Persona 3: Reload | Análise

Persona 3: Reload é o mais recente lançamento da franquia atualmente mais bem sucedida da Atlus. Contudo, como um relançamento do jogo original lançado para Playstation 2, “Persona 3: Reload” chega criando grandes expectativas devido ao sucesso e ao carinho que a comunidade tem pelo jogo original. Dessa forma, como uma versão melhorada do que poderíamos chamar de fusão das versões para Playstation 2 e PSP, Persona 3: Reload se mantém digno dos fãs.

Apresentação

Persona é provavelmente a franquia mais bem sucedida da Atlus atualmente. Desenvolvido pelo Persona Team, Persona 3: Reload (P3: Reload, para encurtar), retoma o plot da versão de maior sucesso da franquia e dá a ela uma roupagem mais atual, com uma influência muito grande de Persona 5.

Persona, um spin off da série Shin Megami Tensei, traz um plot bem direto: o mundo vai ser destruído e um jovem, capaz de manifestar o poder oculto do coração, recebe a missão de impedir essa destruição. O que varia de jogo para jogo é o tema abordado, que muda o palco em que se desenrolam os eventos.

Persona 3: Reload traz o conceito da Hora Obscura (localização não oficial de Dark Hour): todos os dias, quando o relógio aponta meia noite, algumas pessoas conseguem experienciar um período de uma hora extra. Durante essa hora obscura, as pessoas comuns se transformam em caixões e não vivenciam a Hora Obscura ou Dark Hour.

Para quem vem de Persona 5, Persona 3: Reload parecerá familiar. É inegável a influência visual de Persona 5 em P3: Reload. Isso de formal alguma é algo ruim. Persona 5 é o resultado de tudo que foi aprendido ao longo dos anos pela equipe. Dessa forma, a apresentação de P3: Reload é quase impecável. Os elementos de interface são belíssimos, acessíveis e de fácil entendimento. Além da excelência visual, a navegação pelos menus é intuitiva e sem qualquer complicação.

Quem vem de Persona 3 FES provavelmente vai estranhar um pouco o tom mais leve de P3: Reload. As animações da versão original foram substituídas, hora por belíssimas animações em CGI, hora por animações 2D totalmente novas. O traço e o estilo de apresentação do jogo original eram mais sombrios, no entanto, o tom mais leve não é um prejuízo. Fazendo uma comparação com outra franquia: a situação é como a de Resident Evil 4 original e o lançamento atual do mesmo título. P3: Reload não existe para substituir P3FES, no entanto é uma pena que o último não esteja disponível atualmente.

P3: Reload tem um tom mais leve, mas não deixa de abordar os temas mais pesados. Um exemplo é a animação de invocação do persona, realizado com um tiro na cabeça, elemento que é considerado polêmico, segundo a opinião de alguns veículos de imprensa mais sensíveis.

A ideia do tiro na cabeça está ligada a eliminar o “eu fraco” para fazer surgir o “eu forte”. Assim, os personagens usam uma arma (chamada Evocator) que faz uso de projéteis especiais e atiram contra si mesmos, fazendo assim surgir seu persona.

O conteúdo original de Persona 3 está todo lá, retratado de forma mais receptiva e com belíssimos efeitos visuais. 

Gameplay

Para quem não jogou nenhum persona, a ideia de criar relações sociais, engajar em romances etc. pode sugerir erroneamente a impressão de um Dating Sim. Entretanto, o conteúdo de Persona é muito mais complexo e robusto.

A começar pelas relações pessoais, elas são seu recurso mais importante, pois permitem a evocação de personas mais poderosos. Além disso, há também características pessoais a serem desenvolvidas. O jogador deve saber organizar seu tempo para aprimorar seu nível acadêmico, sua coragem e seu charme. Esses elementos são imprescindíveis para liberar algumas relações sociais. Dessa forma, o jogador lida constantemente com um enorme puzzle de gerenciamento de recursos.

Além disso, o sistema de batalhas também envolve puzzles. Cada inimigo tem uma fraqueza e cabe ao jogador descobrir qual é.

Cada vez que o jogador acerta o ponto fraco de um inimigo (shadows), ele ganha um turno extra, isso funciona para cada inimigo. Ou seja, se surgirem 4 inimigos e o jogador acertar o ponto fraco de cada um deles ele terá 4 turnos extras. 

Para cada turno extra, há uma chance de surgir o Shuffle Time, momento no qual o jogador deverá escolher entre os itens propostos. Os itens possíveis são: persona card, que dá um persona novo ou experiência para personas do arcana oferecido se o jogador já o possuir, dinheiro, experiência extra, recuperar hp e skill card (um item que contém o poder de uma habilidade e pode ser usado durante a batalha). Há também a possibilidade de conseguir um Arcana boost, que gera grandes benefícios ao jogador durante o shuffle. 

O Arcana boost é consequência da coleta de cartas de Arcana que podem surgir em um shuffle. 

