Assassin’s Creed Mirage | Análise

Quando foi anunciado, Assassin’s Creed Mirage veio com a proposta de retorno às origens da franquia, onde não tínhamos um sistema totalmente voltado para o RPG e o foco estaria, novamente, na incansável guerra entre Assassinos e Templários.

Para aqueles que jogaram Assassin’s Creed Valhalla, Basim, o protagonista da vez, é bem familiar. Em Mirage conhecemos mais de sua personalidade, suas motivações e de que forma ele acabou fazendo parte do credo dos Assassinos.

Graças a Ubisoft Brasil eu pude jogar o game de forma antecipada e irei contar para vocês a seguir, sem spoilers, se toda essa espera valeu a pena.

Um Ladrão que se tornou Assassino

Como foi apresentado anteriormente em trailers, Basim é um ladrão que vive no subúrbio de uma pequena cidade chamada Anbar, onde realiza favores junto de sua amiga Nehal, fazendo uso de suas “habilidades” em troca de dinheiro.

Um destes favores, no entanto, o coloca frente a frente com um dos ocultos (Roshan), uma vez que o item a ser recuperado seria para eles.

Basim questiona a Assassina, que acaba o menosprezando. Então, o nosso protagonista decide provar que é capaz e planeja roubar um artefato raro e especial sobre o qual ouviu Roshan mencionar a Dervis, o intermediário de seus trabalhos.

Obviamente, as coisas não saem como esperado e as consequências para Basim e Nehal são drásticas.

Sua fuga o coloca mais uma vez no caminho dos Assassinos e, agora com o artefato em mãos, Roshan enxerga o potencial do ladrão e decide torná-lo seu aprendiz.

Um bom tempo depois, após ser iniciado no Credo, Basim e seus novos companheiros recebem relatos de um grupo conhecido como A Ordem, que tem forte influência na grande cidade de Bagdá e busca um artefato que, em mãos erradas, colocaria não só os Assassinos mas todo o povo de Bagdá em grave perigo.

Assim começa a verdadeira missão de Basim, que precisa investigar e descobrir quem são os membros da ordem que dominam Bagdá e qual o real objetivo do grupo.

O enredo, de modo geral, é contado de forma bem interessante. Como mencionei, Basim foi iniciado no Credo, ou seja, ele ainda não tem o título de Assassino e um dos pontos altos é justamente acompanhar o amadurecimento do personagem e como o mesmo enfrenta seus “demônios” interiores.

A forma como a história foi estruturada para nós, jogadores, foi muito bem pensada, pois tudo acontece por meio de investigações que Basim precisa realizar. 

Assim, vamos recolhendo pedaços de informações a cada missão e as coisas vão se encaixando à medida em que avançamos. Este é um ponto bem positivo, pois atiça nossa curiosidade e nos incentiva a seguir adiante.

Novos personagens são apresentados e auxiliam o Assassino novato em sua missão, incluindo figuras históricas como Ali ibn Muhammad, algo que já é marca registrada da franquia, justamente por se passar em épocas marcantes da história de nosso mundo.

Felizmente, a história me prendeu bastante e o seu final, que obviamente não irei comentar, me deixou ainda mais ansioso para o que vem a seguir em Assassin’s Creed.

Gráficos e ambientação

Antes de entrar em detalhes nesse tópico é importante mencionar que Assassin’s Creed Mirage foi concebido originalmente como uma DLC de Valhalla, e devido às proporções e ao potencial dessa nova história a Ubisoft optou por fazer deste um jogo novo.

Dessa forma, Assassin’s Creed Mirage ainda é um jogo Crossgen, ou seja, não foi pensado apenas para a nova geração de consoles e PC.

Utilizando o mesmo motor gráfico de Valhalla, porém mais polido, algo que a Ubisoft sempre fez com maestria foi a ambientação de seus jogos. Mirage retrata de forma fiel a grande cidade de Bagdá e até mesmo seus desertos são lindíssimos.

Explorar a imensa cidade e os locais externos durante os diferentes períodos do dia rende momentos que precisam ser capturados com o modo foto, que é bem similar ao implementado no jogo anterior.

