Review: God Eater 3

Quando os primeiros jogos da série Monster Hunter foram lançados, nos anos 2000, apesar de praticamente fundarem um novo subgênero, os mesmos vieram acompanhados de muitos elementos que incomodavam grande parte dos jogadores como sua complexidade, falta de tutoriais e história rasa. Esse incômodo foi tamanho a ponto da franquia só começar a realmente fazer sucesso no Ocidente nas duas últimas gerações com Monster Hunter 4 Ultimate, Monster Hunter Generations e principalmente recentemente, com Monster Hunter World.

Nesse meio tempo, acompanhando a fórmula de sucesso da monstruosidade da Capcom, várias novas séries surgiram, dentre as principais podemos destacar Toukiden e God Eater. Ambas também se baseando na caça de criaturas gigantes e no uso das partes de seu corpo para a criação de novas armas e armaduras.

Em Monster Hunter World, no entanto, a Capcom melhorou a trama de seu jogo e o deixou mais acessível, explicando os pormenores de cada uma de suas mecânicas. Isso fez com o que o titulo alcançasse o topo como o game mais vendido em toda história da empresa.

A partir daí, competir com Monster se tornou uma tarefa extremamente árdua, para não dizer injusta, para seus concorrentes. Seria a Bandai Namco, através de God Eater 3, capaz de superar a Capcom? Ou ainda, poderia esse jogo de alguma maneira, inovar o subgênero?

Aliás, para aqueles que nunca tiveram contato com série, se trata de RPGs de ação ao estilo Monster Like, um dos herdeiros de Monster Hunter, desenvolvido pela Marvelous’ First Studio. Mecanicamente, seu objetivo é unir esforços com outros três personagens, que podem ser controlados tanto pelo computador quanto outros jogadores, para derrubarem grandes monstros, através de um combate em terceira pessoa.

A Origem dos Comedores de Deuses

God Eater apresenta a história de um conflito entre a raça humana e uma forma de vida biologicamente superior. Células que agem de forma independente e que conseguem decompor tudo no que tocam, invadiram a Terra e libertaram cinzas venenosas, que agora cobrem um mundo moribundo.

Muitos anos se passaram desde a última batalha, ocorrida em God Eater 2. A terra não é mais um local em que os humanos possam viver. Os Arigamis estão ficando cada vez mais agressivos ao redor do mundo e os únicos que poderão salvar a humanidade serão os novos tipos de God Eater, equipados com uma nova versão de armas, chamada de God Arc, que se alimentam das células de Arigami implantadas em seus usuários. E como se isso não fosse o suficiente, agora algo está acontecendo com os God Eater e o jogador terá que entrar em missões para investigar e até mesmo interferir, caso necessário. Viajando ao redor do globo para o bem da raça humana.

Ao contrário de Monster Hunter, God Eater sempre se destacou pela sua trama. Não que sua história seja profunda ou tenha ótimas interpretações, mas a relação entres o personagens é mostrada de uma tal maneira, que você não consegue deixar de se importar com cada um deles.

Deixando claro que, você pode começar a jogar a partir de God Eater 3 sem se preocupar não entender a história, pois esse novo game consegue apresentar seu mundo de maneira eficaz, mesmo aqueles nunca tiveram contato com o mesmo. Se você, no entanto, se interessou pela história de God Eater, mas não tem tempo ou paciência para jogar os títulos anteriores, saiba que o primeiro game recebeu uma adaptação para anime em 2015, que conta com um total de 13 episódios e podem ser assistidos legal e gratuitamente no site Crunchyroll.

Aragamis Refinados

Os gráficos não se tornaram realistas, continuam seguindo um estilo Anime, porém o que vemos é algo muito mais refinados e cheio de efeitos, logo superiores aos jogos anteriores da franquia, principalmente na versão de PC.

Nesta plataforma, temos acesso ao V-Sync, FXAA, qualidades de sombra, mapa e pós processamento, sendo os dois últimos efeitos inéditos na série até então. Lembrando que você pode deixar todas as configurações gráficas em Alto (infelizmente não temos a opção Ultra), caso tenha uma placa de vídeo Geforce GTX 1080.

Caçando ao som de J-Punk

Outro grande destaque do jogo é sua trilha sonora, que é composta de inspiradoras e empolgantes músicas, sendo a maioria delas em J-Rock e algumas com uma pitada de punk, como seu tema de abertura Stereo Future da banda BiSH, que é responsável por compor canções para Animes de sucesso como Black Clover, Heybot! e Real Girl.

