Review: The Sinking City

Desde The Secret World e Deadly Premonition, muitos jogadores aguardam por um novo título de investigação sobrenatural de qualidade. Quando falo de investigação, me refiro à mecânicas detetivescas, como procurar pistas, remontar cenas de crimes e interrogar suspeitos, e não simplesmente resolver puzzles e procurar chaves, como a maioria dos games de terror fazem atualmente.

O recém-lançado The Sinking City surpreendentemente consegue resgatar essa experiência e não é para menos. O jogo foi criado pela Frogwares, estúdio que já desenvolveu vários jogos vários títulos da série Sherlock Holmes, sendo o último deles chamado de The Devil’s Daughter, que apesar de não ter se tornado popular, foi bem recebido pela Crítica em seu ano de lançamento. Em outras palavras, estamos falando de uma empresa com mais de dez anos de experiência com jogos de investigação, sendo o último bem sucedido. Logo será que seu novo game compartilharia desse sucesso?

O novo jogo da Frogwares é um game de investigação com elementos de RPG e em mundo aberto, inspirado no universo criado pelo escritor H.P. Lovecraft, o mestre do Horror.

A Era Lovecraftiana

Toda a história ocorre em 1920, na isolada cidade pesqueira de Oakmont, Massachusetts, um lugar que estranhamente não está presente em nenhum mapa que você já tenha visto e poucas pessoas sabem como encontrá-la.

Lá você encarna o personagem Charles Winfield Reed, um veterano mergulhador da marinha norte-americana, que após A Grande Guerra se tornou um detetive particular. O detetive viaja Boston até Oakmont a convite do intelectual Johannes van der Berg para descobrir a causa de suas terríveis visões que o atormenta há anos.

Após a primeira hora de jogatina, uma vez introduzido a esse novo universo, você está livre para continuar a trama central ou partir para as pequenas histórias que compõem as missões secundárias.

Ainda com relação às quests, essas trazem ao game uma grande rejogabilidade, graças a um sistema aberto de investigação no qual cada caso pode ser solucionado de diversas formas, com diferentes finais possíveis, dependendo das suas ações. Há várias tomadas de decisão que influencia o desenvolvimento das missões, porém suas escolhas raramente afetam a trama principal, apenas as quest que você executou.

Seja qual for a sua escolha, essa com certeza certeza será uma experiência imersiva, porém devo confessar que os diálogos, em particular, são um pouco superficiais. A personalidade de quase nenhum dos NPCs transparece através delas, logo o sentimento é que a narrativa tem qualidade, mas pecam no modo de contá-la. A sensação de que falta algo é algo constante e atormenta o jogador tanto quanto o terror e mistério que o mesmo proporciona.

A interpretação dos personagens também deixa um pouco a desejar, pois não há muita ênfase no modo pronunciam as frases, não existe muita pausa entre as falas do protagonista e de seus interlocutores.

Se eu fosse o detetive, suspeitaria que todos os habitantes dessa cidade são criaturas sobrenaturais, porque a maioria deles não quer revelar suas intimidades e aparentemente, ninguém precisa de um momento para respirar enquanto fala.

Sustos a óleo

Semelhantes a The Witcher 3 e muitos dos jogos Triple A dessa geração, o visual do game tem um estilo semelhante a uma pintura a óleo, porém os personagens de The Sinking City possuem rostos bem menos expressivos que o jogo do bruxeiro, o que transmite uma certa sensação de artificialidade.

No entanto, para um jogo Double A, que está entre um indie e um Triple A, seu visual está maravilhoso, faz jus ao seu preço e principalmente, a falta de expressividade não atrapalha em nada o foco da experiência que o game quer te passar, que são narrativa e investigação.

Tente Não Enlouquecer

The Sinking City possui um vasto mundo aberto composto da cidade de Oakmont e como o próprio nome do jogo sugere, de “pontos marítimos”, uma vez que algumas parte da cidade estão submersas. Sendo assim, você terá que explorar os locais a pé, de barco e algumas vezes até mesmo usando um escafandro, um traje de mergulho para águas profundas comum até meados do século XX.

A maioria dos lugares não são marcados automaticamente no mapa, então é essencial prestar muita atenção aos diálogos e conferir todos os documentos encontrados para finalmente, marcar no mapa o lugar que deseja e possa se dirigir para lá.

Isso rompe com a tendência dos jogos de mundo aberto, que não apenas revelam as principais localidades de seus game como colocam uma linha pontilhada ou um feixe de luz para você seguir.

E não importa onde você for, sempre haverão pessoas desaparecidas, criaturas bizarras, entre outros mistérios a serem encarados. Para isso você usará de um sistema de investigação, algo semelhante a The Division 2, onde você literalmente pode ver tudo o que aconteceu no passado de um determinado lugar, porém diferente da série da Ubisoft, que usa tecnologia, aqui você sua o Olho da Mente. Essa habilidade permite não apenas reviver breves momentos do passado de determinado objeto ou local como também destaca itens e evidências próximas. No entanto, esse recurso deve ser usado com cautela, pois consome sua barra de sanidade. Uma vez que a barra fique baixa, o protagonista fica perturbado, é atormentado por visões de terríveis e caso você seja atingido por elas, perde pontos de vida e pode até morrer.

Qualquer contato com o sobrenatural, aliás, faz com que a sanidade do detetive seja consumida. Essa mecânica adiciona muito ao jogo, pois além de ser bastante original se tratando de um RPG eletrônico (RPGs Board Games já usam um recurso similar há décadas), torna as investigações e combates mais emocionantes e desafiadores.

Na Cidade da Loucura

O novo jogo da Frogwares deixa a desejar em alguns aspectos. Talvez isso se deva ao fato dele não ser propriamente um Triple A, logo não teve tanto investimento. As peculiaridades do sistemas de investigação e a qualidade da trama são o suficiente para assegurar que ele seja um jogo memorável.

The Sinking City já está disponível para PC (Epic), PlayStation 4, Xbox One e em breve também será lançado para Nintendo Switch.

Manoel Siqueira

é formado História, Filosofia e cursa Pós no Uso de Jogos e Brincadeiras em Sala de Aula. Também é redator, podcaster e editor no site http://meialua.net @meialuafsoco.