O Steam Deck
Lançado em 25 de fevereiro de 2022, o Steam Deck é definido pela Valve como: “Um computador portátil feito para jogar”. Mas afinal, isso não seria o mesmo que um notebook gamer? Não, na verdade o Steam Deck é uma evolução natural da ideia que personificou o Nintendo Switch que conhecemos hoje.
Imagine uma espécie de Nintendo Switch que roda jogos da Steam. Essa é uma boa definição do Steam Deck. É um aparelho com uma forte essência na portabilidade e praticidade, diferente de um notebook gamer por exemplo.
A expressão “computador portátil” utilizada pela Valve não é em vão. O Steam Deck é um aparelho cujas características principais são voltadas a “jogar em qualquer lugar” em um poderoso PC de mão. O sistema operacional é o “Steam OS”, que tem como origem o Linux. É possível a instalação de programas, emuladores, homebrew, dentre outros recursos que visam melhorar a experiência de um modo geral, uma vez que o sistema utilizado é baseado em código aberto.
Muitos jogos da biblioteca da Steam não possuem compatibilidade oficial para esse tipo de sistema, porém é aqui que a Valve fez um excelente trabalho. O Steam OS possui, na data desta análise, mais de 2 mil jogos compatíveis. No decorrer do tempo, outros jogos são inseridos na lista de compatibilidade da Valve, o que é bom. E tudo isso graças ao Proton.
Mas o que é Proton? É uma camada presente no Steam OS que possibilita rodar jogos de Windows no Linux. Constantemente a Valve está atualizando as versões do Steam OS e do Proton, ampliando a lista de jogos compatíveis com o Steam Deck.
Devido às especificações do modelo portátil, é possível habilitar uma opção no menu do aparelho que o transforma em um computador de mesa. É nesse modo que você consegue instalar, por exemplo, emuladores. No modo desktop o usuário tem acesso ao Linux, o que não representa algo negativo, porém poucas pessoas possuem familiaridade com esse tipo de sistema.
Há também a possibilidade de instalar o Windows 10 como sistema operacional do aparelho. Porém, existem vários relatos na internet alegando que a utilização do Windows melhora a performance em alguns jogos e piora em outros.
Especificações técnicas
O Steam Deck possui um hardware interessante para um portátil, sendo possível executar a maioria dos jogos qualificados como compatíveis pela Valve, com uma boa taxa de quadros e resolução. Essas são as especificações do aparelho:
Steam Deck vs Nintendo Switch
Quando falamos sobre Steam Deck é inevitável não compará-lo com a sua maior inspiração, o Nintendo Switch. Ambos possuem em sua raiz a portabilidade, porém as comparações param por aí. Isso porque o Steam Deck não é um console de mesa. Enquanto o Nintendo Switch traz jogos exclusivos ou de terceiras para adquirir em sua loja (e-shop), o Steam Deck traz toda biblioteca de jogos de PC da Steam para usufruir através do aparelho portátil, sem a necessidade de pagar alguma taxa adicional por um jogo que você já possui.
Enquanto a performance do Switch é mais limitada, tanto em questões gráficas quanto em desempenho, no portátil da Valve a história é bem diferente. Além disso, há muitos jogos triple A que são lançados na Steam mas não no Switch, o que torna o console da Nintendo limitado nesse quesito. O Switch não é ruim, mas a falta de alguns jogos é o que torna o portátil mais voltado para seus exclusivos. Antes do Steam Deck, a possibilidade de jogar um game de PC e/ou consoles no Switch atraiu muita atenção, mas em virtude do seu hardware muitos jogos não foram lançados para a plataforma da Nintendo.
E aí está a grande sacada da Valve: agora é possível jogar God of War, Spiderman, Call of Dutty, Elden Ring, dentre outros, fora dos PCs e consoles de mesa em um único dispositivo portátil, com pouca perda de qualidade/performance ou nenhuma. Isso é genial.
Usando o Steam Deck pela primeira vez
A caixa do Steam Deck não traz um aspecto “premium”, mas cumpre a sua função. Já a bolsa que acompanha o portátil é de qualidade, sendo muito boa e resistente. O carregador tem o padrão americano, com saída USB-C e 45w de potência. A primeira vez ligando o Steam Deck foi animadora. Após realizar os ajustes de configurações iniciais, foi a hora de vincular o meu usuário da Steam no aparelho. Acessando o Steam Guard no app da Steam, bastou ler o QR Code apresentado na tela do Steam Deck e pronto, usuário vinculado. Foi prático, rápido e simples.
Agora, vamos para a parte que mais interessa, a hora de baixar os jogos.
