Análise | FIFA 19 e a Jornada Tripla

Durante a geração PS3/X360 os jogos de futebol estavam se tornando cada vez mais complexos e isso me afastou deles.
Quando retornei a jogar FIFA na versão 2017, o principal atrativo foi poder vivenciar uma estória dentro do mundo do futebol, acompanhando Alex Hunter em sua Jornada.
Retornar para viver a Jornada era voltar aos jogos de futebol, reaprender a cada ano como executar passes e chutes certeiros, aprender a movimentação dos jogadores em campo e da inteligência artificial. E é nesses pontos que a versão 2019 de FIFA teve suas maiores mudanças.
 

A Exigência pela Precisão

 
Nos últimos anos, a EA tem aprimorado os sistemas e dado grande liberdade ao jogador para alterar diversas características de jogabilidade e inteligência artificial para incrementar o já tradicional sistema de nível de dificuldade.
Em FIFA 19 essas possibilidade continuam presentes, sendo a principal novidade o sistema de precisão de chutes. Com esse sistema o jogador precisará não apenas considerar a direção e a força, mas acertar o momento de iniciar o movimento de chute e o momento de encostar na bola, portanto, são necessários dois toques no botão de chute para executá-lo com precisão.
O sistema de passes é outro que foi bastante alterado. Em conjunto com a movimentação e posse de bola dos jogadores ele se tornou mais exigente.
Para facilitar a vida de iniciantes, jogadores mais casuais e de pessoas que jogam mal, como eu, são disponibilizados os sistemas de assistência de passe e chute. E esses sistemas e seus níveis alteram completamente a forma de se jogar FIFA.
Sistema de assistência de passes deixa o jogo bastante dinâmico e divertido, permitindo focar no aprendizado da jogabilidade e entender as mudanças na movimentação de jogadores e no dominio de bola. Ao passar para semi-assistido, é notável a diferença de precisão e a exigência ao jogador. Alternar para o modo integralmente manual pode transformar o jogo em um pesadelo.
A assistência ao chute é uma associação de força e direção e não é possível desassociar essas características, ou seja, desabilitar a assistência exigirá do jogador algumas partidas ou sessões de treinamento para se adaptar à nova mecânica de precisão de chutes e mesmo assim, haverá muitos erros.
 

Sempre atualizado, nem sempre positivo

 
Todo jogo de futebol possui situações que quando repetidas ocasionam gols, em alguns é o chute na diagonal, outros o cabeceio, outros o chute de fora da área, neste, tenho a impressão que havia uma facilidade em fazer gols de voleio em cruzamentos na linha de fundo, após algum update isso parece ter sido resolvido.
Durante o período de testes houve diversas mudanças na precisão de chutes, ajustes nas possiblidades e capacidades dos jogadores dominarem bolas em situações adversas etc.
A constante atualização do jogo permite ajustes em mecânicas que não agradam os jogadores, mas dificulta a experiência daqueles que jogam casualmente, já que a cada iteração com o jogo, há mais o que aprender e nesse ponto, utilizar as assistências de passe e chute são muito bem vindas. O problema ficará nas mudanças das inteligências artificiais, que a cada momento reforçam algum dos problemas na dinâmica de jogo que são frequentes desde o FIFA 17.
 

FUT – FIFA Ultimate Team

 
Ultimate Team é um dos modos de jogo mais importantes da geração atual de FIFA, talvez o mais importante para a EA.
Os jogadores desejam montar seu time dos sonhos e conquistar vitórias contra outros jogadores do mundo, provando que são bons não apenas com a bola nos pés, mas também como gestores de seus elencos.
Apesar disso, há algo nesse modo que me incomoda e que considero importante melhorar principalmente no FUT, mas não exclusivamente: interface.
Qualquer coisa que se deseje fazer é complexo, demanda tempo para aprender onde cada configuração está, onde cada opção tem impacto e nem mesmo o processo de escalação dos jogadores é fácil.
Para jogadores que passam horas nesse modo, há anos, pode ser que esses problemas não existam, mas para quem fica tanto tempo sem jogar FIFA e retorna, ou que está aprendendo, é uma experiência horrível.
 