Por outro lado, os modelos dos personagens ainda são um problema, principalmente no que tange ao rosto e as expressões faciais. 

Em alguns momentos a modelagem da face parece melhor trabalhada, mas em boa parte a falta de detalhes nessa construção, principalmente em momentos que representam uma emoção mais intensa dos personagens, causa estranheza e nos tira da imersão.

Esse é um ponto que foi bastante criticado em Valhalla e perdura em Mirage. Vamos torcer para que no próximo jogo, que será totalmente focado na nova geração, a Ubisoft dê uma atenção maior a esse detalhe.

O Gameplay de Mirage

A grande promessa de Mirage foi seu retorno às origens, como mencionei anteriormente, principalmente na jogabilidade. 

Se buscarmos em nossas memórias, os primeiros jogos de Assassin’s Creed tinham grande foco na furtividade, onde agir nas sombras era mais recompensador do que simplesmente meter o pé na porta e partir para o embate direto com os inimigos.

Esse conceito foi se perdendo com o passar dos anos, principalmente após a reformulação do gameplay para o formato RPG. Graças a essa mudança, certos assassinatos furtivos não eram possíveis, principalmente se seu inimigo possuía um nível mais alto que o seu.

Felizmente, Assassin’s Creed Mirage traz de volta o real sentimento do que é ser um assassino e faz juz ao dogma do credo: “agir nas sombras, para servir a luz”.

Ao explorar Bagdá para fazer as missões principais e secundárias, nos deparamos com diversos locais que são estritamente proibidos para qualquer um sem autorização e repleto de guardas.

Com isso em mente, é nítido que não podemos entrar pela porta da frente, pois isso chamaria a atenção de todos eles, tornando difícil cumprir nosso objetivo.

Dessa forma, antes de invadir um palácio, um forte ou qualquer outra estrutura protegida, é necessário observar e encontrar pontos de entrada mais seguros ou até mesmo buscar oportunidades de distração, subornando mercenários para incomodar os guardas ou ajudando algum cidadão insatisfeito que trabalha por ali.

Uma vez dentro, podemos explorar o ambiente ao máximo utilizando nossa visão de águia e Enkidu, o fiel amigo com asas de Basim que vasculha os céus. 

Assim, podemos encontrar formas de eliminar os inimigos sem sermos vistos e olha… é simplesmente gratificante passar por um local, realizar nossa missão e sair dali sem alertar quem quer que seja.

A Ubisoft acertou em cheio ao incentivar ações stealth em Mirage. Isso quer dizer que não podemos bater de frente com os inimigos? Claro que não. No entanto, as coisas podem se tornar bem difíceis ao encará-los diretamente.

Nos poucos momentos em que alertei os guardas e precisei lutar, foram raras as vezes que enfrentei um único oponente. Quando em maior número, as coisas ficavam bem complicadas, principalmente nas ocasiões em que surgiam inimigos variados. 

Enfrentamos soldados com espada, armas pesadas e armaduras, lanças, arco e flecha. Tudo isso unido a um combate limitado pode ser fatal sem a devida cautela.

Sim, você não leu errado, o combate corpo a corpo de Basim é bem limitado e não é tão satisfatório quanto jogar de forma furtiva.

O protagonista possui apenas um ataque fraco e forte que vai minando a postura do inimigo quando o mesmo se defende. Infelizmente não sentimos o peso dos golpes quando acertamos o oponente e alguns nem mesmo reagem ao impacto do dano, te atacando em seguida.

O parry, no entanto, pode ajudar bastante nesse sentido, além de resgatar o sentimento que temos em Assassin’s Creed Brotherhood, ao aguardar um ataque e pressionar o botão no momento certo. Em Mirage, ao aparar no momento certo, quebramos a postura do inimigo, possibilitando um ataque fatal.

Embora eu sinta um certo desleixo da Ubisoft no combate corpo a corpo, fico pensando se não foi uma decisão de design proposital justamente para incentivar ações furtivas.

