Análise | Days Gone

Uma grande aposta da Sony para este ano, finalmente Days Gone está entre nós. Será que o novo exclusivo do PlayStation fez jus aos títulos de peso que a plataforma possui? Descobriremos a seguir.

Desde que foi anunciado, comparações com The Last of Us foram inevitáveis, não apenas pelo seu estilo de gameplay e temática pós apocalíptica, mas principalmente devido a promessa de um enredo denso e capaz de envolver o jogador.

Neste quesito, a aventura de Deacon St. John poderá dividir bastante as opiniões dos jogadores.

Um enredo interessante, porém arrastado

Deacon é membro de um clube de motoqueiros chamado Mongrels, que sofre uma grande perda após o surto que transforma as pessoas em zumbis.

Desde então, ele e seu fiel amigo Boozer vagam por este mundo fazendo trabalhos para diferentes comunidades em busca de créditos.

Para Deacon, porém, além da necessidade de sobreviver, o luto é algo recorrente e também o que move o personagem no desenrolar do jogo a partir daí.

O protagonista descobre que os eventos que lhe tiraram tudo não aconteceram exatamente como lhe foi dito.

Sendo assim, ele parte em busca da verdade, a medida que vamos conhecendo e desenvolvendo a história em cada comunidade, aprendendo sobre as rixas que ali existem, motivações de cada uma, etc.

Como é costumeiro em obras com temática pós apocalíptica, os infectados não são a única ameaça e em Days Gone não é diferente.

Além dos grupos de saqueadores, que se aproveitam da decadência do mundo e usam de quaisquer meios possíveis para sobreviver, temos também os Rippers, um grupo de fanáticos que “veneram” os infectados.

A formação deste culto e sua motivação é melhor explorada em um determinado ponto da história.

Por serem humanos, mesmo com sua falta de sanidade, os Rippers podem ser uma ameaça ainda mais letal que os infectados.

O grande problema no desenrolar desta história, no entanto, é o quão arrastada ela se torna durante a jogatina.

Por ser um jogo de mundo aberto, contamos com muitas missões e atividades secundárias, que somos forçados a fazer para elevar nossa confiança em cada comunidade e ter acesso a recursos, que falaremos mais adiante.

Aliado a isto, além de Deacon e Boozer que são personagens interessantes, os demais não geram tanta empatia de forma a nos motivar a ajudá-los. Pelo menos até a chegada ao Lago Lost, onde a história engrena de fato.

O enredo possui reviravoltas interessantes e revelações, mas definitivamente não chega perto do que foi feito em The Last of Us.

Talvez se o jogo fosse um pouco mais linear seria possível aproveitar melhor seu conteúdo, que não ficaria tão arrastado, mas também poderia minar um ponto crucial desta obra que falaremos a seguir.

Um segundo protagonista, a sua moto

Sendo membro de um moto clube, Deacon conta com sua Harley, uma fiel companheira durante toda a jornada. Ela é tão importante quanto o protagonista, sendo possível até mesmo customizá-la para que fique mais rápida, comporte mais combustível e munição, tenha maior durabilidade, entre outros.

O jogo é uma clara inspiração ao seriado Filhos da Anarquia, algo já exposto pelos produtores da Bend Studios em depoimentos.

Até mesmo administrar seu combustível é necessário, pois ficar sem um meio de locomoção estando longe das comunidades pode ser fatal.

As viagens rápidas entre pontos de controle no mapa também gastam combustível, então às vezes pode ser mais vantajoso escolher um lugar que esteja próximo a um posto de combustível, ou que tenhamos a certeza que terá galões de gasolina para repôr.

Rodar pelo mundo é algo realmente gratificante, principalmente para quem é um entusiasta de motos, como eu. No entanto, isso é algo que deve ser feito com cautela, pois Deacon pode ser facilmente derrubado por infectados ou armadilhas na estrada colocadas por saqueadores.

O maior perigo de todos… as Hordas

Durante a jogatina, como citei anteriormente, enfrentamos saqueadores, rippers, infectados de diferentes tipos, mas não há perigo maior que as imensas hordas de zumbis, o grande apelo do game.

Elas foram destaque no anúncio de Days Gone e podemos entender o motivo ao vivenciar a experiëncia de enfrentá-las. É de fato assustador.

Caso não tenhamos um armamento pesado, caminhões de combustível e tambores explosivos no cenário, esqueçam… a melhor opção é fugir.

Existem missões onde devemos dizimá-las e digo, é um misto de adrenalina com tensão que torna tudo bem divertido.

