Análise | Assassin’s Creed Valhalla

Desde que a Ubisoft prometeu deixar de lançar títulos anualmente para suas franquias, a qualidade de seus jogos melhorou muito e isso também refletiu em suas vendas.

O RPG em mundo aberto Assassin’s Creed Odyssey, por exemplo, vendeu quase o dobro de unidades nos primeiros meses de lançamento em comparação ao game anterior, Assassin’s Creed Origins.

Algo semelhante ocorreu o novo game da série, Assassin’s Creed Valhalla, ao menos nas primeiras semanas. Ele tem se mostrado um dos maiores sucessos da desenvolvedora, batendo o recorde de vendas na primeira semana de lançamento da série, se tornando o jogo da franquia AC (Assassin’s Creed) com o maior número de vendas durante esse período.

AC Valhalla foi mais vendido que antecessores, pelo menos, até o momento.

Valhalla, no entanto, sofreu alguns sérios contratempos durante o seu desenvolvimento como demissão de seu diretor criativo, Ashraf Ismail, após acusações de conduta inadequada.

Comparado com os últimos do jogos da série, o novo AC é o que trouxe mais mudanças e novas mecânicas. Todas essas novidades sem a visão de Ismail, que estava presente desde o início do projeto resultaram em consequências, algumas delas nada agradáveis aos fãs da franquia.

O Caminho para Valhalla

A trama do novo Assassin’s Creed Valhalla ocorre próximo ao final do século IX, durante as Invasões Vikings da Grã Bretanha. Você encarna Eivor, um(a) Viking que, em sua infância, presenciou o assassinato de seus pais por Kjotve, regente do pequeno reino de Agder, que inesperadamente ataca seu acampamento. Sem ter para onde ir, ele(a) é adotado por Styrbjorn Jarl (lorde) de Stavanger. Alguns anos mais tarde, ele e seu irmão adotivo se aliam em busca de vingança.

Da mesma maneira que no jogo anterior, Valhalla alterna entre uma história que se passa na antiguidade, quando controlamos Eivor e outra que se passa na atualidade, na qual jogamos com Layla. Para aqueles que não tiveram contato com Assassin’s Creed Odyssey, a personagem é uma ex-pesquisadora da Abstergo Industries, que através da tecnologia do Animus consegue reviver as memórias grandes personalidades do passado como Bayek (Assassin’s Creed: Origins), Alexios e Cassandra (Assassin’s Creed: Odyssey).

AC Valhalla é um dos jogos no qual Layla e o Animus tem menos tempo de palco.

Realmente, se você nunca jogou um dos títulos dessa série, pode parecer complicado, porém isso não é motivo para preocupações. Agora, mais do que nunca, os momentos em que temos que controlar a pesquisadora são raros e duram poucos minutos, o que facilita bastante a compreensão da história, mesmo para os novatos.

A narrativa de Valhalla, no entanto, não se limita a Eivor e Layla. Através das diversas atividades espalhadas pelas inúmeras cidades é possível aprender um pouco sobre a cultura nórdica. Entre elas temos Orlog (jogo de dados), Desafío de Bebidas, mas os grandes destaques são o Repente e a Incursão.

O Repente é uma atividade intelectual, uma espécie de batalha de rap na qual para vencer seus adversários é necessário escolher sempre o melhor verso, aquele com a melhor métrica (tamanho), rima e que esteja dentro do tema. Se você for vitorioso será recompensado com “pontos de carisma”. Isso te permitirá tanto ser intimidador quanto persuasivo durante determinadas partes da narrativa, quando você terá que tomar decisões que impactarão o desenrolar da missão em questão e até mesmo todo futuro da história.

Nas disputas de repente deve-se tentar sempre escolher a melhor opção.

Enquanto a Incursão é uma atividade física e brutal que consiste em, como o próprio termo sugere, matar, pilhar e saquear as maiores cidades da Britânia para adquirir suprimentos e matérias primas. Esses recursos serão usados desenvolver seu assentamento e aos poucos, transformá-lo em uma verdadeira cidade com direito a porto, comércio, criação de gado, plantações, entre outras coisas.

Esses recursos contribuirão para a construção da Sede dos Ocultos, por exemplo, que disponibilizará a Eivor novas missões e ao concluí-las ele será premiado com recompensas valiosíssima. Outro bom exemplo é o Viveiro de Aves e Estábulo, onde é possível adquirir novos pássaros e cavalos, além de adestrar suas montarias a um preço justo.

Entre floresta e Ruínas

Não há um abismo gráfico entre Valhalla e seus antecessores, porém ele é mais bonito e principalmente mais otimizado. Isso faz com que comparado ao Odyssey, tanto os consoles quanto o PC obtenham gráficos melhores usando menos a capacidade do hardware.

O cenário de Valhalla é realmente de tirar o fôlego.

Penso que isso ocorre principalmente pela ausência de muitos elementos no cenário, uma vez que o jogo é composto, em sua maior parte de cidades pequenas formadas de construções simples e ruínas do antigo império romano.