Contudo, mesmo após alertar os guardas, Basim possui meios de evitá-los e fugir do local, retornando para as sombras.

As ferramentas e habilidades de Basim

Como todo bom Assassino, Basim possui ferramentas que auxiliam em suas ações furtivas e possibilitam fugas emergenciais.

As famosas facas de arremesso estão de volta, temos dardos tranquilizantes para imobilizar inimigos, bombinhas que chamam a atenção, armadilhas que atordoam qualquer um que se aproximar delas, bombas de fumaça para confundir multidões e tochas para explorar lugares escuros.

O uso combinado de cada um desses apetrechos tornam tudo ainda mais divertido, e o game ainda nos dá a possibilidade de aprimorá-los, adicionando propriedades especiais aos seus efeitos, seja para envenenar um inimigos com os dados, aumentar a área de explosão das bombas de fumaça, ampliar o alcance das facas de arremesso, etc.

Nosso protagonista também possui uma árvore de habilidades que, embora não seja tão vasta como em Valhalla, é bem sucinta e eficaz, trazendo habilidades que realmente fortalecem Basim em todos os sentidos.

A grande questão, no entanto, é o Foco Assassino… uma espécie de poder que permite assassinatos instantâneos, teleportando o personagem.

Embora não tenha usado tanto essa habilidade, devo dizer que ela é bem apelativa. Houveram momentos em que eu estava com pouco ou nenhum estoque de ferramentas, mas com as barras de foco carregadas.

Foi necessário apenas marcar os inimigos para que Basim fizesse o restante. Embora seja roubada, é uma habilidade opcional. Em vários momentos optei por não usá-la e criar formas de atrair e eliminar os inimigos. Fica a critério do jogador.

Não podemos esquecer das armas e trajes do nosso Assassino. Como de praxe em Assassin’s Creed, podemos encontrar inúmeros trajes distintos para personalizar o personagem. Vasculhar locais, cumprir tarefas e missões secundárias (falaremos mais a seguir) podem render bons frutos.

Além dos trajes, podemos conseguir espadas e adagas com força e propriedades diferentes. Tudo isso pode ser aprimorado em um ferreiro com o diagrama de melhoria certo, que também encontramos durante a exploração.

Na edição de luxo do jogo, temos o icônico traje, espada e adaga do príncipe em Prince of Persia, além de uma skin temática do game para o nosso cavalo e Enkidu. É simplesmente demais explorar o mundo de Mirage com essas referências.

O mapa do jogo, missões e tarefas secundárias

O mapa de Mirage é bem vasto, embora seja menor que Valhalla. Eu considero este um ponto positivo, pois toda a exploração se torna menos cansativa. 

Os pontos de sincronização estão de volta e, após liberá-los, podemos viajar rapidamente por diversos pontos do mapa, nos deixando próximos aos nossos objetivos.

A construção deste mapa foi feita de forma interessante, pois ao aproximar o zoom para vermos os pontos de interesse, é gerado um pequeno relevo das estruturas ao redor, facilitando sua identificação. Esse foi um toque bem criativo por parte da Ubisoft.

E falando em pontos de interesse, temos diversas atividades secundárias em Mirage: podemos encontrar enigmas para decifrar, livros que precisamos entregar ao curador da Casa da Sabedoria, artefatos para o Dervis, peças misteriosas, entre outras tarefas menores.

Todas elas servem a um propósito, entregando ao jogador uma recompensa única pelo seu esforço. Obviamente eu não fiz 100% de cada uma delas. No entanto, pelas que pude completar, recebi trajes e armas diferentes para Basim.

Se lembram dos contratos? Pois é, eles também estão de volta e trazem não só missões de assassinato, mas outros formatos distintos e bem interessantes. Durante sua jogatina pode ser importante fazê-los para conseguir itens valiosos que irão auxiliar na jornada.

O mais legal é que elas são divertidas de se fazer, ao apresentarem pequenos enredos que nos deixam curiosos para ver seu desfecho.

A Localização para Português do Brasil

Infelizmente esse foi um fator decepcionante em Assassin’s Creed Mirage. 