Com mais de 700gb disponível (256gb ssd interno + cartão micro sd 512gb), foi possível instalar uma quantidade de 20 jogos da Steam, sem considerar o volume de dados referente aos emuladores que instalei. Me sobraram mais de 20gb na memória interna e mais de 150gb no cartão. Dentre os títulos baixados estão:
- Mortal Kombat 11, com mais de 100gb;
- Elden Ring, com quase 50gb;
- Street Fighter V, próximo dos 45gb;
- KOF XV, com 42gb + outros jogos.
Um ponto em destaque é a ergonomia e o peso do aparelho. Apesar de parecer um imenso “trambolho”, ele não é. Muito pelo contrário, sua robustez lhe dá uma impressão de resistente, apesar de utilizar plástico em quase toda sua construção. Seu tamanho, para mim que tenho mãos grandes, encaixou perfeitamente. No início acreditei que o layout dos botões e direcionais seria prejudicial para a ergonomia, o que não passou de uma impressão, pois é muito confortável utilizar o Steam Deck, muito mais que o Nintendo Switch. Apesar dos seus quase 670 gramas o Steam Deck não “cansou” minhas mãos, ponto para a Valve.
Os botões são muito precisos e suaves. A Tela é bonita e utiliza o painel IPS, que traz cores mais fiéis e vivas. Comparando a tela do Steam Deck com a do Switch Oled não senti uma diferença absurda. A tela do aparelho da Valve possui mais brilho, enquanto da Nintendo tem cores mais ressaltadas. Porém, com a instalação de um homebrew em específico, consegui melhorar a saturação das cores do Steam Deck, deixando praticamente igual ao do Switch. Essa é a vantagem de utilizar um aparelho com sistema aberto.
O Steam Deck tem altos falantes que transmitem a impressão de um som um pouco mais alto que a versão Oled do Switch. Não tem um volume tão alto, seus graves são pouco encorpados, mas possui bons médios e agudos. No geral traz uma boa harmonia entre as frequências. É um som razoável, nada de extraordinário.
Conexões do aparelho
O Steam Deck possui Bluetooth e uma entrada USB-C para que você consiga conectar diversos acessórios, seja um carregador portátil (45w ou mais), um hub USB, controles, fones de ouvido ou caixas de som. Com isso você consegue expandir o potencial do aparelho.
Utilizei um hub USB-C para adicionar um mouse e teclado e utilizar no modo desktop. Com o mesmo hub, conectei o Steam Deck em minha TV e comecei a jogar. Em ambos os casos, tive uma boa experiência. Você também consegue conectar, por exemplo, mouses e teclados Bluetooth ou Wireless (por meio do hub USB). Se você tiver um headset com saída USB-C é possível conectar o cabo na entrada do portátil e utilizá-lo, sem a necessidade do hub. Mesmo com essa possibilidade, a Valve também inseriu a entrada p3 para conexão de fone de ouvido padrão.
Conectei também o sistema de áudio do meu PC (caixas + soundbar) e depois um fone de ouvido, ambos por Bluetooth. Não percebi nenhum atraso no áudio, a conexão sem fio funcionou muito bem. Isso vale também para o wi-fi do portátil, que não sofreu quedas, possibilitando baixar os jogos sem nenhuma intercorrência.
No teste final, conectei um DualSense, um controle Xbox pelo Bluetooth, e um controle arcade Qanba Obsidian PS4 via cabo, por meio do hub USB-C. Em todas as conexões os controles responderam perfeitamente os comandos. O Steam OS identifica a conexão, trazendo as configurações e o tipo de controle conectado, como acontece na versão Steam de PC.
Atualmente, existem várias opções de Dock no mercado que são compatíveis com o Steam Deck, cuja função é transmitir a imagem do portátil para TV enquanto carrega a bateria do aparelho, igual ao Nintendo Switch.
Performance X Desempenho
O Steam Deck traz a possibilidade de ajustes na tensão de energia do seu processador e GPU, visando um melhor equilíbrio entre desempenho e durabilidade da bateria. Nos testes que realizei, a durabilidade da bateria do Steam Deck ultrapassou 3h30, o que não é ruim. Tudo irá depender do jogo. Para jogos mais exigentes essa duração pode chegar a no máximo a 2h. Como já estou acostumado com a bateria do Switch Oled, que dura minimamente entre 4h30 e 5h, creio que esse seja o maior problema do Steam Deck.
Em jogos mais leves como Hades, Blasphemous, Dragon Ball Fighterz, Streets of Rage 4, Hollow Knight e até Resident Evil 2 Remake, com o TDP do processador configurado entre 5 e 8w, a duração da bateria foi boa, passando das 3h de gameplay. MK11, Guilty Gear, Street Fighter V e KOF XV rodaram muito bem com TDP a 8w, tendo uma autonomia entre 2h30 à 3h de jogo.