Alguns elementos que foram importados de Persona 5 estão relacionados à “qualidade de vida” do jogo. Não é necessário lembrar qual a fraqueza dos inimigos em todas as lutas. Uma vez que você descobriu a fraqueza há um atalho que entrega ao jogador a melhor ação para dada situação. Isso facilita bem as coisas e traz acessibilidade e velocidade às partidas.

Tartarus, a torre onde o loop de gameplay acontece, está com um visual incrível, mas a exploração é trivial. Nada é diferente do que tem sido apresentado até agora, exceto no que diz respeito aos baús. Há tipos diferentes de baús abertos e níveis distintos para os baús trancados. Esse último tipo de baú adiciona um novo tipo de gerenciamento de recurso, pois os mesmos itens (Twilight Fragments) que abrem o baú podem ser utilizados para recuperar o HP (pontos de vida, que também podem ser usados como recurso para usar uma habilidade física do persona) e o SP (pontos exclusivos para usar habilidades não físicas do persona) de seu personagem.

P3: Reload é um jogo que treina a habilidade de gerenciamento de recursos do player, que por sua vez é o elemento chave de gameplay.

O game permite ao jogador adquirir novos personas de 2 formas diferentes: a primeira é literalmente sorte (shuffle time), a segunda é por meio de fusões. Quem vem de Persona 5 sentirá a diferença, uma vez que ele trazia a mecânica de negociações, comum em títulos Shin Megami Tensei. Sem a mecânica de negociações o jogador fica à mercê, na maioria das vezes, das possíveis fusões. Isso requer mais gerenciamento de recursos. No caso aqui, a cada fusão você praticamente perde 2 personas que podem ser necessários no futuro. Assim, em acordo com a necessidade, o jogador deverá comprar os personas usados na fusão, agora registrados num compendium, para usá-los. Isso custa ienes, um recurso que não é tão abundante quanto parece. O dinheiro padrão do jogo pode ser conseguido vendendo itens, trabalhando, ou durante o shuffle time.

Quanto mais fortes seus personas no compendium mais caros eles ficam, e o jogo apresentará situações em que o jogador vai querer deixar os personas mais fortes.

Todas essas mecânicas juntas (e há outras não mencionadas aqui) dão muita profundidade ao gameplay, e embora o jogador não esteja ativamente combatendo inimigos, ele está a todo momento tomando decisões. Traçando um paralelo, em jogos de luta, há momentos em que o jogador ataca, há momentos em que ele defende. Quando está defendendo ele simplesmente espera o jogador que está atacando encerrar o turno dele ou uma oportunidade para pegar seu turno de volta, mas se ele está apanhando ele não pode fazer nada além de esperar. No entanto Killer Instinct quebra esse padrão dando ao jogador a possibilidade de revidar a qualquer momento, dizemos assim que o jogador está o tempo inteiro jogando o jogo. No que diz respeito aos jogos de RPG de turno, persona é como Killer Instinct: ele coloca o jogador o tempo inteiro numa posição de tomar decisões que vão afetá-lo de alguma maneira. Seja na hora de decidir sacrificar Hp ou Sp durante a batalha, ou após a batalha, se prefere receber dinheiro ou recuperar hp, ou aumentar a experiência recebida na luta.

Nesse sentido, P3: Reload é ainda mais interessante que o original, pois traz novos elementos de gameplay que adicionam novidades ao jogo e melhora aquilo que emprestou de Persona 5.

Um exemplo é a habilidade especial chamada Theurgia. A habilidade é ativada em acordo com as emoções dos personagens. Essas emoções atingem seu pico quando o personagem usa sua habilidade, que por sua vez está ligada à sua personalidade.

Isso gera outro processo de decisão. Citando um exemplo, Yukari possui uma Therugia que causa um dano pesado ao inimigo, mas sua habilidade é acumulada quando ela cura seus companheiros. Assim, em um momento crucial, o jogador deverá decidir entre encher a barra de Theurgia de Yukari ou atacar o inimigo.

Esse processo melhora a fórmula de habilidades especiais de Persona 5, que aconteciam de maneira aleatória.

Trilha sonora e Musical

As músicas de Persona 3: Reload são tecnicamente impecáveis. Começando pela variedade, cada ambiente tem uma música específica, o que naturalmente não deve ser novidade para quem acompanha Persona. No entanto, a qualidade das novas versões das músicas continuam impecáveis, mantendo a qualidade esperada.

Não é difícil se pegar cantarolando enquanto está em Paulownia Mall.

Conclusão

Persona 3: Reload é um jogo que em momento algum se esqueceu dos fãs de Persona 3 FES, mas ao mesmo tempo é um jogo novo, cheio de vida própria e que não pretende apagar o que foi construído no passado. O carinho pelo título original é exibido a partir da intro quando o jogo sugere Burn My Dread, tema original de Persona 3. 

P3: Reload certamente é um jogo recomendado, não importa se você é fã da franquia ou se está chegando agora. Se gosta de RPG de turno, esse é um jogo que você deve conferir.

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