Sabemos que na dublagem Brasileira existem profissionais de renome e extremamente talentosos. No entanto, apesar de as vozes escolhidas para este jogo serem muito boas, ele peca na direção de dublagem.

Em diversos momentos durante a jornada, principalmente em momentos cruciais da história, não sentimos o peso das emoções dos personagens. Alguns diálogos que deveriam ser mais pesados, intensos, raivosos, são realizados de forma que quebra totalmente a imersão.

Um exemplo que me marcou, logo no início do jogo, é quando Basim está segurando uma porta para impedir os guardas que estão tentando entrar em um local. A fala do personagem nesse momento, ao se dirigir para Nehal, não passa a sensação de que ele está fazendo força, muito pelo contrário, ele parecia estar relaxado e conversando normalmente.

Em vários momentos o diálogo dos personagens destoa da cena que está sendo apresentada.

Além disso, pude encontrar NPC’s diferentes que foram dublados pela mesma pessoa. Isso pode ser uma prática comum em personagens totalmente genéricos, com uma frase ou duas no máximo, que acabam passando despercebidos. 

Nesse caso os NPC’s participam de missões, então é impossível não perceber, mesmo com um bom intervalo de horas na jogatina.

Embora eu tenha gostado da escolha das vozes, acredito que a direção de dublagem deixou passar pontos cruciais que, infelizmente, afetam a experiência de se acompanhar essa essa história.

Sim, temos Bugs irritantes

Assassin’s Creed Mirage não está livre dos Bugs e alguns podem ser bem irritantes.

O parkour é a marca registrada da franquia, algo bem divertido durante a jogatina quando escalamos prédios e outras estruturas. 

No entanto, em certos momentos, principalmente durante invasões em que não podemos ser vistos, o personagem pode realizar movimentos inesperados, comprometendo a missão.

Inúmeras vezes durante a escalada, ou ao pular de um pilar para outro, Basim se deslocava de forma diferente, aparecendo ou caindo na frente de um inimigo. Isso é algo existente desde os primórdios da série, mas que ainda irrita bastante.

Na minha jogatina, encontrei outros problemas como diálogos bugando enquanto estava escondido e era necessário espionar uma conversa, sendo necessário reiniciar o checkpoint.

Botões de interação com alguns mercadores não apareciam e, novamente, era necessário reiniciar o save.

Outro problema que também é recorrente nos jogos da série é a IA “tapada”. Várias vezes realizei assassinatos furtivos onde o companheiro do boneco que acabei de matar presenciou o ato e continuou no seu posto, como se nada tivesse acontecido.

Ao alertar os guardas em uma área depois de presenciarem um assassinato, eles simplesmente me esqueciam um tempo depois. Sei que estes últimos são problemas comuns em Assassin’s Creed, mas não deixem de ser estranhos.

Eles comprometeram de forma crítica a minha experiência? Não, mas foram frustrantes.

Vale a pena?

Analisando o conjunto da obra, Assassin’s Creed Mirage é um game digno da série.

Apesar dos problemas mencionados aqui, o saldo ainda é extremamente positivo.

Se você é um amante dos jogos clássicos, como eu, não há dúvidas de que essa experiência irá te prender do início ao fim. Todos os elementos clássicos que fizeram dessa franquia algo incrível estão presentes.

Basim é um protagonista centrado, forte e carrega consigo mistérios que nos guiam para descobrir mais sobre sua história, principalmente após o que foi revelado em Valhalla.

As ambientações são espetaculares e temos figuras históricas marcantes. A trilha sonora, algo que não mencionei, está impecável, principalmente a versão de Ezio’s Family recriada para o Mirage.

Isto dito, vá sem medo, vista seu capuz, sua lâmina oculta e realize o seu salto da fé para ajudar os Assassinos em Assassin’s Creed Mirage.

O jogo estará disponível mundialmente a partir do dia 05 de outubro para Playstation 5, Playstation 4, Xbox Series X|S, Xbox One e PC.

Acesse o nosso canal do YouTube para conteúdos em vídeo e live.

Não deixe de conferir outras Análises de jogos: