Análise: Monster Hunter Rise

Após anos de espera, finalmente temos a estreia do primeiro Monster Hunter exclusivo de Nintendo Switch. Lembrando, é claro, que apesar de, na prática, o Monster Hunter Generations Ultimate ser o primeiro jogo da série no híbrido da Nintendo, seu jogo base já havia sido lançado para 3DS, logo não se tratou de um game desenvolvido especialmente para o novo console.

Monster Hunter Rise é o mais novo título da franquia, mas será que ele é tão acessível quanto seu antecessor, Monster Hunter World, ou ele dará continuidade à sua tradição nos portáteis, sendo desafiador desde seu início? E quanto aos gráficos, será que o Nintendo Switch conseguirá entregar resolução, texturas e efeitos tão bons quanto os consoles da geração passada, Xbox One e PlayStation 4?

Aliás, o novo Monster Hunter é um game recheado de novidades, principalmente pequenas mudanças que o tornam algo único.

Para aqueles que nunca entraram em contato com nenhum jogo da série, Monster Hunter é um RPG de ação no qual seu principal objetivo é caçar, capturar ou repelir monstros, tudo depende do que é pedido em cada uma das missões. Para ter sucesso, no entanto, é essencial que seja realizada toda uma preparação prévia, que vai desde a construção de equipamentos, armas e armaduras, que seja efetivo contra sua presa, até a escolha dos itens e companheiros que serão levados na caça.

FRENESI EM KAMURA

A trama do novo Monster Hunter se passa na vila de Kamura, onde você encarna o mais novo caçador, recém-promovido pela Guilda. O anúncio é feito pelas adoráveis gêmeas, Hinoa e Minoto, que escoltam o
Caçador até o líder da vila, Fugen. Durante o percurso, no entanto, o Caçador avista um monstro desconhecido voando ao longe. O líder da vila parabeniza o Caçador, mas avisa que eles têm sido alertados sobre possíveis sinais do “The Rampage”, uma catástrofe de origem misteriosa ocorrida há cinquenta, na qual uma grande horda de monstros sob uma fúria frenética atacou a vila. Fugen alerta o caçador para que ele se prepare para o pior.

A História de Monster Hunter está longe de ser o ponto alto do game. A maioria dos jogos da série tratam de impedir algum mega evento apocalíptico que está para acontecer. O mérito desse novo Monster Hunter, porém, é o modo como essa trama é apresentada ao jogador.

Rise se baseia muito na cultura japonesa. Não que outros Monster Hunters já não fizessem isso, afinal de contas estamos falando de uma franquia que existe há décadas e conta com dezenas de títulos. O fato é que, nesse novo jogo, você sente essa forte presença nipônica tanto na história quanto no visual, incluindo nos novos monstros. Como é o caso do Bishaten que é inspirado no folclore nipônico, um youkai (criatura sobrenatural) chamado Tengu, uma espécie de goblin cujas lendas possuem traços tanto da religião budista quanto xintoísta.

À esquerda: o monstro Bishaten; À direita: O youkai Tengu.

A apresentação dos monstros também bebe bastante da cultura japonesa, ocorrendo através de uma cinematic diferenciada, uma mistura de filme antigo japonês em preto e branco com documentário do Animal Planet. O vídeo ainda tem direito a uma narração em forma de poesia cheia de rimas.

Esses elementos acrescentam muito a estética tanto visual quanto narrativa de Rise, o que torna sua trama interessante e divertida de se acompanhar, mesmo que seu conteúdo não traga nada de novo ou complexo.

USANDO TODO O POTENCIAL DO CONSOLE

Quando comparamos visualmente o Rise com o Generations Ultimate, último jogo da série lançado para Switch, e com jogos lançados para 3DS, percebemos uma grande evolução. Isso não é para menos, o novo Monster Hunter conta uma resolução de 1080p, 30fps estável quando se joga com o console no Dock (base) e texturas em HD.

Ele é, definitivamente, um dos jogos mais bonitos da série, só perdendo mesmo para o Monster Hunter World. Além de no World a Capcom ter optado por um visual realista, na versão de PC o jogo conta com resolução de 4K e roda a mais de 60fps.

CAÇANDO SEM BUROCRACIA

Ao contrário do que muitos imaginavam, o novo Monster Hunter do console da Nintendo é ainda mais acessível que o World. Essa receptividade não se restringe às mecânicas de batalha, uso e obtenção de itens, mas também ao level design.