A Carreira

 
O modo carreira não sofreu mudanças drásticas do que havia no FIFA 18, mas algo notável é que existem menos barreiras na hora de contratar algum jogador.
As negociações também estão mais fáceis. Isso serve tanto para o acordo entre clubes quanto para acordo clube-jogador. As exigências feitas são mais facilmente contornadas e você não corre tanto risco de ver sua oferta ser recusada e ver o agente sair revoltado da sala. Claro que esse tipo de situação ainda pode ocorrer, mas só se você ficar uma proposta realmente sem noção.
Para melhorar suas chances de conseguir o jogador, basta gastar alguns dias observando o jogador alvo, assim você saberá qual o melhor valor para oferecer e qual melhor contrato.
Além disso tivemos uma mudança enorme e incrível para quem gosta deste modo: Liga dos Campeões.
Era sempre muito recompensador se classificar para um torneio continental. Mas ao chegar lá e ver os narradores falando Copa da Europa era meio frustrante. Porém como somos garotos mimados e as empresas gostam de atender nossas necessidades finalmente temos oficialmente a Champions League a nosso dispor.
E isso inclui toda a identidade visual que conhecemos tão bem: música tema, logo, estrelas no teto do estádio. Fora que existe toda uma apresentação diferente na entrada dos jogos da competição. Realmente um ganho enorme.
 

A Tripla Jornada

 
A grande novidade para a Jornada é que além de continuarmos a história de Alex Hunter, podemos jogar com seu amigo Danny William e com sua irmã Kim Hunter. Ambos possuem histórias que se intersectam com a de Alex.
Ao optar por apresentar três histórias a EA teve que reduzir a ação do jogador dentro de campo, portanto, com Alex e Danny jogamos a Champions League e duas ou três partidas cruciais para o campeonato nacional, enquanto com Kim, jogamos jogos preparatórios e a Copa do Mundo de Futebol Feminino.
Outro impacto notável na inclusão dos personagens foi diminuir a profundidade das histórias. Essa diminuição faz com que algumas decisões não tenham o impacto no jogador.
Há também momentos em que devemos optar entre Alex ou outro dos dois personagens, fazendo assim com que o jogador tenha que decidir se vai deixar Hunter ainda mais insuportável ou se dará uma lição nele, ou seja, você está se vingando de Alex ao invés de dando moral a Danny e Kim.
A sensação ao finalizar a Jornada 2019 é de ter visto menos acontecimentos do que em 2018, já que é mais difícil se apegar aos personagens devido a frequente alternância.
Alternância essa que poderia ser melhor estruturada, já que depende do jogador qual será o cenário seguido e quando trocar de um para outro. Mesmo que seja mostrada uma recomendação de qual personagem seguir, ela ainda é um pouco falha, já que mesmo Kim estando seis meses a frente de Danny e Alex, o jogo recomendava que se jogasse com ela. Talvez a solução fosse a alternância automática entre os personagens.
As animações são outro ponto problemático, Alex já teve seus aprimoramentos e no geral está muito bom, Danny está razoável, agora, Kim e algumas cenas como a comemoração de vitória da Copa do Mundo estão muito abaixo do que sabemos serem capazes os animadores da EA.
Após três anos jogando a Jornada, não sei se desejo uma quarta temporada. A ideia de colocar o jogador para decidir é ótima, mas as decisões tem pouquíssima influência, afinal, há uma história a ser contada. Minha sensação é de que não nos é dado controle suficiente dessa história e os principais pontos são decididos pelos desenvolvedores, não por nós.
 
 
FIFA 19 está disponível para PS4, XOne e PC.
 
* Essa análise foi escrita a quatro mãos por Renato Sevegnani e Bruno Assis. *