Sem dúvida este é um dos pontos fortes do jogo, pois temos que analisar o ambiente, saber para onde correr, para onde queremos atraí-los, para depois irritarmos o formigueiro.

Sistema de evolução e missões repetitivas

Como citei anteriormente, é necessário que Dick realize missões para os diferentes acampamentos para conseguir créditos, que são a moeda do jogo.

Para ter acesso a um calibre maior de armas, no entanto, é necessário adquirir confiança nestas comunidades, outro fator conseguido através destas atividades.

O problema nisto é o quão repetitivas elas são, o que é natural para um jogo de mundo aberto e não seria algo negativo caso não fosse custoso demais conseguir estes pontos e desbloquear novos níveis, tanto no arsenal, quanto no mecânico para evoluir a moto.

Além destas missões, temos também as famosas interrogações no mapa que funcionam de uma maneira estranha. Elas surgem do nada, nem sempre são precisas e não ficam expostas no mapa como em outros jogos que adotam este recurso.

As missões destas consistem em emboscadas por parte dos saqueadores, resgate de reféns que conferem um pouco de confiança a um determinado acampamento e não fogem muito disso.

Dick possui habilidades que podem ser adquiridas conforme evoluímos de nível com o personagem. Elas possuem 3 ramificações que se complementam e realmente fazem a diferença no combate e na exploração.

Exploração e o famigerado combate

Navegar pelo mundo de Days Gone não é só algo agradável como também necessário.

A exploração é um fator crucial nesta jornada, pois precisamos de recursos para craftar bombas, molotov, itens de cura, armas brancas mais fortes, consertar nossa moto que sim, é danificada e pode ficar inoperante, entre outros.

Constantemente passamos por fazendas, cidades destruídas, carros e túneis que podem ser averiguados para adquirir o necessário. Acaba sendo uma tarefa natural quando estamos em um determinado lugar. Eu não senti em nenhum momento a escassez destes itens, ou senti a necessidade de interromper minha jornada para explorar, pois consegui administrá-los bem.

O combate, apesar de divertido, apresenta problemas que podem frustrar bastante, principalmente em momentos de muita tensão.

A mira as vezes foge ao controle, os inimigos por muitas vezes não reagem aos tiros e continuam vindo em nossa direção, mesmo após um tiro de shotgun na cabeça, além de possuírem precisão de sniper mesmo com as armas mais improváveis.

A mecânica de foco, que deixa tudo em câmera lenta por um tempo, é muito útil e recomendo que seja evoluída sempre que possível, pois acaba rapidamente.

Bugs… muitos Bugs

Se tem algo tão constante quanto a presença dos infectados no game, são os bugs. Não me entendam mal, não é algo que estrague totalmente a experiência, mas pode frustrar bastante.

Além dos já citados no combate do game, me deparei com inimigos brotando do nada, a moto de Dick entrando no chão em pontes, ao colidir com NPC’s enquanto piloto, os mesmos parecem muros de concreto e não esboçam nenhuma reação, os infectados e animais às vezes nos derrubam da moto em movimento com uma investida surreal.

Em momentos de exploração, carros aparecem do nada bloqueando caminhos. Um bug específico, que inclusive me deu um baita susto durante a jogatina, aconteceu quando estava dentro de um túnel e ao passar por um vão, um carro apareceu do nada bloqueando o caminho e me jogando para trás.

Durante as missões os pontos de interesse somem do nada, forçando o jogador a reiniciá-la.

Apesar dos gráficos espetaculares, o jogo apresenta problemas de renderização que às vezes fazem o solo parecer um borrão.

Estes foram apenas alguns exemplos dentre outros que me deparei, o que é um tanto estranho, já que o game foi adiado para abril justamente para que pudessem deixá-lo mais polido.

Uma boa experiência que tinha potencial para ser memorável

Apesar das críticas severas à Days Gone, a jornada de Dick rende bons momentos, diverte, possui gráficos estonteantes e uma trama que, apesar de arrastada, te deixa curioso para ver seu desfecho.

Os pontos altos são os combates cheios de adrenalina contra as hordas, rodar pelas estradas com uma Harley e a história, que após algumas horas conseguem levantar questões que nos motivam a buscar respostas.

Apesar de não ser memorável, a Bend Studios consegue nos entregar um bom jogo, que traz também um pouco da cultura por trás de um clube de motociclistas, como a noção de irmandade, o amor ao colete, a moto, tudo isso bastante intrínseco em Dick.

Se você gosta do seriado filhos da anarquia, vai apreciar ainda mais esta obra e caso curta jogos pós apocalípticos com temática zumbi, um mundo aberto cheio de atividades que garantem boas horas de jogatina, irá se divertir com Days Gone.