Vantagens e Desvantagens da Familiaridade

God Eater 3 é o primeiro título da série parcialmente localizado para o português, o jogo possui interface e legendas traduzidas para nossa língua nativa. Apesar de, infelizmente, não termos dublagem em português, temos a possibilidade de escolher entre inglês e japonês.

Enquanto as configurações de idioma aproximam o jogo da nossa realidade, não podemos dizer o mesmo dos sistema de criação de personagem. Não importa como você construa o seu protagonista, o quão parecido contigo tente fazê-lo, ele sempre parecerá uma versão andrógina ou mesmo, feminina do seu eu, o que é algo no mínimo diferente. Afinal de contas, quem nunca teve essa curiosidade?

A Customização de personagem não é o único problema do título, qualquer joystick acoplado ao PC só funciona quando ligado antes de inicialização do game. Isso é um problema típico de jogos menores e indies de baixo orçamento. A princípio pode parecer algo insignificante, mas quando a pilha ou bateria do seu controle se esgota é quando você percebe o quão grave ele é. Mesmo após trocar sua bateria por uma carregada, não é possível reconectar e voltar a jogatina a não ser que você reinicie o jogo. O resultado é a quebra do ritmo, um teste de paciência e perda de valiosos minutos de diversão.

Um Aragami chamado Online

Além do modo single-player, no qual você pode jogar acompanhado de até 3 personagens controlados pelo computador, temos também um modo multiplayer. Esse modo, todavia, peca por possuir um sistema de busca simplificado por demais, no pior sentido da palavra. Simplesmente é terrível de encontrar outros jogadores no modo multiplayer, pois não há como buscar pela caça de um determinado monstro ou missões específicas, o que torna quase impossível achar jogadores que que estejam no mesmo ponto da história ou compartilhem os mesmos objetivos que você.

Esse é, sem sombra de dúvida, o pior defeito do game, ainda mais agora quando é possível formar Raides, grupos de até 8 jogadores, no Modo Assault. Esse tipo de atividade aumentam as recompensas ganhas e seu rank online. Aliás, a possibilidade de jogar simultaneamente acompanhado de mais de 4 jogadores é algo realmente inovador e inédito em jogos desse estilo até então.

Apesar de encontrar parceiros de jogatina online ser algo problemático, muitos dos antigos problemas foram resolvidos como o fim da câmera travada que, em alguns casos, impedia enxergar certas partes do cenário. O jogo também não possui o DRM Denuvo, como seu antecessor, logo não há o risco de quaisquer problemas de performance, travamento ou de conexão durante partidas online.

Rápido e Fácil

As batalhas do jogo continuam sendo emocionantes, ainda mais agora que foram adicionados ao arsenal dois novos tipos de arma, a Lâmina Mordedora e Lua Pesada.

A primeira se assemelha muito a arna Dual Blades da série Monster Hunter. De qualquer maneira, se tratam de duas lâminas que permitem executar golpes velozes a curta distância, enquanto a segunda arma é um machado lunar de duas mãos, cujo certos combos realizados pelo jogador provocam o crescimento da arma até o ponto de torná-la um gigantesco machado de batalha.

O problema é que apesar de ter ampliado seu arsenal e ter mantido seu combate com uma movimentação extremamente fluida, jogo continua com uma dificuldade inicial extremamente baixa e essa cresce pouco no desenrolar da história. Essa jornada pouco desafiadora pode desencorajar os fãs mais experientes do estilo e fazer com que os mesmo desistam de se aventurar nesse mundo pós-apocalíptico.

Erguendo-se em um Mercado Desolado

God Eater 3 dificilmente se tornará um jogo memorável, porém sua história empolgante, baixa dificuldade e a possibilidade de concluir rapidamente a maioria das missões, faz do título uma excelente porta de entrada para aqueles que nunca tiveram contato com a série ou subgênero.

Além disso, essa não é a versão final do jogo. A Bandai Namco já deixou claro, mesmo antes de seu lançamento no Japão, que God Eater 3 será atualizado com o tempo, que receberá updates similares a DLCs com conteúdos que poderão aumentar significativamente a experiência dos jkogadores. Dentre os updates teremos conteúdos adicionais de história, novos personagens, modos multiplayer, mapas para o modo assault, acessórios, cabelos e roupas para customização.

God Eater 3 já está disponível para PC e PS4.

Manoel Siqueira

é formado História, Filosofia e cursa Pós no Uso de Jogos e Brincadeiras em Sala de Aula. Também é redator, podcaster e editor no site http://meialua.net @meialuafsoco.