Análise | Mortal Shell, um “souls like” menos cruel?

 

                O subgênero souls like é bastante conhecido pela sua dificuldade e inimigos cruéis, geralmente acompanhados pela mecânica de perder os pontos de experiência acumulados caso você morra. E é nesse cenário que surge Mortal Shell, um jogo que tenta encontrar seu espaço e meio aos diversos títulos já estabelecidos e com uma aparente novidade que pode dar uma nova cara ao sub gênero, mas será que ele é capaz de ascender sobre os outros?

APRESENTAÇÃO

                Mortal Shell é um RPG de ação que se inspira em diversos títulos do subgênero souls like, possui legendas e menus localizados em pt-Br e desenvolvido pela Cold Symmetry.

                Aqui você é um ser imortal nomeado Foundling e trilha uma jornada em busca de seu propósito em Fallgrim, um mundo onde a humanidade, ou o que restou dela, é praticamente irreconhecível.

                Uma coisa que é rapidamente notada é a qualidade visual do jogo, com cenários e ambientes bem trabalhados e estruturados, uma grande conquista do jogo que rapidamente chama a atenção do jogador abrindo as portas da imersão. Pensando em outros jogos do mesmo subgênero, Mortal Shell não fica para trás é realmente um jogo com visual bem atrativo.

                Focado mais na narrativa do que no processo de contar a história, Mortal Shell não tem a pretensão de apresentar uma jornada linear em momento algum. Após um tutorial que lhe ensina as mecânicas básicas para sobreviver em seu mundo, Mortal Shell nos coloca em uma situação bem desconfortável de não saber para onde ir, levando a sério a própria proposta de encontrarmos nosso propósito sozinhos. A exploração compõe a maior parte do jogo, e é fundamental para quem deseja se aventurar nesse mundo.

                Em sua jornada o Foudling habitará carcaças de antigos “guerreiros”, cada um com sua história, que compõe os elementos da mitologia e que justificam o nome Mortal Shell.

                E como de costume em jogos souls like, cabe ao jogador encontrar os elementos da mitologia do jogo e descobrir por si só a “verdadeira história” do mundo de Mortal Shell

GAMEPLAY

                Fallgim, é um local fácil de se perder, a pesar do mapa não ser grande, se você não tiver um senso de direção apurado, e vai ficar um bom tempo andando em círculos enquanto não montar seu mapa mental do lugar. Os ambientes das dungeons são bem estruturados e proporcionam experiências bem diferentes de um para o outro.

                A quantidade e diversidade de inimigos (99,9% do que você vai encontrar) é boa bem como sua distribuição, que seguindo a caraterização das dungeons é tão temática que nos traz a sensação de estarmos mudando de mundo no lugar da sensação de lugares diferentes no mesmo mundo. Na exploração cabe incluir a forma como descobrimos o efeito dos itens que encontramos. Em Mortal Shell você só saberá para que um item serve após usá-lo, e alguns deles terão o efeito alterado conforme você ganha familiaridade com eles usando diversas vezes.

                Assim como qualquer souls like, Mortal Shell não pega leve com o jogador. E os inimigos iniciais que assustam no primeiro momento acabam se tornando um alegre reencontro conforme avançamos pelo jogo. Alguns inimigos tocam uma viola que lembra uma música de The Witcher, e várias vezes ouvir essa viola traz um alívio bem grande.

                Em geral o jogo possui duas habilidades básicas: solidificar e um parry, que em resumo são uma defesa impenetrável com cooldown e a habilidade de repelir ataques e contra atacar, respectivamente. A última gasta uma pequena porção de determinação, que é acumulada a cada golpe acertado. A determinação é utilizada também em golpes especiais. Essas mecânicas possibilitam uma aproximação bem estratégica no combate e é onde está a verdadeira personalidade do gameplay de Mortal Shell. A quantidade de golpes que seu personagem pode usar varia em acordo com a barra de vigor e o peso da arma. Além desses elementos o jogo possui uma mecânica de “última chance” que permite o jogador recuperar seu “corpo” uma única vez e retomar o combate.

                Cada carcaça que podemos encontrar possui características próprias que podem mudam bastante a forma como experenciamos o combate e em também a exploração.

                O jogo tem uma boa quantidade de habilidades. A passivas, características de cada uma das carcaças que encontramos na jornada, e outras ativas, do Foundling, que são liberadas conforme o jogo avança, mas as duas habilidades básicas (solidificar e parry), elas sozinhas, são mais que suficiente para garantir nossa sobrevivência. Isso nos faz pensar que talvez tenha faltado um pouco mais de elaboração quanto à necessidade/usabilidade das habilidades aprendidas no progresso do jogo.

                Em Mortal Shell o risco é bem recompensado, vale a pena encarar aquele certo desafio. A ideia de “alto risco, grande recompensa” é bem perceptível aqui em alguns momentos. São poucas as coisas nesse jogo que vem se um custo e essa é a forma de balanceamento utilizada nele, os custos de suas decisões.

                Aqui a evolução do jogador acontece com aprimoramento de equipamentos e armas, isso pode agilizar um pouco as coisas, pois você pode facilmente progredir no jogo esquivando de inimigos e coletando itens. Um prato cheio para quem gosta de um speed run.

TRILHA SONORA

                Assim como em qualquer outro jogo, a trilha sonora em Mortal Shell tem um papel muito importante. Aqui ela guia nossas emoções, nos deixando tensos e um pouco aterrorizados e desnorteados com a sensação de que temos inimigos por toda parte, nos traz alívio quando ouvimos o som da “viola” após uma dungeon, e nos mostra a situação bestial dos humanos restantes pelos rugidos e grunhidos emitidos por eles.

                Essa “bestificação” dos humanos facilita nosso trabalho de destruir tudo que existe na nossa frente de forma indiscriminada. E talvez nos dê um vislumbre de como um ser eterno capaz de transcender a humanidade nos vê.

                Os sons ambientes substituem qualquer música durante o jogo e nos mantém imersos, “seguindo o manual”.

CONCLUSÃO

                Mortal Shell é um souls like que nos primeiros momentos não tem nenhuma consideração pelo jogador, no bom sentido, mas acaba se tornando um pouco mais gentil quando descobrimos onde ele facilita as coisas. As duas mecânicas iniciais dadas ao jogador são mais do que suficiente para nossa sobrevivência os itens que encontramos são praticamente descartáveis (exceto os que dão experiência). O ponto negativo de sua trilha sonora está em sua pouca espacialidade, por assim dizer. Já que não conseguimos saber a posição de um inimigo somente ouvindo. Em contrapartida, essa pouca espacialidade é responsável pelos momentos de “terror” exatamente por não sabermos de onde vem a ameaça.

                Assim, Mortal Shell é um jogo divertido, desafiante e em alguns momentos aterrorizante. E se você é fã de um souls like vale a pena conferir, se não é (como eu) vale a pena conferir também, pois pode ser que você se divirta bastante (talvez tanto quanto eu me diverti).