Bitch – Carol Teixeira – Review

Bitch – Review por Larissa Vertamatti

Como já disse meu marido @gvertamatti ao receber o livro: LASCIVO.

Melhor definição não há para o Bitch de Carol Teixeira (@carolteixeira_) lançado recentemente pela Editora Record.

“Deleuze disse certa vez que, se você não captar o ponto de demência, o pequeno grão de loucura de uma pessoa, você não pode amá-la de verdade”.

Bitch_Carol_Teixeira_Record_Review_Larissa_Vertamatti_Meia_Lua

Um livro falando de um livro…Bitch é assim, pura metalinguagem! A narração é construída entre relatos da escritora C. sobre a trajetória da escrita do livro e a ficção através da história de Princess, uma garota que cresceu em uma família matriarcal, liberal, que está mergulhada no meio artístico e ensaia sua emersão triunfal nesse mundo fascinante e muitas vezes pouco compreendido. Ela se prepara para sua primeira exposição, Possibilidades do Eu, trabalho que desperta seu interesse por radicalizar seus sentimentos e não apenas testar, mas transpor seus limites. “(…) vertigem não é o medo de cair, mas a atração pelo abismo do qual a gente se defende aterrorizado” e é essa vertigem que faz Princess se jogar. Ela se encontra cada vez mais perto do seu limite com o passar da história e sem pudores ou escrúpulos toma o sexo como base para sua experiência e vai fundo (literalmente! hehe) para descobrir seu “ponto de demência” que muito sabiamente C. define como o erotismo.

Quem ajuda Princess em sua trajetória de autodescobrimento, mesmo sem ter conhecimento disso, é Henrique, um cara que ela conheceu e despertou sentimentos contraditórios. Princess acredita que o que sente por ele seja amor, mas, com o passar do tempo, ela se vê entediada e enjoada das mesmas atitudes, formas de agir e de se relacionar sexualmente com Henrique e acredita que essa relação caiu no lugar comum fazendo com que ela busque mais veementemente “aquela zona turva na qual a racionalidade não chega, em que o corpo reage pior si, sem mediação da razão, dionisíaco, entregue – raso porque humano”. E é justamente durante essa incessante busca pelo “mais” que a ficção se mistura com a realidade e o leitor se pergunta se a fantasia não é real ou se o contrário também não é verdadeiro. Princess encontra C. e esse é o ápice do livro por nos fazer questionar o que é concreto e o que é imaginário levando-nos assim ao ponto de demência junto com Princess, não sabendo bem onde estamos e nem o que está acontecendo.

Belíssimo artifício literário que nos confunde e nos faz mesclar e interagir com a história de uma maneira ímpar. É sentir na pele esse ponto sem precisar ter feito absolutamente nada! Parabéns à autora! Fiquei me perguntando sobre o quão fácil é alcançá-lo e quantas inúmeras vezes já não nos deparamos com ele ao longo de nossas vidas sem ao menos perceber.

Voltando para a história…tudo o que Princess vivenciou e experimentou nessa jornada até superar seus limites serviu de material e foi transformado em arte para sua mais significativa e perturbadora exposição: Bitch. “No fim o artista nunca faz o que tinha se proposto no início, e é isso que torna a arte tão especial. Tem algo ali que sai do nosso controle” e, com isso, o propósito foi superado pela obra. Entenda “obra” como quiser: a exposição de Princess ou o livro de Carol Teixeira.

E sim, C., sua criatividade literária ajudou a obra e a perversão da realidade não passava de versões 🙂

Bitch_Carol_Teixeira_Record_Review_Larissa_Vertamatti_Meia_Lua

Enfim, Bitch é um livro intrigante e profundo (ok, lá vai dupla penetração…ops, interpretação! rs) que nos leva a questionar o quanto as pessoas estão dispostas a ir para verem até onde aguentam e me fez pensar que há diversos pontos de demência além do erotismo.

Acredito que vivemos diversos deles com mais frequência do que imaginamos. Entretanto, como C. deixou claro que entre a metafísica e a putaria ela fica sempre com a putaria, não poderia deixar de citar que há muitas cenas quentes ao longo do livro e logo no início da narração o leitor já se depara com uma descrição para lá de surreal utilizando um objeto banal, mas que é empregado para um fim bastante incomum. (Sua cozinha nunca mais será a mesma…hahaha. Ok, chega de spoilers). Com certeza esse e outros relatos minimamente detalhados povoarão o imaginário do leitor deixando marcas em seu “HD mental” como citado em uma das passagens pela autora.

Seja pelo lado putaria ou pelo lado metafísico, Bitch é uma obra que vale a pena ler não apenas uma, mas algumas vezes apreciando todas suas reentrâncias e reticências…