Análise | Aliens Fireteam Elite – Forjado no ácido

Quando o estúdio novato Cold Iron se juntou ao já conhecido Focus para criar um novo jogo para a franquia Aliens, confesso que fiquei meio reticente com o que poderia sair dali, ainda mais depois de ser anunciado como shooter online. Parte dessa desconfiança vem ainda do trauma causado por Colonial Marines (não, ainda não superei), ultimo jogo de “ação” da franquia.

Depois dos primeiros vídeos, confesso que houve um misto de alívio com indiferença, uma vez nada ali parecia especial: era um clone do recente World War Z, com skin de Aliens… Como é bom as vezes estar enganado!

Ficar bonito é o primeiro passo.

Fireteam Elite é, de uma forma muito simplificada, uma mistura de conceitos, jogos e idéias atiradas num caldeirão de baba ácida: a jogabilidade é 70% copiada de Gears of War, os conceitos básicos são fundamentados em Left 4 Dead e similares e ainda tem espaço para tentar alguma inventividade no processo.

Assim sendo, você cria o seu Colonial Marine dentro de algumas opções de visual e embarca na Endeavor, uma nave-quartel onde centenas de CM viajam pela galáxia, atuando onde for necessário.

Diferente dos shooters de multidão, como os já citados Left 4 Dead e World War Z, aqui tem história, muita história, e uma primeira partida 100% linear: São 4 Campanhas, dividas em 3 fases cada, sendo cada uma focada em um tipo de ambiente e um conjunto de inimigos e um modo horda que se abre quando zera o jogo, o que leva em média 6 a 8 horas se for direto, sem fazer os 100%.

Falar é fácil…

Sem entrar no terreno dos spoilers, o game se passa 20 anos depois dos filmes, onde enfrentar Xenomorfos já é lugar comum para os Marines. Quando uma nave emite um pedido de socorro, sua equipe aborda a mesma, já sabendo que as criaturas tomaram controle do ambiente, e nisso uma coisa vai levando a outra até a derradeira missão final.

A história é muito boa e bem trabalhada, utilizando muito dos elementos do universo Aliens, inclusive dos recente Prometeus e Covenant. Há itens colecionáveis espalhados em todos os cenários que ampliam ainda mais a história, mas a mesma tem um ritmo diferente dos filmes, mais dinâmica, prática e focada na ação, além do fato de não ser muito explicativa, já que ela subentende que o jogador já conheça o universo.

A jogabilidade tem um misto dos looter shooters de classe com a ação simples e pura. Mecanicamente, os controles respondem muito bem e utilizam uma configuração relativamente intuitiva para quem já joga shooters de terceira pessoa. São 4 classes que voce pode mudar a qualquer momento entre uma missão ou outra, cada uma com seus armamentos, habilidades e melhorias.

Michael Bay faz uma ponta.

As classes não dividem experiência, então para abrir novas armas e habilidades, precisa subir de nível com cada uma, o que pode ser um processo relativamente cansativo. Terminar a campanha no modo Casual usando uma única classe leva até mais ou menos o nível 4.

Toda missão conta com 3 pessoas no time, onde cada um pode utilizar a classe que quiser, mas é bom ter classes mistas para cobrir todas as demandas das missões. Caso não tenha amigos pra jogar online, os androides Alpha e Beta lhe acompanham como Artilheiros.

Há habilidades e itens como granadas, que recarregam com o tempo, e itens como torretas e armadilhas que podem ser compradas com moeda do jogo ou encontradas em báus. Há também baús para encher munição, kit de vida e recolher peças, armas e cosméticos, mais raros e escondidos nos cenários.

Xeno aranha, Xeno aranha…

O conceito é bem simples, onde praticamente se anda do ponto a ao b derrotando inimigos e apertando botões, non stop. Toda interação com o cenário em si é lenta por design, pois é projetada para que um jogador cubra o outro enquanto as ações são tomadas: assim, enquanto um jogador utiliza uma ferramenta, se cura ou abre uma porta, os demais contem a onda constante de inimigos na retaguarda.

