Malévola (Maleficent) – Crítica

Aproveitando que o telecine estava liberado, assisti Malévola.

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Malévola (2014),  dirigido por Robert Stromberg (Piratas do Caribe e Labirinto do Fauno), é o primeiro passo da Disney na meta de recontar suas estórias mais clássicas na forma de filmes, ao invés das animações tradicionais. O filme conta a história da Bela Adormecida (Elle Fanning) pelo ponto de vista da vilã Malévola (Angelina Jolie),  mais poderosa das fadas e guardiã do povo mágico dos Moore.

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O roteiro, escrito por Linda Woolverton (Rei Leão e A Bela e a Fera), tira os espectadores da zona de conforto logo no começo, mostrando que não vai contar a mesma fábula do desenho ao mostrar uma Malévola jovem,  boa e feliz,  que vai se estruturando como vilã com o passar do tempo, pelas dificuldades e sofrimentos que a vida lhe apresenta.

Nessa introdução, já aproveitando para começar a falar da parte visual do filme, meu olho treinado para mitologias já percebeu uma série de semelhanças visuais e comportamentais entre a Malévola deste longa e a Fada Morgana, presente em tantas lendas Arthurianas, principalmente na versão abordada pelo livro Brumas de Avalon. A protagonista lida com um jovem servo do palácio dos homens, assemelhado a um jovem Arthur (pelo menos durante esse início), e mostra ser uma personagem muito mais complexa do que o imaginado para um conto de fadas tradicional, onde cada integrante é preto ou branco,  herói ou vilão.

O filme todo se baseia em um interessante jogo de cores e signos visuais, por exemplo o mundo dos Moores,que é todo colorido e harmonioso, vai vai ganhando tons pretos, roxos e azuis mais escuros conforme Malévola vai se tornando mais amarga e reclusa, até o ponto culminante no qual ela assume o trono e o tronco verde de uma árvore se torna negro como se ela tivesse sido queimada.

Chamo atenção aqui para outro signo mitológico, Malévola atinge o ápice de seu domínio após perder algo extremamente valioso, como Odin teve de fazer entregando seu olho. Tal referência fica ainda mais óbvia quando ela se senta no trono, com um cetro numa mão e um corvo negro na outra, uma representação clássica do deus nórdico em gravuras e estátuas.

Por ser uma releitura, temos uma mescla de passagens e cenas já conhecidas, mas algumas novas. A cena do batizado, que para mim foi sempre uma metáfora para a cisão entre o cristianismo e o paganismo europeu, uma vez que todos são convidados, inclusive as representantes “aceitáveis” dos Moores, mas Malévola, maior representante da cultura mágica e antiga, é deixada de lado propositadamente, é extremamente próxima daquela mostrada no desenho. A diferença está num diálogo entre o rei e a rainha das fadas, assim como numa ligeira alteração na forma na qual a maldição é feita, dando um ar menos “malvado” para a protagonista.

Eu poderia divagar muito mais sobre signos mitológicos presente nesse filme, assim como elaborações metafóricas, algo muito relevante para os contos de fadas, mas acabaria dando algum spoiler do filme ou transformaria esse review num artigo de cinco mil palavras.

Queria só deixar uma pequena crítica, para fechar esse trecho: Acho que o diretor abusou um pouco dos conceitos artísticos usados no Senhor dos Anéis, existe mais semelhança do que eu gostaria de ter visto, como o “Balrog de Madeira” ou as ruínas onde Malévola se esconde, que parecem demais com o lugar onde Gandalf encontra o Necromante.

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Do resto, achei o filme legal e com o tempo certo, sem se tornar maçante ou enrolado. Uma pena a música estar bem medíocre, não chamando a atenção, o que é algo pouco visto nos longas e animações da Disney.

Algo que realmente me desagradou, foram as cenas de lutas, sejam individuais ou dos exércitos. Todos os personagens pareciam não saber o que estavam fazendo ali, além de esquecer completamente de seus poderes e habilidades. Achei completamente descartáveis e perdi completamente o interesse nelas quando um dragão gigante não foi capaz de vencer meia dúzia de soldados interpretados por figurantes que nem tiveram seus rostos mostrados, só para registrar a real importância deles no filme.

Não considero meu tempo perdido e acho que até acabaria vendo de novo se eu tivesse uma filhinha. Vale a pena conferir se quiserem um filme bem light e sem grandes pretensões.

Deixo aqui o trailer e comentem com suas próprias opiniões sobre Malévola.

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