Os Oito Odiados – Crítica

Os Oito Odiados, oitavo filme dirigido por Quentin Tarantino, coloca um grupo de desconhecidos para conversarem em uma cabana durante uma nevasca. Poderia ser apenas um filme sobre convivência, não fossem eles pessoas de índole e gentileza duvidosas e não houvesse a suspeita de que alguém estaria alí para evitar que uma prisioneira fosse levada à forca.

Os personagens centrais desta estória nos são apresentados logo no início do filme, após a longa cena de introdução de cerca de cinco minutos mostrando uma cruz de pedra e uma carruagem sendo guiada pela neve. Estes cinco minutos servem de aviso sobre o ritmo que o longa segue em muitos momentos e apoiado na bela trilha de Ennio Morricone deixa claro que o clima não é será dos mais amistosos.

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Kurt Russel interpreta John Ruth, um caçador de recompensas conhecido como Hangman (Enforcador, em tradução livre), que está a caminho da cidade para levar a bandida Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh) à justiça e consequentemente ao enforcamento. O caminho de sua diligência é obstruído pelo Major Marquis Warren (Samuel L. Jackson) e sua pilha de corpos. Warren é também caçador de recompensas, mas diferentemente de Ruth, prefere levar seus alvos mortos para a coleta da recompensa.

A introdução destes três personagens e do cocheiro O.B. Jackson (James Parks) é interessante, divertida e com muito diálogo, este último ponto algo importantíssimo na forma que o filme foi feito, já que há pouca variação de cenários e pouca ação.

Mas não deixe a falta de ação e quantidade de diálogos te assustar, pois estes são muito bem feitos e interessantes, sendo impressionante como Tarantino conseguiu criar um filme repleto de diálogo expositivo, que normalmente é um problema, no qual o diálogo expositivo é essencial. Até mesmo o narrador é bem empregado.

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Para se refugiar da nevasca, a diligencia de Ruth vai até uma hospedaria famosa na região. Nela somos apresentados ao demais personagens do filme, um a um, e para isso o espectador segue os questionamentos de Ruth a cada um deles, deixando bem claro que Daisy era sua prisioneira e que não exitaria em puxar o gatilho. O momento em que ele diz que a levará para enforcamento é o melhor momento cômico do filme.

Para completar o elenco, temos Walton Goggins, interpretando o Xerife Chris Mannix, Demian Bichir, como Bob, Tim Roth em excelente atuação como Oswaldo Mombray, Bruce Dern como o General Sandy Smithers e Michael Madsen como Joe Gage.

Inicialmente o clima no local é apenas levemente tenso, contendo algumas cenas bem humoradas e a estória se desenvolve em capítulos e alguns flashbacks encaixados perfeitamente no ritmo do filme. Essa tensão permeia o filme desde o início, mas em determinado momento ela começa a escalar constantemente até o final da película.

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Tarantino é um diretor que gosta de exibir uma violência crua e sangrenta e isso é bastante acentuado a partir da metade do filme. O alvo principal dessa violência é a única mulher do elenco principal e isso levantou na coletiva de imprensa o questionamento de que ela seria, diferentemente das demais personagens femininas de filmes do Tarantino, uma mulher fraca. O diretor, em sua resposta deixa claro que para ele Daisy é a mais durona de todos os personagens do filme e demonstra isso mesmo sendo prisioneira. Eu concordo com a visão do diretor, e não quero dizer muito sobre o desenrolar da estória.

As cenas e discussões dentro da cabana parecem inspiradas nos grandes filmes investigativos e de tribunal, na qual cada informação é colocada no momento certo no local certo para que a estória siga seu curso.

E como o próprio título do filme deixa claro, ninguém dentro da cabana é confiável e todos são perigosos, o que deixa cada questionamento mais importante e impactante e a linguagem de cada personagem tem grande peso para a narrativa.

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Tarantino não gosta de filmagem digital e aplica seu gosto de forma bastante extrema neste longa, pois decidiu filmá-lo utilizando câmeras que utilizam rolo de filme 70mm, na prática isso significa uma imagem cuja largura é o dobro da altura e portanto bastante mais larga que o tradicional 35mm, além de possuir 6 trilhas de áudio. Este formato foi desenvolvido na década de 1950, então possuir 6 trilhas de áudio é algo impressionante.

Infelizmente não há no Brasil salas com projetores para rolos de filme 70mm, então recebemos cópias em formato CinemaScope. Mesmo assim é notável a diferença de amplitude dos ambientes nas cenas, principalmente quando Tarantino faz algo que não costuma fazer: imagens bucólicas.

THE HATEFUL EIGHT

Já citei que a trilha foi composta por Ennio Morricone e é excelente. Uma curiosidade é que Tarantino não utiliza músicas orquestradas em seus filmes e este foi uma exceção.

Na coletiva de imprensa o diretor conta que conversou com Morricone sobre a possibilidade do compositor escrever um tema, apenas um, para ele e a proposta foi aceita. Só que tempo depois Morricone teria ligado para Tarantino e falado que tinha composto mais algumas músicas, então obviamente Tarantino também as utilizou no longa.

Outro ponto interessante do processo de composição e utilização das trilhas originais de Morricone foi que elas foram compostas sem que o compositor tivesse visto qualquer imagem do filme, então elas foram encaixadas nas cenas no processo de montagem e edição.

Os Oito Odiados é um filme muito bom tecnicamente, com boas atuações e trama, mas não espere um filme empolgante e se prepare para as quase três horas de projeção que por conta de algumas quebras de ritmo pode ser um tanto cansativo, então vá para o cinema preparado.

O longa é distribuído no Brasil pela Diamond Films e está em cartaz nos cinemas, então garanta seu ingresso e se possível, escolha uma sala com tela bem grande e boa qualidade sonora.

Trailer: