fôlego da audiência com a ardilosa e obcecada Elizabeth ao ponto de fazer o público se solidarizar com Gracie, Julianne Moore explode a nossa mente ao apresentar uma personagem absolutamente imersa em contradição. Quem assistir certamente passará por toda a exibição questionando qual a verdadeira face de Gracie: uma senhora angustiada e confusa, uma mulher manipuladora ou uma vítima tomada por transtornos? Em contrapartida, em meio a duas personagens tão complexas, nos deparamos com Joe, uma figura que desperta pena. Joe parece não conseguir pensar por si próprio, e viver aprisionado a uma vida que ele próprio parece não entender. É vendo o quanto Joe teve sua vida e personalidade afetadas que perdemos qualquer sentimento de compaixão por Gracie. Todas essas atuações fabulosas quase se diluem em cenas caricatas e um roteiro banhado em hipérbole, seja no choro descontrolado de Gracie por um bolo, nos trejeitos exagerados de Elizabeth ou na postura robótica de Joe. Ainda assim, a composição funciona bem e a qualidade de atuação fortalece a conexão com o público.

“Segredos de um Escândalo” é um filme exagerado, dramático e chocante. Tentar estabelecer uma régua que possa medir o tamanho dos estragos que a relação de Gracie e Joe causaram (não apenas na vida de ambos) faz com que o teor absurdo do longa seja maior a cada minuto da exibição. No entanto, é a retratação do absurdo que atrai a atenção do público. O pouco tempo de duração da trama é compensado com uma história que planta uma sequência interminável de questionamentos, tanto sobre a origem e o desenrolar dos fatos quanto sobre as constantes metáforas. A constante presença das protagonistas em espelhos demonstra uma similaridade excessiva e assustadora entre elas? A metáfora da borboleta de Joe se desenvolvendo presa até atingir sua fase final para ser liberta indica que ele também buscará sua liberdade?

Com certeza, fica aqui a recomendação desse drama inebriante. Prepare-se para questionar valores e princípios (não apenas dos personagens).

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One thought on “Segredos de um Escândalo | CRÍTICA

  • 14/01/2024 em 18:43
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    Já foi lançado? Se sim qual plataforma? Curioso pelo enredo do filme! Ótima avaliação, Paty! Sucesso minha irmã! (Depois que assistir volto a comentar)

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