Análise – Gotham Knights não é “mais um Batman” 

Introdução 

Batman é certamente um dos personagens mais queridos da DC, seja nos quadrinhos, nos videogames ou em qualquer outra mídia. No entanto, dando um passo corajoso, a Warner nos apresentou Gotham Knights: um jogo dentro do universo do Homem-Morcego que se passa em um tempo em que ele declaradamente está morto. Será que o legado do Cavaleiro das Trevas realmente está à sua altura, ou os Cavaleiros de Gotham precisavam de mais de tempo de treino para encarar esse desafio? 

[Análise realizada na versão de Playstation 5]

Apresentação 

Gotham Knights é um RPG de Ação desenvolvido pela WB Games Montreal, que gerou polêmica e burburinhos antes mesmo de seu lançamento. Uma das causas é o fato de o jogo estar travado a 30 quadros por segundo sem a possibilidade de alteração para um modo de performance a 60 quadros, como há em outros jogos. Um dos grandes trunfos da atual geração de consoles é a possibilidade de jogos com alta resolução (4K) e alta frequência de exibição de quadros (alguns jogos chegam à frequência de 120 quadros por segundo). Portanto, anunciar um jogo afirmando a possibilidade única de 30 quadros é realmente um problema. Talvez o problema fosse menor se a qualidade dos modelos e texturas fosse realmente surpreendentes, o que não é o caso de Gotham Knights. 

Gotham Knights não é esteticamente ruim, mas não é nada surpreendentemente superior ao que já víamos na geração de consoles passada. Dessa forma fica muito difícil aceitar qualquer justificativa para a impossibilidade de jogar a campanha offline sem um modo performance. Tudo aponta para problemas de otimização no desenvolvimento, mas isso é apenas especulação. 

A história de Gotham Knights é muito boa, e pode ser considerada o grande triunfo do jogo. Com uma narrativa cativante e criando o clima de investigação fundamental nesse universo, a história de Gotham Knights muitas vezes é o que poderá lhe manter entretido quando os problemas de gameplay começarem a aparecer demais. Não espere reviravoltas surpreendentes ou um enredo mirabolante. Gotham Knights conta uma história simples de maneira eficaz: Diante da declaração da morte do Batman, os quatro Cavaleiros de Gotham – Tim Drake, Robin; Bárbara Gordom, Bat Girl; Dick Grayson, Asa Noturna; Jason Todd, Capuz Vermelho – decidem investigar o último caso deixado pelo Cavaleiro das Trevas para descobrir a verdade por trás de sua morte. 

Enquanto alguns elementos visuais de Gotham Knights não surpreendem, outros se destacam com mérito. Um deles foi mencionado acima, outros são a construção de Gotham e o level design. Gotham é realmente impressionante.  

Uma das clássicas representações, e talvez a mais marcante, foi a construção feita por Tim Burton no cinema no filme Batman (1989). A Gotham de Tim Burton era cheia de névoa, sombria, parecia um lugar frio e mesmo durante o dia o sol parecia não ter lugar no céu (o que talvez simbolize a dificuldade de se penetrar a escuridão instalada em Gotham). Gotham Knights consegue reproduzir esses elementos e adiciona uma gama de cores que torna difícil não gastar um tempinho apenas observando a cidade de cima de um arranha-céu.  Um trabalho impecável. 

A escala da construção de Gotham traz a melhor sensação de estarmos caminhando ou sobrevoando a grande metrópole e talvez pela primeira vez toda gotham está disponível, não apenas uma ou outra região. 

Gameplay 

Seguindo os altos e baixos, o gameplay de Gotham Knights traz um misto de emoções. Por um lado, temos animações incríveis que criam momentos muito bons durante o combate. Por outro temos inputs exigentes, falta de mobilidade e desafios desnecessários.

Aqui começaremos a traçar alguns paralelos para melhor compreensão do raciocínio. 

Gotham Knights resume seus comandos básicos de maneira muito próxima da série Arkham, com um botão de esquiva e dois botões de ataque. Um para ataque corpo a corpo e outro para projéteis. 

Além disso há também habilidades especiais – e é aqui que tropeçamos no primeiro problema – que devem ser aprendidas ao se completar desafios. O botão R1 (RB no XBoX) dá acesso às habilidades. 

As habilidades são aprendidas completando desafios, que em geral se resumem a derrotar um certo tipo de inimigo um número determinado de vezes. O grande problema é a parte de ficar procurando o inimigo específico. Alguns serão encontrados naturalmente no decorrer da história principal, outros não. Entretanto, você pode perguntar: Por que isso é um problema? Quando você deve cumprir esses desafios obrigatoriamente para desbloquear uma habilidade, o jogo está de certa forma forçando o jogador a jogar “da forma como ele quer”. Desafios não deveriam estar diretamente relacionados às habilidades do seu personagem. É possível justificar a decisão da equipe, se analisarmos que o personagem adquire determinada habilidade por aprender a lidar com aquele tipo de inimigo, no entanto essas missões podem se tornar muito cansativas para alguns jogadores. 

