A Travessia: a tênue linha de um sonho – Crítica

O que esperar de um filme “verídico” que tem como sinopse uma travessia entre as torres gêmeas que já nem existem mais?  Pensei logo de cara num saudosismo/patriotismo americano. Que bom que me enganei. A Travessia (direção de Robert Zemeckis) é um filme intenso e encantador. Uma mensagem de “vá atrás de seus sonhos, por mais que sejam difíceis de se realizar”.

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Philippe Petit (Joseph Gordon Levitt) começa narrando sua história, do alto da Estátua da Liberdade em Nova York. Já percebi ali o grande potencial imagético desse filme, com muitas cenas feitas do alto, belíssimas por sinal. Ele começa falando sobre a sua origem, na cidade de Paris. Fascinado pelo circo, conta que aos seis anos de idade viu, pela primeira vez, artistas circenses caminhando numa corda, no alto de um picadeiro, chamando a atenção e fazendo a plateia vibrar com a travessia.

Achei muito boa essa passagem logo no começo do filme. Me faz pensar em como certas coisas conseguem nos encantar de primeira, sabe aquela sensação de que você ama alguma coisa, que conheceu na infância e levou pra toda a vida? Está aí um exemplo disso!

A Paris dos anos 1970 é mostrada de uma forma muito encantadora. Os efeitos utilizados na recriação da cidade nesse período são fascinates. Philippe é mostrado fazendo sua arte de rua, com técnicas de mágica bem executada. Aos poucos vamos conhecendo melhor sua intensa personalidade, vendo a sua obsessão por mágica, arte circense e sua habilidade em andar em cima da corda.

Philippe conta como conheceu seu mentor, Papa Rudy (Ben Kingsley) um senhor dono de circo, que lhe ensinaria todos os segredos de manobras ousadas circenses e também fatores técnicos como, por exemplo, prender com segurança a corda nos suportes de ruas e árvores.

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Aos poucos a história se desenvolve, mostrando a expectativa de Philippe com relação à corda, e como ficou fascinado com o World Trade Center, um cartão postal muito maior em altura que a sua referência natal, a Torre Eifel. Vamos acompanhando como o seu sonho vai se caminha para se tornar realidade, sua ida aos Estados Unidos para conhecer as torres pessoalmente e começar a bolar plano para a travessia. Ele conhece pessoas que o auxiliam na execução do plano, os chamados “cúmplices”, pessoas totalmente diferentes de sua personalidade, o que torna a história bem equilibrada e objetiva, teria um fotógrafo, uma música, um corretor de seguros de vida e até mesmo um lojista.

Fiquei bem impressionado com as atitudes de Philippe para tornar a performance, o seu sonho, possível. O que ele teve que fazer para conseguir se infiltrar no World Trade Center, sua paciência em ficar estudando a rotina do local, conhecendo detalhes como até que andar iria cada elevador e tudo o mais. Nesse processo, ele se revelou uma pessoa forte e ansiosa ao mesmo tempo, com seu sonho em mente e seu medo do fracasso. Vemos o apoio e a devoção total de seus cúmplices na realização do plano.

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É muito bonito ver isso, aparentemente não ganhariam nada em troca, mas um simples “muito obrigado”. Philippe na maioria das vezes parecia um louco obcecado/agressivo, que passaria por cima de tudo e de todos para realizar sua travessia, chega a gerar um pouco de antipatia até, mas dá pra entender o seu lado humano lidando com os problemas.

Gosto muito do ator, Joseph Gordon-Levitt, quem não se lembra dele ainda criança, o pequeno Tommy, na série 3rd Rock From the Sun? ou o Cameron do filme “Dez Coisas que eu Odeio em Você”, irmão na ficção do falecido Heather Ledger? Sempre achei legal ver os atores da sua idade ganhando destaque em filmes, uma trajetória que vai se formando. Joseph está intenso nesse filme, seu sotaque francês é bem convincente, lembra muito o verdadeiro Philippe Petit. Fiquei curioso para conhecê-lo, e encontrei este vídeo do TED, no qual podemos o vê-lo falando desse seu sonho, que deu origem ao filme.

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Trailer: