Road 96 | Análise

Road 96 é o novo game do estúdio independente francês, DigixArt. O estúdio se propõe a levar jogador a uma aventura narrativa única e em constante evolução, com temas extremamente atuais o jogo decide falar abertamente de política e outros assuntos considerados tabus para os videogames. O game foi desenvolvido com a liderança do veterano da indústria, Yoan Fanise (Valiant Hearts, Memories Retold). Em junho deste ano (2021), no Steam Next Fest, a demo de Road 96 recebeu mais de 50 mil downloads e avaliações positivas da imprensa.

ENREDO

Road 96 se passa no país fictício de Petria, no ano 1996. O jogador assume o avatar de um dos milhares de jovens que estão tentando cruzar a fronteira para sair do país, o que é proibido pelo governo totalitário liderado pelo presidente Tyrak. Durante o jogo fica muito claro que em Petria os direitos civis e humanos são violados pelo governo e suas forças armadas constantemente e a imprensa é completamente enviesada a favor do governo.

Toda a história do jogo se passará entre 1° de junho até 9 de setembro de 1996, um dia importantíssimo para Petria por dois motivos: Nesta data acontecerão as eleições para presidente, a disputa está entre o atual mandante Tyrak e a candidata Florres, que faz parte da oposição ao governo vigente, e carrega, supostamente, bandeiras ideológicas opostas. O segundo motivo desta data ser importante é que em 1986, 10 anos antes dos acontecimentos do game, uma revolta teria acontecido naquele país, também por questões políticas, na época um grupo de manifestantes de oposição ao governo Tyrak teria explodido uma bomba e diversas pessoas acabaram mortas. Em 1996, assim como em 1986, em Petria o clima de polarização é extremamente perigoso.

Este cenário político e estas eleições serão o fio condutor do game, enquanto o jogador acompanha a jornada de diversos jovens tentando atravessar a fronteira, e encontrando no caminho, diversos NPC’s, cada um com sua motivação e história a ser desenvolvida, desde uma “jornalista” que produz fake news a favor do governo até uma dupla de motoqueiros fora-da-lei. Resta saber se estes NPC’s vão conseguir despertar interesse no jogador através do desenvolvimento de suas narrativas, que por vezes são bem interessantes, e outras vezes monótonas e extremamente previsíveis.

GRÁFICOS E TRILHA SONORA

Com gráficos cartunizados e um estilo que lembra os jogos da Telltale (The Walking Dead, Wolf Amoung us), e Life is Strange, Road 96 sabe lidar com suas limitações e utiliza muito bem da iluminação para compor cenas e ambientes muito bonitos apesar de não ser um jogo “pesado” de se rodar, estamos falando afinal de um jogo indie que precisa rodar no Nintendo Switch.

A trilha sonora é um dos pontos onde o jogo brilha, com diversas mixtapes (fitas cassete) que você pode encontrar ou receber dos NPC’s através do jogo, você encontrará uma trilha sonora extremamente gostosa de ouvir, com um clima de filme alternativo e que aparece em momentos chaves do jogo. A lista das músicas está disponível no Spotify.

JOGABILIDADE

O sistema do jogo é bem simples e já conhecido dos games com foco em narrativa, é um semi point-and-clik onde você pode andar livremente e usa o mouse ou o analógico para interagir com objetos, falas e personagens. Apesar da jogabilidade simples, o jogo se arrisca, e falha, quando tenta incorporar mini-games desnecessários em cada encontro com NPC, é como se a desenvolvedora quisesse deixar game mais longo ou inserir um pouco de ação com perseguições de carro com péssimos controles e mini puzzles sem muita personalidade, estes poderiam, deveriam, ter sido deixados de lado para não quebrar o ritmo da narrativa e não confundir o gameplay, um jogo com foco na história não precisa der um mini game de perseguição de policial, ele precisa ter uma boa história, e só isso ja é suficiente, os jogos da Telltale e diversos “walking simulators” como Firewatch estão aí para provar isso.

CONCLUINDO A JORNADA…

Road 96 é um jogo interessante, que explora de forma original a mistura de game procedural com foco em narrativa, isto ele faz bem, mas ainda assim é possível se decepcionar com a falsa sensação de liberdade que o jogo passa. O game te avisa constantemente que as suas escolhas vão ter impactos, mas em todos os capítulos que joguei, não encontrei esses impactos, a não ser na reta final do jogo, quando você precisa atravessar a fronteira de fato, neste momento sim, as escolhas levam para caminhos diferentes e consequências diferentes.

Outro caso que irá frustrar jogadores mais dedicados ao roleplay é não poder solucionar certos mistérios do jogo antes do momento em que o jogo decidir que eles devem ser solucionados, em uma situação específica, um NPC estava escondendo um artefato que as autoridades procuravam e um cartaz dizia que ofereciam uma recompensa para quem o entrega-lo. Apenas para testar o jogo, fui até um orelhão, digitei o número do “disc-denúncia” e apesar de conseguir ligar para o local correto, a opção de avisar que eu desvendei o personagem que carregava o artefato que as autoridades procuravam ainda não estava disponível, simplesmente porque o jogo não queria que eu fizesse isso naquele momento, este é só um exemplo de diversas vezes que sua liberdade é polida no jogo.

Ainda assim, o jogo conseguiu me divertir e me questionar em diversos momentos, tem uma trilha sonora bacana, visual legal e alguns personagens marcantes, com momentos marcantes também, vale a pena conferir pra quem gosta deste estilo de game.

Road 96 está disponível para PC e Nintendo Switch, totalmente traduzido em PT/BR.

Esta análise foi produzida através de uma cópia da versão Beta para PC.