Análise | Star Wars: A Ascensão Skywalker (Sem Spoilers)

O review abaixo não contém nenhum spoiler ou informação que irá prejudicar a sua experiência com o filme

Em junho de 1999 eu estava na fila do cinema, para ter, com nove anos de idade, meu primeiro contato com a saga Star Wars e a história dos Skywalkers. Sem ainda saber que Anakin era Darth Vader ou ter visto a trilogia original, o universo que ali foi apresentado me encantou (sim eu sou daquelas pessoas que lembra com carinho desses filmes). Vocês imaginem qual foi a minha surpresa ao descobrir, que eu não precisava esperar nada para ter mais Star Wars, já existiam mais 3 filmes prontinhos e tudo que eu tinha que fazer era achar uma locadora que tivesse as cópias, assim eu fiz, e me apaixonei mais ainda, desde então acompanho nos cinemas todo lançamento de Star Wars (menos o filme do Han Solo, porque esse filme na minha mente não existe). 20 anos depois, a saga dos Skywalkers “termina” nas telonas, e eu novamente estava lá.

Em 2015, deu-se início a terceira trilogia de Star Wars, uma das franquias mais bem sucedidas da história do cinema. O aclamado diretor J.J. Abrams tomou para si a missão, de dar continuidade para história, um final para personagens que estão na cultura pop a mais de 40 anos e abrir espaço para novas narrativas. Filme a filme da nova trilogia, nós fomos nos despedindo desses personagens, e conhecendo novos. Neste último, não é diferente. Reencontros, despedidas, explicações e novas descobertas ao longo de uma aventura que dura por volta de duas horas e meia, que poderia facilmente ter durado um pouco mais, e inclusive iria fazer bem para o filme, mas, chegaremos lá em breve. 

O enredo do filme se propõe a fechar a saga dos Skywalker, porém, também fechar a saga da Rey, a nova protagonista que nos foi apresentada no início de “O Despertar da força” como uma nova Jedi, com um passado misterioso. Em toda nova trilogia a maior questão era descobrir quem eram os pais da personagem, esta revelação poderia ser um dos pontos mais decepcionantes do filme, porém, me surpreendeu de forma muito positiva a forma que os roteiristas resolveram revelar este mistério, escolhendo uma abordagem descentralizadora em relação ao restante dos mistérios de família da série, não posso me aprofundar muito para não spoilar, porem, ponto positivo aqui.

No outro lado do enredo, temos o vilão Kylo Ren, na minha humilde opinião o melhor vilão de toda saga Star Wars A construção deste personagem literalmente quebrado, feita desde o primeiro filme e aprimorada de maneira genial no segundo, tem o desfecho que o personagem merece, destaque para a atuação do Adam Driver, que vem se mostrando um excelente ator.

Falando em atuação, todos estão impecáveis e muito bem a vontade em seus papéis, além do elenco principal, alguns destaques poderiam ser feitos aqui, porém, novamente, spoilers… Um ponto que pode ser percebido é a falta da Leia na história, ela está presente, em momentos importantes, porém, é notável a falta que a Carrie Fisher fez no longa. Devido ao seu falecimento, a produção do filme teve que fazer um ‘malabarismo’ com cenas previamente gravadas, isso é um problema do filme, no entanto, não havia muito o que se fazer a respeito, recriar em CGI seria uma opção, porém, poderia ter ficado muito ruim, então estou ok com o jeito que foi feito.

O filme é belíssimo em termos de fotografia e a todas as trilhas clássicas estão lá, em relação a direção, o ritmo do filme poderia ser um pouco mais lento, senti falta de momentos para respirar ou digerir emoções. Este é um problema que eu reparei em toda nova trilogia, e neste filme o problema se agrava. São muitos momentos especiais e emocionantes, que logo após acontecerem, são cortados para dar seguimento a outro assunto em uma cena completamente diferente do contexto anterior, fazendo assim com que o espectador tenha que “engolir” a emoção para prestar atenção na próxima parte do enredo, isto também é um problema, o mais grave do filme na minha opinião.

Apesar de alguns problemas, o filme ainda é pra mim um dos melhores da saga, os fanservices estão na medida certa, são muitos, porém você ainda fica querendo mais, os desfechos e escolhas de roteiro eu considero acertados e o mais importante, o filme me emocionou e divertiu do início ao fim, ainda com espaço para surpresas e plot twists. O filme também não tem medo de se posicionar em relação a alguns temas relevantes e atuais, é possível ver em destaque um beijo entre duas mulheres em uma das cenas, isto é outro ponto positivo, desde o primeiro filme o protagonismo da Rey vem sendo tratado de forma correta, como quando no inicio da nova trilogia ela reclama do Finn segurando a sua mão para correr. 

Neste parágrafo, eu vou divagar um pouco, mas vem comigo… Com a democratização da internet e a popularização de redes sociais e ferramentas que deram voz a milhares de pessoas, é muito fácil hoje acharmos diversos criadores de conteúdo muito competentes em nos ensinar sobre os mecanismos do cinema, paleta de cores, edição, planos sequência, enquadramentos, ritmo de roteiro, jornada do herói etc. O público nerd/geek é muito bem informado e exigente. Isto é incrível, eu sou esse cara, que gosta de estudar como o cinema funciona, entretanto, neste caso, para este filme, eu escolhi me “desarmar” de todas estas ferramentas analíticas e só curtir o filme, só me divertir, emocionar e me despedir desses personagens… Eu sei isso é MUITO pessoal, muita gente não vai gostar das escolhas do roteiro, e aí, não tem como aproveitar a experiência como eu fiz, porém, toda essa análise foi muito pessoal, Star Wars pra todo fã, é muito pessoal, tem gente que está indo no cinema se despedir de uma jornada de mais de 40 anos, eu estou a 20 e ja parece uma eternidade, por isso, eu entendo o fã que fica extremamente frustrado, porém, ainda bem, eu não sou esse fã. Eu gostei. 

Eu acredito que era essa a intenção do J.J. Abrams e toda a equipe e elenco do filme, nos entregar uma grande despedida, divertida e emocionante de Star Wars, e eu acho que eles conseguiram. Obrigado e até mais Luke, Leia, Han e cia.