Outra questão é a mobilidade. Trazendo outra referência da série Arkham para a memória, temos os momentos “predador” em que atacamos os inimigos sorrateiramente e desaparecemos. É divertido poder usar isso durante o combate, no entanto, há alguns elementos de mobilidade que acabam como uma pedra no sapato. Você quer atacar um inimigo sorrateiramente, usa seu “grappling hook” para alcançar uma posição de vantagem, mas é bloqueado pela parede e perde toda dinamicidade do momento. É um momento frustrante, consequência de um jogo que age como RPG quando não deveria.  

Gotham Knights tem ferramentas bem divertidas, mas não traz a dinamicidade que o combate exige, é como o combate de jogos de Spider Man, mas amarrado com tiras de borracha. Há uma inconsistência irritante quando aprendemos uma habilidade com a Bat Girl que usa o botão R2 (RT no XBoX) que é o mesmo botão de agarrar. O jogo parece não saber quando agarrar e quando usar a habilidade. 

Tirando esses problemas de lado, quando tudo funciona bem o combate se torna suficientemente agradável. As habilidades são realmente úteis e bem animadas, as finalizações são divertidas e quando tudo funciona temos um conjunto de acontecimentos muito legais na tela. 

A navegação pelo mapa em Gotham Knights é feita usando a moto customizada da bat-família, e essa experiência poderia ser muito melhor do que é. O jogo tenta, sem sucesso, passar a sensação de velocidade criando efeitos visuais que não acompanham a realidade exibida quando movemos a câmera. Naturalmente o foco do jogo não é esse, no entanto a realidade dentro dele sugere um ambiente de risco aos cidadãos de Gotham, e em certos momentos em que devemos proteger aliados de assassinos perigosos, se dependêssemos apenas da moto em pouco tempo a experiência seria desgastante.  

Há pontos de acesso para viagens rápidas por Gotham também liberados através de desafios, que por sua vez não precisariam estar no jogo. Qualquer estratégia narrativa daria conta de justificar a criação de Lucius Fox ser invisível aos drones que precisamos observar por segundos  procurando pelo mapa como se não houvesse mais nada de interessante pra fazer no jogo. 

O jogo possui um sistema de criação de armaduras novas que são desenvolvidas com materiais encontrados nas missões, o que se assemelha ao padrão de loot de Marvel’s Avengers. 

Gotham Knights traz uma quantidade muito boa de missões paralelas e ótima qualidade de level design, visualmente impressionante. Não temos aqui a sensação de estarmos constantemente no mesmo lugar, o que é um ponto muito positivo para a experiência total do jogo. Talvez o combate fosse mais recompensador se houvessem mais inimigos com menos resistência, isso traria a sensação de que somos realmente poderosos, mas isso é uma consequência do padrão RPG e talvez dos loots.  

O desafio do jogo é aceitável. Os inimigos vão atacá-lo mesmo que esteja agarrando outro oponente, em alguns momentos eles param e observam, como em qualquer jogo do tipo, mas em outros eles são impiedosos, e esse é um comportamento bem interessante. Entretanto o ponto fundamental aqui é a possibilidade de engajar da forma como desejar, respeitando ou não as características do personagem escolhido.  

Como em qualquer outro RPG, os personagens de Gotham Knights têm classes bem definidas que podem facilitar muito em certas situações. Um exemplo disso é a Bat Girl, que aprende uma habilidade que a torna invisível a câmeras e sensores. Há momentos em que podemos apenas correr pela sala cheia de armadilhas como se não houvesse nada lá. No entanto outros personagens, como o Robin, favorecem o combate furtivo.  

Gotham Knights tem elementos de gameplay bem criativos, notadamente atendendo ao seu foco que é o jogo multiplayer, o que torna a experiência cativante apesar de seus problemas. Outro elemento a ser mencionado é que a parte de investigação do jogo ficou criativa, fácil, mas divertida. 

É uma tarefa difícil analisar Gotham Knights como um jogo de RPG, pois superficialmente ele não se apresenta como tal. 

Trilha sonora e musical 

Músicas são definitivamente importantes em qualquer jogo. Há uma missão em específico, que é o melhor momento de Gotham Knights. O jogador se encontra em uma prisão, cercado de inimigos, ação desenfreada e ao fundo uma versão alucinante de Livin’ la Vida Loca. 

Momentos como esse deveriam estar espalhados a torto e a direito no jogo, mas infelizmente não estão. Contudo, a trilha sonora é muito boa e cria ambientes de suspense e tensão. O que faltou foi a criação de mais momentos empolgantes. Como este não é um jogo do morcego, ele poderia ser tratado de outra forma sem problema algum. 

Conclusão 

Gotham Knights é um jogo que possui seus problemas, mas não é um jogo ruim. Com a melhor versão de Gotham e uma história que pode ser experienciada de quatro perspectivas narrativas diferentes, certamente conseguirá agradar aos fãs. Infelizmente tem grandes motivos que justificam possíveis reclamações sobre o jogo não valer o seu preço. Um jogo que possivelmente seria muito melhor se fosse beat’em up/hack’n slash com foco em single player. 

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