Review: Assassin’s Creed Odyssey

Confesso que não tenho sido um grande fã da série Assassin’s Creed, principalmente nos últimos anos, quando sua desenvolvedora, Ubisoft, fez dos títulos de suas franquias algo anual. Por mais que exista um grande esforço por parte dos desenvolvedores, quando estamos falando sobre qualquer outro jogo que não seja e-sports, é muito difícil desenvolver inovações significativas em tão pouco tempo.
Assassin’s Creed Odyssey, no entanto, conseguiu ser uma exceção a essa maldição que assombrou a Ubisoft nessas duas últimas gerações.
 

Uma nova Odisséia

 
O jogo se passa em 431 a.C, quatrocentos anos antes dos acontecimentos de Assassin’s Creed Origins e reconta de maneira fantasiosa a história secreta da Guerra do Peloponeso, a luta entre as cidade-estados da Grécia clássica. No game, o jogador encarna um mercenário, que poderá escolher lutar tanto pela Liga de Delos, liderada por Atenas quanto pela Liga do Peloponeso, comandada por Esparta.
A trama conta com vários personagens históricos, com destaque para o filósofo Sócrates, o historiador Heródoto, o pai da medicina Hipócrates e o dramaturgo Aristófanes.

Esses grandes nomes, na maioria da vezes, compõe as missões principais, mas há missões secundárias, que contam  várias pequenas histórias envolvendo cidadãos gregos. Essas empreitadas raramente duram mais do que 15 minutos ou 20 minutos, o que favorece os jogadores mais velhos e também os causais, que não tem tanto tempo para se dedicar ao jogo, mas podem completar suas quests durante uma única partida.
Como  é comum na série, também há uma narrativa paralela que se passa nos dias atuais, no qual, mais uma vez, você controla Layla Hassan, personagem introduzida em Origins. Essa sem dúvida é a parte mais desinteressante do game, pois ao contrário do que ocorria com Desmond nos primeiros jogos da série, não há nada de instigante ou revelador na narrativa dessa personagem. Para piorar a situação, somos obrigados a lidar com ela em momentos decisivos na trama de Odyssey, o que acaba quebrando o ritmo da jogatina e a imersão.
Isso tudo nos levar a questionar se os elementos relacionados ao Animus e ao presente ainda são relevantes para a série ou se a partir de agora a mesma poderia seguir sem eles.
 

Épico também no visual

 
Graficamente, ele está muito semelhante ao Origins, porém não podemos nos esquecer que o cenário de seu antecessor é todo composto por somente deserto e ruínas. Enquanto Odyssey, por outro lado, tem uma fauna e flora muito variada, além de um grande número de cidades.
Em outras palavras, construir cenários com vários elementos é muito mais complicado e é aí que o jogo brilha visualmente, porque mesmo tendo que processar tudo isso, o jogo tem uma performance superior aos títulos anteriores.

Em contraposição, há um grande número de longos loadings (carregamentos). Para piorar a situação, há momentos da jogatina em que eles surgem um após o outro, aparentando que o jogo quer testar sua paciência.
 

This is Sparta!

 
A primeira vista, as mecânicas do jogo parecem bastante clichê e similares ao Origins. As habilidades do personagem, por exemplo, são organizadas em três árvores de skills, recurso usado por muitos RPGs nas últimas gerações. Mas não se engane, pois o modo de usá-las (através dos gatilhos do joystick) faz com que, na prática, torne combinações entre elas bem mais complexas, com um maior número de possibilidades do que aquilo que nos é geralmente apresentado. Além disso, esse sistema permite usar qualquer de seus movimentos especiais rapidamente.
Outra grande mudança com relação ao seu antecessor foi a implementação de um sistema de  tomadas de decisão. Durante a realização de suas missões em alguns momentos chave, você será obrigado a optar por uma entre duas ou mais opções e sua escolha, independente de qual for ela, terá grande influência sobre o seu destino e mudará o desenrolar da narrativa. Na maioria das vezes, todavia, isso só é realmente percebido a médio e longo prazo, ou seja,  terão impacto horas depois do ocorrido.

