Análise | Life Is Strange 2: Episódio 3: Wastelands

Já fazem quatro meses desde que vimos os irmãos Diaz pela última vez. Na ocasião, Sean e Daniel haviam encontrado, na casa dos avós maternos, toda paz e conforto que não tinham desde o trágico acidente que os colocou em rota de fuga em Seattle e deu início à jornada, ainda no primeiro episódio. Dormir em uma cama quente, ter comida na mesa todos os dias e fazer um novo amigo… Tudo muito bem, obrigado, até o destino intervir e colocá-los em fuga novamente, de volta à estrada. E após uma longa espera, é hora de retomar a jornada dos irmãos Diaz neste episódio 3 de Life Is Strange 2, finalmente lançado ontem (09) pela Dontnod e Square Enix.

Antes de começarmos a falar do episódio, entretanto, é preciso comentar sobre o tempo de espera no lançamento entre cada capítulo. Se no primeiro Life Is Strange e em Before The Storm, o período consistente de dois meses entre um episódio e outro parecia justo – suficiente para digerir os acontecimentos ocorridos em cada capítulo, ao mesmo tempo em que mantinha a expectativa sobre o próximo, parece que em Life Is Strange 2, o hiato não foi pensado desta forma. Com uma média de 3 ou 4 meses entre cada episódio, tem ficado cada vez mais difícil acompanhar a jornada de forma natural, ou seja, sem ter que jogar novamente (a recapitulação do episódio anterior no começo de um novo não é o suficiente). No meu caso em específico, diante da espera de quatro meses do segundo para este terceiro episódio, muita coisa só foi lembrada graças a um bug (atualmente já corrigido) ocorrido em Março, que apagou os arquivos de save de muita gente – e eu fui um dos desafortunados – , obrigando-me a jogar o segundo episódio novamente para ter acesso ao terceiro.

Deixando estas questões de lado, vamos ao episódio. Wastelands, ou “Desolação“, como foi nomeado oficialmente aqui, vem com algumas novidades de UI (User Interface) em decorrência do bug que ocorreu em Março e do fato que os episódios agora são vendidos individualmente. Para evitar que jogadores precisem passar por tudo de novo, cada episódio pode ser jogado sem precisar terminar o anterior (através de um save gerado no momento, com escolhas pré-definidas para cada situação). Também é possível pular cutscenes e interações já vistas antes com um botão.

Diferente do que se esperava, Wastelands não continua de onde o episódio anterior parou, mas começa com um flashback, três meses antes da jornada ter início, durante as férias de verão de Sean e Daniel. A sequência traz de volta a doce sensação de paz antes da tragédia que já conhecemos, e mostra um pouco mais da pacata vida dos nosso protagonistas. Brigar por motivos fúteis e fazer as pazes logo em seguida é uma das situações mais corriqueiras na vida de irmãos, principalmente na idade em que os Diaz se encontram, e é fácil ver como o jogo capta facilmente a nostalgia de quem tem ou já teve irmãos.

A lembrança de dias mais fáceis é rapidamente substituída pela realidade atual: a cama macia e a privacidade do próprio quarto logo dá lugar ao desconforto de uma tenda de acampamento dividida para dois. O tempo na estrada mostra suas marcas em Sean, claramente mais experiente, com o cabelo maior e mais dinheiro na carteira, enquanto acorda para mais um dia num acampamento no Condado de Humboldt, Califórnia, 2 meses após os acontecimentos em Beaver’s Creek (Oregon), no episódio anterior. Uma rápida olhada no mapa mostra que os irmãos continuam sua descida pela costa oeste norte-americana, rumo ao México, rumo à liberdade.

O terceiro episódio de Life Is Strange 2 mantém alguns dos mesmos conceitos que já vêm desenvolvendo desde o primeiro episódio, mas adiciona crescimento, responsabilidade e vida em comunidade à sua temática, uma vez que os irmãos Diaz agora vivem em um acampamento hippie e trabalham em uma plantação de maconha, juntando cada centavo do pagamento para bancar a viagem para o México.

