Análise: The Outer Worlds

As séries Fallout e Mass Effect estão no hall dos melhores e mais famosos games de RPG das últimas gerações. Em seus últimos jogos, todavia, Bethesda e Bioware, as desenvolvedoras dos jogos da franquias citadas, trocaram a qualidade por quantidade – se dedicaram a criar títulos com gráficos mais detalhados, um vasto arsenal de itens, mas deixaram de lado aquilo que tinham de melhor – uma boa e imersiva história, com personagens cativantes e missões que podem ser concluídas de várias maneiras diferentes.

The Other Worlds veio para resgatar esses elementos negligenciados e trazê-los à luz em uma nova roupagem. Ele foi criado pela Obsidian, empresa famosa por desenvolver RPGs com grandes histórias, com destaque para Star Wars Knights of the Old Republic II: The Sith Lords, Neverwinter Nights 2, Pillars of Eternity II: Deadfire e é claro, Fallout: New Vegas.

Este último trouxe grandes novidades para a série Fallout, como um sistema de disfarces, o que lhe permite se vestir como um membro das facções rivais, para enganar NPCs, e dar comandos específicos aos seus companheiros, que são aqueles personagens que lutam ao seu lado durante sua jornada. Além disso, sua trama possui e missões com temas mais adultos e sanguinolentos.

O Futuro do Capitalismo

A história do game se passa em um futuro alternativo que começou a divergir de nossa realidade a partir de 1901, quando o presidente dos EUA William McKinley não é assassinado por Leon Czolgosz na Exposição Pan-Americana. Consequentemente, Theodore Roosevelt nunca o sucedeu, permitindo que grandes organizações de negócios dominassem a sociedade no futuro, no qual megacorporações começaram a colonizar e a terraformar planetas alienígenas.

Originalmente destinado aos confins da galáxia, uma nave colonizadora se desvia de seu trajeto, ficando abandonada à beira do espaço. Você encarna um dos colonos a bordo, acordando de um sono criogênico apenas para descobrir que os demais passageiros ainda estão em hibernação. A partir daí, você inicia uma jornada em direção a um planeta habitável nas proximidades e acaba de deparando com a verdadeira natureza das corporações.

The Other Worlds herdou muito daquilo que foi criado para New Vegas e foi um pouco além. A começar por sua trama que aborda temas mais adulto e complexos quase sempre envolvendo elementos como política e economia.

Sua jornada pode ser encarada tanto uma crítica ao capitalismo quanto como uma distopia na qual você é peça chave das grandes corporações para dominar o mundo, tudo depende de suas escolhas que, aliás, não serão poucas. Logo se você não tem interesse algum por esses assuntos, talvez esse jogo não seja para você.

Seja como for, a história é imersiva e cativante, porém, a maioria das missões giram em torno de uma mesmíssima coisa, empresas e suas disputas. Esse elemento difere The Outer Worlds de outros jogos de mundo aberto, que geralmente apresentam side quests com temas diferentes, fazendo com que você se esqueça da missão principal, o que , na maior parte do tempo, não ocorre aqui.

A insistência em fazer com que tudo gire em torno dessa abordagem pode tornar a trama um pouco densa a longo prazo , dificultando maratonas, principalmente para aqueles que desejam também fazer as sides quests, que proporcionarão dezenas horas adicionais a sua aventura.

Uma Beleza Sideral

Outra diferença do novo título da Obsidian com relação aos games desta geração, está em seu cenário, que é pouco detalhado, sem exagerar na quantidade de elementos presentes, porém com gráficos de alta qualidade. Logo o jogo tem uma boa performance tanto em consoles quanto PCs detentores de um hardware inferior.

Além disso, ele possui um level design bem enxuto, contendo mapas mais compactos e diretos, em outras palavras, cada centímetro do jogo é muito bem aproveitado. No entanto, ainda há muito espaço para exploração, mas sem provocar aquele sentimento tédio e frustração provocados pelo vazio de alguns games de mundo aberto.

A Roupa Faz o Homem

Nem tudo, no entanto, é mera simplicidade. Afinal de contas, estamos nos referindo a criadora de alguns dos melhores RPGs já desenvolvidos e como foi mencionado, The Other Worlds não apenas herdou muito desses jogos como também aprimorou algumas de suas mecânicas.

A começar pelo sistema de disfarces presente em New Vegas. Agora muitos dos NPCs reagem ao modo como seu personagem decidiu se vestir (capacete e armadura). Se você estiver trajando roupas típicas de um saqueador, por exemplo, poderá ser confundido com um deles pelas pessoas a sua volta, que irão reagir de maneira diversa, geralmente de maneira extrema, pedindo por clemência ou atacando o personagem.

Obviamente, o jogo não possui V.A.T.S, que provavelmente deve ser em elemento patenteado de Fallout, mas temos uma mecânica semelhante, a TTD (Tactical Time Dilation). Ela permite que durante os combates você temporariamente desacelere o tempo facilitando ser bem sucedido em atingir pontos críticos dos inimigos.

Outro diferencial com relação as batalhas são os Talentos e Defeitos, elementos que trazem um pouco mais de realismo ao game. Como os próprios nomes já devem ter deixado claro, se tratam de efeitos positivos ou negativos.

Os Talentos funcionam de um modo muito simples, a cada dois níveis você pode escolher uma vantagem, que lhe fornecem bônus a suas habilidades, atributos ou em alguma de suas ações.

Os Defeitos, no entanto, funcionam de uma maneira um pouco mais complexa. Eles são adquiridos durante jogatina e surgem de modo involuntário, ou seja, você não é capaz de escolher qual deles deseja para seu personagem.

Por exemplo, após uma luta mortal contra um grupo de robôs, você pode começar a sofrer do Defeito Robofobia – sofrendo -1 de Destreza, Percepção e Temperamento quando está próximo de robôs.

De qualquer maneira, seu personagem não é obrigado a ter qualquer desvantagem, se trata de algo opcional, porém você provavelmente irá querer ter um ou mais deles, pois cada Defeito ganho te dá direito a uma Vantagem adicional, ou seja, pense muito bem antes de recusá-los.

Por fim, não podemos terminar essa análise sem falar dos Companheiros. Da mesma maneira que outros RPGs de mundo aberto, seus acompanhantes não são apenas meros reforços em meio as batalhas. Para começar, mesmo sem o uso de mods, você ter sempre até dois deles ao seu lado, além disso lhe beneficiam com bônus a seus atributos e tem seus próprios golpes especiais. Sua influência vai mais além do que o campo de batalha, também se metem suas conversas com outros NPCs, discutem suas tomadas de decisão e até mesmo conversam entre si, mesmo que você não esteja prestando atenção ou mesmo esteja presente.

Menos Loot, Mais História

The Outer Worlds é prova de que não é preciso de mapas enormes, cenários detalhados ou uma grande variedade de equipamentos para se fazer um bom RPG. Ainda sim, mecânicas que aprofundam sua relação com o ambiente, como Defeitos e Companheiros espontâneos, aumentam a imersão dos jogadores e são sempre bem-vindas.

The Outer Worlds já está disponível para PC e Xbox One através do Game Pass e para PlayStation 4 somente via compra.

Manoel Siqueira

é formado História, Filosofia e cursa Pós no Uso de Jogos e Brincadeiras em Sala de Aula. Também é redator, podcaster e editor no site http://meialua.net @meialuafsoco.