Vira e mexe tem os pontos de tensão, já conhecidos, onde abrir uma porta lentíssima toca um alarme estridente e joga dezenas de inimigos na tela ao mesmo tempo. esses momentos são mais constantes que o normal, mas são eles que fazem a graça do jogo: bacana ver o radar louco cheio de pontos e os Xeno correndo as dezenas pelos tetos e paredes.

Há diferentes níveis de dificuldade, que melhoram os loots e bonus nos níveis mais altos, mas reduzem as possibilidades, com menos itens de cura, fogo amigo,  inimigos mais agressivos e resistentes e munição mais escassa, coisa que já acontece no casual.

Quer referência?

Os inimigos são relativamente caprichados, diversificados e bem conceituados, mesmo os que foram criados para o jogo. Quem curte os filmes vai ver um certo capricho nas dezenas de Xenodogs correndo, nos grandes Caçadores e vai se identificar com os Cuspidores, Furtivos e outros Xenos. Inclusive, a cada capítulo novo os inimigos e conceitos dos cenários mudam, dando um ar diferente. O segundo capítulo, por exemplo, poderia facilmente fazer parte de um Gears of War, deixandos os Xenos padrão de lado por um momento.

A parte visual é bem produzida com cenários bem bonitos e iluminação bacanuda, mas as vezes fica clean demais, deixando de lado a ambientação escura, suja e opressiva dos filmes em prol de algo mais moderno e acessível. Ainda que haja uns jumpscares no caminho, é quase impossível se sentir com medo ou perdido.

A dublagem é, junto do texto, a melhor parte de tudo, com excelentes dubladores dando a imersão necessária pra se sentir um Marine dentro do caos e levar a história nas costas, principalmente considerando que seu personagem é mudo. Mesmo assim, á muitos diálogos a serem ouvidos na Endeavor e conforme se progride na história, o tempo todo a comunicação constante, com destaque para a excelente Herrera e a sintética Esther.

Não falta rolê aleatório!

A trilha sonora é claramente inspirada, tendo os filmes como base, mas ajustando tudo para dar o ritmo certo ao jogo, copiando sem fazer igual. Os sons já manjados da metralhadora do sensor de movimento também batem ponto aqui.

Infelizmente, nem tudo são flores. Boa parte das críticas podem ser dadas para os mesmos pontos onde quase todo jogo com selinho da Focus peca: Acabamento. Os disparos e impacto dos tiros, as explosões, espirros de sangue e alguns elementos visuais são bem pobres, se destacando negativamente no cenário bem caprichado. Os personagens que conversam com você não movem a boca nos diálogos, o que seria passável se não fossem modelos 3D gigantes ocupando a maior parte da tela de frente pra você.

Da parte do audio, algumas armas tem o som muito abafado e as musicas nem sempre casam com a ação, as vezes dando clima de suspense num tiroteio e vice versa, fora eventuais cortes onde ela some por completo do nada e volta do nada. Em determinado momento, tive um bug onde todos os sons, menos as músicas, ficaram picotados e lentos, inclusive os efeitos e as vozes, coisa que só resolveu fechando e abrindo o jogo novamente.

Não recomendamos uso de botas novas…

A IA é muito inconstante e, jogando sozinho, é inviável terminar algumas missões em dificuldades superiores. Varias vezes, no final da ultima missão de cada capitulo, a IA ignorou meu pedido de resgate, isso quando não fiquei apanhando de um Xeno e eles ficaram me olhando. O jeito foi jogar no casual, e mesmo assim passar alguns perrengues pra fechar a campanha.

No geral, Fireteam Elite é uma surpresa muito positiva, competente e divertida, tratando o material base com respeito, misturando conceitos para uma experiência mais completa do que o básico e funcionando de forma admirável mesmo no PS4 Fat.

Ainda sobra espaço para um romance!

Há espaço para melhorias e correções, considerando a build testada ser a 1.0, mas do jeito que está pode divertir qualquer fã de Alien ou de jogo de ação, principalmente considerando o precinho camarada. Vale a pena experimentar se houver a chance, nem que seja pela história.

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