Mecanicamente, pouca coisa mudou. No controle de Sean, o jogador continua a executar tarefas simples, ao mesmo tempo em que é livre para explorar e interagir com o ambiente e com as pessoas, criando relações ou não. Daniel vem crescendo rápido, e parece ter mais uma influência em sua vida além de Sean, cabendo a você, no papel de irmão mais velho, mudar isso, seja através da conversa, seja através das suas ações, que nunca deixaram de gerar consequências. O silêncio continua sendo uma opção de resposta, aqui mais do que antes, já que o tempo de escolha parece ter diminuído drasticamente desde o último episódio, então é bom estar sempre preparado para escolher a opção correta, sob o risco de ficar em silêncio – o que pode ou não ser algo ruim.

Ainda nas interações, é possível obter diferentes resultados, e até se envolver em romances com alguns dos personagens, algo semelhante ao que se vê em jogos como Mass Effect ou Dragon Age, neste quesito. Tudo isso faz parte do crescimento pessoal dos irmãos Diaz, à medida em que Sean descobre sua sexualidade e Daniel vai construindo sua personalidade e independência com base nas influências que percebe à sua volta. O crescimento aqui também se aplica aos poderes de Daniel, que só aumentam perigosamente com o passar do tempo.

No aspecto gráfico, há uma melhora considerável na animação dos personagens, e principalmente nas expressões faciais. O cenário não é tão impressionante quanto o anterior, pois não há mais neve para se deixar rastros, mas o visual continua belíssimo, com paisagens mais parecidas com as do primeiro episódio, uma vez se tratando de um ambiente de floresta. Talvez a repetição de cenário tenha se dado justamente para focar o poder da Unreal Engine 4 nas pessoas, partículas de água e outros detalhes mais importantes para a narrativa neste episódio.

Mas as melhorias estão presentes, alguns defeitos também permanecem; é o caso dos glitches de câmera e texturas já evidenciados no review do episódio anterior. No primeiro, há uma aparente dessincronização da câmera após alguma interação com o ambiente, focando-a em algum ponto aleatório na visão de Sean; já o segundo consiste em texturas de objetos ou personagens em segundo plano, que descarregam e voltam a carregar imediatamente, resultando em um efeito trêmulo, quase semelhante à de projetor antigo nesta textura em particular. Nada que realmente incomode, embora o glitch de textura possa tirar um pouco da imersão, ainda que momentaneamente.

Um outro aspecto digno de ser mencionado em Wastelands é que trata-se do episódio mais adulto de Life Is Strange até o momento, não só pela temática – que trata, principalmente de drogas (consumo e produção) – , mas por conter cenas que apresentam nudez parcial e, a depender das escolhas do jogador, sexo. Claro, nada disso é feito gratuitamente e tudo serve a um propósito maior e muito bem construído (o de mostrar o crescimento de Sean através de suas experiências), mas é bom deixar o aviso: apesar de termos uma criança como protagonista, Life Is Strange 2 não é um jogo para crianças, tendo recebido uma classificação indicativa para maiores de idade de acordo com os órgãos responsáveis nos EUA e Europa (17+ ESRB/18+ PEGI, respectivamente), e neste episódio vemos o porquê.

O ato final do episódio possui um ponto de virada previsível, mas que leva a momentos de pura tensão e um desfecho capaz de mudar tudo, deixando o jogador sem chão para o que está por vir. Se o episódio 1 serviu de introdução ao cenário, e o episódio 2 foi o momento de transição, é neste terceiro episódio que as coisas realmente começam a engrenar, tornando-o, sem dúvidas, o melhor episódio da temporada, levando-nos ao primeiro momento de incerteza de Life Is Strange 2. O que vai acontecer daqui para frente é um verdadeiro mistério, e teremos que viver com a expectativa pelos próximos três meses, até que o episódio 4 finalmente chegue em 22 de Agosto.

O Episódio 3 de Life Strange 2, Wastelands, já está disponível para PS4, Xbox One e PC (Steam), podendo ser comprado individualmente, sem necessidade de season pass.