O World, por exemplo, contava com mapas complexos, com até três camadas de profundidade. Mesmo com o auxílio de insetos que te indicavam o caminho, essa complexidade provocava confusão até nos jogadores mais experientes.

O sistema de batalhas também está mais fluido e emocionante. Temos que lembrar que antes dos dois últimos jogos da franquia, as lutas eram metódicas e cadenciadas, ou seja, muitas vezes ao se deparar com um novo Monstro era preciso conhecer seu moveset (golpes) para apenas posteriormente descobrir como prevê-los e evitá-los.

O Rise herda muita coisa do World e do Generations. Como no primeiro, usar itens e colher suprimentos é algo mecanicamente simples e rápido, inclusive podendo se fazer isso enquanto se está em movimento com um mero pressionar de botão. Enquanto, de maneira semelhante ao segundo, houve o retorno das Hunting Styles, renomeada agora simplesmente como Habilidade.

Quem joga com a arma Dual Blade (Lâmina Dupla), por exemplo, pode escolher uma opção dentre duas Sequências de Golpes (combos) e dois Modos Demoníacos (especiais) diferentes.

OS MELHORES AMIGOS DO CAÇADOR

Mas o grande destaque desse jogo são realmente os Wired Bugs (Cabinseto) e os Palamutes (Amicão).

Os Wired Bugs (Cabinseto) são pequenos insetos que tornam o caçador uma espécie de Homem-Aranha. Mais precisamente, esses insetos produzem uma teia ao serem arremessados, fazendo com que você possa se movimentar rapidamente, alcançar lugares altos, realizar ataques aéreos e manipular os monstros.

Sim, é isso mesmo, você não leu errado, em Rise é possível controlar Monstros, independente do seu poder e tamanho. Para executar essa proeza, é preciso se aproximar dessas criaturas quando as mesmas estiverem em um estado montável, para isso você pode usar ataques aéreos ou simplesmente usar uma “Aranha fantoche”. A partir de então, você pode usá-la para atacar, usando todos os movimentos do Monstro contra seus adversários ou simplesmente forçar sua “nova montaria” a se lançar de cabeça contra uma parede ou obstáculo, o que fará com que ela sofra um enorme dano. Seu uso, porém, é limitado a até 3 vezes seguidas, após isso demora um tempo para os insetos regenerarem.

Enquanto os Palamutes (Amicão) também são uma ótima maneira de se locomover rapidamente, alcançar lugares inacessíveis. O melhor de tudo, é que eles ajudam nas batalhas e da mesma maneira que o Palico (Amigato), podem ter seu equipamento e habilidades customizados pelo jogador.

Esses novos companheiros, ao servirem de montaria, deixam o jogo muito mais dinâmico e fluido, além de serem pets muito fofos. As armas e armaduras que podem ser construídas para eles são visualmente sensacionais, São de dar inveja a qualquer perfil de animal do instagram.

Por fim, temos a ausência de Charms (Amuletos) presentes nas últimas edições do game, que foi substituído pelo Petalar. Esse equipamento é uma pulseira que absorve o pólen Espiripássaros, um pássaro brilhante e colorido que o caçador encontra durante as missões, dando-lhe bônus no status de vida, stamina e defesa, mas somente até o final de uma missão.

Essas pulseiras também podem ser imbuídas de habilidades ou ainda trocadas por alguma outra. Cada Petalar dá ao jogador um conjunto de bônus de status diferentes.

No final das contas, essas pulseiras são muito mais versáteis, pois o caçador pode fundi-las com habilidades diferentes antes de cada missão adaptando com suas necessidades. Além disso, ela é menos custosa, pois tudo relacionado a ela pode ser pago com pontos que, ao contrário do dinheiro, é um tipo de moeda que você ganha em grande quantidade e rapidamente durante sua jornada.

A CAÇADA DOS SONHOS

Pelo número inicial de vendas, não seria um exagero concluir que este é um dos jogos favoritos dos fãs da série. E não é à toa que, apesar de não possuir os melhores gráficos, ele é um dos mais acessíveis e inovadores dentre os Monster Hunters.

É preciso deixar claro que Rise é mais um spin off da série Monster Hunter. Seguindo esse raciocínio, será que teremos Palamutes e “teia” nos próximos jogos da série?

Monster Hunter Rise já está disponível como um exclusivo temporário do Nintendo Switch e será lançado em algum momento de 2022 também para PC.

Manoel Siqueira

é formado História, Filosofia e cursa Pós no Uso de Jogos e Brincadeiras em Sala de Aula. Também é redator, podcaster e editor no site http://meialua.net @meialuafsoco.