A Morte de uma Lenda

Além da campanha principal, outro ponto alto do game é seu sistema de batalha. Valhalla possui uma grande variedade de armas. Cada uma dotada de seu próprio conjunto de movimentos e combos distintos.

A combinação escudo e arma, por exemplo, permite que você bloqueie seus adversários e imediatamente contra-ataque, inclusive utilizando seu próprio escudo. Também é possível usar duas armas de ataque, uma em cada mão, sejam elas iguais ou diferentes, mas no quesito velocidade, nada se compara a usar duas facas, o arranjo mais rápido do jogo. Por fim, ainda há a opção de utilizar armas de duas mãos como machados e martelos. Essas são as armas que geram mais dano por golpe, porém são as mais lentas.

Há uma grande variedade de armas e combinações possíveis

Seja qual for a escolha do jogador, isso influenciará totalmente a dinâmica do combate porém há armas para todos os perfis de jogadores.

Complementando o sistema de batalha, a progressão dos equipamentos também foi alterada e também foi adicionada uma nova mecânica, as runas.

Aqueles que tiveram a oportunidade de jogar os últimos jogos da série A.C sabem que haviam armas e armaduras de várias qualidades (de comuns a míticas) espalhados pelo cenário. Algumas vezes, inclusive você era premiado com algo lendário ao derrotar um Boss.

Agora você raramente encontrará algo tão valioso ao derrotar os Chefes ou concluir um capítulo da história. Os itens ainda podem ser encontrados por todo o mundo, mas a maioria está em baús e exigirão inteligência e percepção aguçada para serem alcançados. Para dificultar ainda mais o seu progresso, quase todo o item encontrado será comum e para torná-lo mítico será preciso levá-lo ao ferreiro, investir muito tempo e matéria prima para que ele alcance um alto patamar. Lembrando que certas matérias primas só são encontradas nas áreas mais difíceis do jogo.

Como se isso não fosse o bastante, conjunto de equipamentos, como Draurg, não podem ser adquiridos normalmente durante a jogatina, apenas através de microtransações ou da obtenção de opalas, um minério muito raro, geralmente adquirido como recompensa das missões diárias fornecidas por Reda. As atividades fornecidas por esse personagem, aliás, são extremamente repetitivas sempre tendo como objetivo matar determinados inimigos ou resgatar reféns.

Em outras palavras, você passará a maior parte do jogo com um equipamento inicial “ruim” e quando finalmente conseguir melhorá-lo, dificilmente irá querer trocá-lo, mesmo algo que se adapte melhor ao seu perfil de jogatina, afinal de contas quase todos os itens que você encontra será de baixa qualidade. Então ter um bom gear é algo bastante complicado e trocá-lo é quase impensável.

O sistema de runas permite personalizar suas armas com o bonus que melhor se encaixe com a construção de seu personagem.

A estreia dos sistema de runas, todavia, foi algo positivo, pois de certa maneira compensa todo o trabalho para se conquistar um arsenal de qualidade. Esses sistema familiar para aqueles estão habituado a jogar RPGs de Ação. Ele consiste de pedras especiais que podem ser colocadas slots (espaços) de suas armas e armaduras, fornecem os mais variados bônus a Eivor quando utilizadas. No início, seus equipamentos terão apenas um desses espaços, mas a medida em que você aumenta qualidade desses itens, eles poderão ter até três deles.

Barbarizando as Missões

As mudanças, todavia, não se limitaram a progressão de armas e armaduras. As sidequests foram substituídas pelos eventos, missões de curtíssima duração, com histórias rasas, além de pouco recompensadoras, geralmente lhe premiando somente com XP e prata.

Os moradores sempre terão pedidos inusitados a fazer a Eivor através dos Eventos.

Uma vez que a campanha principal já dura mais de 50 horas, penso que não falta conteúdo no jogo. Logo esse eventos só servem mesmo para aqueles jogadores que , por algum motivo, achem necessário upar (aumentar seu nível) e farmar (adquirir itens) para seu personagem.

Rompendo com a sucessão de Jarls

Valhalla, sem dúvida alguma, é o AC com o melhor sistema de batalha e com os melhores gráficos de toda a série, além disso sua performance foi aprimorada, fazendo com que o jogo funcione com melhor desempenho em todas as plataformas.

A troca das Side Quests pelos Eventos, no entanto, nos impede de aproveitar melhor a rica história da Noruega e da Britânia. A dificuldade de se aprimorar equipamentos também é algo bastante frustrante.

Resumindo, o novo AC está longe de ser um jogo ruim, principalmente se você gosta da temática viking, mas seu brilho ainda é ofuscado pelo seu antecessor, Odyssey, onde tudo foi minuciosamente planejado e executado, o que talvez tenha sido fruto de um desenvolvimento menos conturbado.

Assassin’s Creed já está disponível para PC, PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One e Xbox Series.

Manoel Siqueira

é formado História, Filosofia e cursa Pós no Uso de Jogos e Brincadeiras em Sala de Aula. Também é redator, podcaster e editor no site http://meialua.net @meialuafsoco.