Sua primeira grande escolha é em relação ao gênero do personagem. Como em Assassin’s Creed Syndicate você pode jogar com um dos dois protagonistas, os irmãos Alexios e Kassadra. A presença de uma protagonista feminina que pode ser controlada do começo ao fim  jogo, aumenta a representatividade do gênero na série, além das possibilidades durante o desenrolar da história.
Como passou a ser comum em grandes jogos de mundo aberto, Odyssey é composto por um mapa imenso, porém pela primeira na série, você tem opção de abordá-lo de um modo diferente. Nativamente, a partir de agora, as localidades apontadas no mapa não são mais tão claras, logo é preciso se atentar bastante as orientações dadas durante as conversas com NPCs e mesmo assim, você precisará explorar, explorar e explorar. Isso faz com que em suas andanças você descubra, mesmo involuntariamente, novos locais, missões e tesouros. Este elemento parece ter sofrido influência de The Legend of Zelda: Breath of the Wild, que o primeiro jogo que se destacou ao usar esse recurso.
 

Longe de ser uma tragédia grega

 
Por fim, além dos númerosos e demorados loadings, o game possui alguns outros pequenos inconvenientes como o sistema de upgrade dos equipamentos.
De maneira semelhante ao Origins, é possível melhorar cada um de seus equipamentos, deixando seus níveis equivalentes ao do seu personagem. O problema é que quanto maior a distância entre o nível de sua arma e  do protagonista, mais dinheiro e itens serão gastos para atualizá-la. O custo chega ser tão exorbitante, que para manter seus itens relevantes é preciso “grindar”, ou seja, ficar matando soldados, animais e roubando itens unicamente para adquirir novos recursos.
Penso que, com relação ao upgrade dos equipamentos, deveria existir a opção de subir apenas um nível de cada vez, o que faria que o custo dessa atividade fosse menor. Além do que, esse custo parece corroborar com as microtransações que, diferente de outros jogos Triple A pagos, não são apenas estéticas.

Por sorte, a Ubisoft parece ter ouvido as reclamações dos jogadores e em uma das últimas atualizações, o custo  pago pelo aprimoramento de armas e armaduras foi diminuído, mas ainda preciso “grindar” um pouco para mantê-los no mesmo nível do seu personagem.
 

Pondo fim à maldição

 
Assassin’s Creed Odyssey é o feliz responsável pelo  fim tradição da maldição da Ubisoft e a prova de que a empresa pode sim fazer de suas franquias algo anual sem abrir da qualidade e principalmente, da inovação. Seu novo Assassin’s Creed trouxe tudo aquilo que seus jogos anteriores tinham de melhor e conseguiu avançar alguns passos, não se focando apenas em gráficos e pesquisa histórica, mas trazendo um sistema de tomada de decisão e permitindo que o jogador possa facilmente executar os movimentos especiais do personagem.
Apesar disso, penso que a desenvolvedora ainda precisa repensar quando e com que frequência deve colocar suas cinematics, pois isso faz com que  jogo sofra com inúmeros longos loadings, o que, muitas vezes, interrompe toda a diversão. Além disso, é preciso reformular o sistema de custos e microtransações de modo que este fique mais balanceado.

De qualquer maneira, recomendo fortemente Assassin’s Creed Odyssey não apenas àqueles que apreciaram o jogo anterior, mas também a todos que gostam de bons RPGs de mundo aberto e tem fascinação pela filosofia e história da Grécia antiga.

Manoel Siqueira

é formado História, Filosofia e cursa Pós no Uso de Jogos e Brincadeiras em Sala de Aula. Também é redator, podcaster e editor no site http://meialua.net @meialuafsoco.