Porém, jogos mais exigentes necessitam de configurações de energia mais elevadas para usufruir de uma experiência sem engasgos ou travamentos. Hogwarts, God of War e Monster Hunter World são jogos que consegui jogar bem com TDP entre 12 e 15w (limite), tendo uma duração de bateria entre 1h30 e 2h, a depender das configurações gráficas do game.
Gameplays no portátil
Tirando a parte da bateria, posso dizer que o Steam Deck fez bonito. Testei diversos games no aparelho e obtive resultados impressionantes, sejam eles jogos de aventura, rpg ou de luta (gênero que mais adoro). Em todos os casos o Steam Deck deu conta do trabalho, apresentando um excelente desempenho. Tanto os controles nativos do portátil quanto os demais testados responderam perfeitamente os comandos, principalmente na bateria de testes dos jogos de luta, pois exigem maior precisão e resposta dos inputs. Cabe ressaltar que o direcional do Steam Deck possui uma boa sensibilidade e fácil execução, sendo perfeito para fighting games.
Seguem resultados dos testes:
Resident Evil 2 Remake, com gráficos no médio para alto, rodando a 60fps constantes em HD (720p) ficou lindo.
Elden Ring, com gráficos entre médio e baixo, rodando entre 30 e 45fps em HD (720p), com TDP de 10w teve um bom equilíbrio entre performance x desempenho para um jogo dessa magnitude.
Monster Hunter Sunbreak, com gráficos no médio, rodando entre 50 e 60fps em HD (720p), com TDP de 10w no Steam Deck ficou perfeito para mim, levando em conta que costumo jogar no Switch a 30fps.
Mortal Kombat 11, com gráficos no alto, qualidade de sombra média, rodando a constantes 60fps em HD (720p), com TDP de 8w. Perfeito! O jogo ficou lindo e sem engasgos.
Dragon Ball Fighter Z, Street Fighter V e KOF XV com gráficos no Alto, rodando travados a 60fps em HD (720p), com TDP de 8w. Ficaram tão bons quanto os testes realizados no MK11.
Guilty Gear Strive, com gráficos no médio, rodando a 60fps em HD (720p), com TDP de 8w. No caso do GGStrive há algo curioso: o game não estava rodando bem na resolução baixa e nem com o TDP no limite, sendo necessário instalar o programa Proton-GE para forçar uma melhor compatibilidade do jogo com o Steam OS. Depois disso o game rodou bem, mas havia pequenas quedas de fps. Ele estava sendo executado via cartão de memória. Ao transferir o jogo para a memória SSD interna do aparelho a experiência teve uma grande melhoria, sem travamentos ou quedas de fps. Creio que o problema esteja relacionado à otimização/compatibilidade do jogo.
Disponibilidade no mercado
O Steam Deck é vendido oficialmente em alguns países, mas não inclui o Brasil. Atualmente ele é oferecido em 3 modelos, sendo:
Apesar de não ser vendido oficialmente por aqui, é possível adquirir um Steam Deck em lojas físicas de jogos nas grandes regiões metropolitanas e/ou em sites de vendas online. Os preços praticados no Brasil custam em média R$ 3.800 (versão básica de 64gb), R$ 4.500 (versão de 256gb) e R$ 5.500 (versão mais completa com 512gb), ou até mais que isso.
Mesmo com valores entre U$ 399 e U$ 649, pode-se dizer que lá fora o Steam Deck não custa tão caro de acordo com o que oferece. Modelos de aparelhos de outras empresas que buscam trazer a portabilidade de um PC nos moldes do Switch tem valor muito superior ao Steam Deck a depender da configuração, como por exemplo o Aya Neo 2. Enquanto essas empresas precisam lucrar em cima de cada unidade vendida, a Valve não lucra com a venda de aparelhos em si, pois o grande trunfo está em sua loja de jogos. É por meio da Steam que a Valve consegue obter resultados positivos, pois quanto mais jogos vendidos, sejam eles para usufruir no PC ou no Steam Deck, melhor será para a empresa.
A versão do Steam Deck analisada aqui foi com ssd de 256gb + 512 de memória extra (cartão micro sd de alta velocidade – 160mbps), que adquiri em uma loja de jogos em minha região (Distrito Federal). Na compra, adicionei uma película fosca, uma skin para cobrir o corpo do aparelho (modelo Cyberpunk 2077) e um par de grip para os analógicos.
Vale a pena?
Sim, muito. É um “computador” portátil com um bom hardware, que traz praticidade e possibilita levar sua biblioteca de jogos da Steam para qualquer local. Possui uma boa construção, comandos com respostas ágeis, ótima ergonomia e uma tela de qualidade. É possível instalar diversos emuladores, programas que melhoram a experiência do usuário, e vale ressaltar a possibilidade de utilizar o Windows como sistema operacional. O único ponto negativo que posso mencionar é a bateria, que possui um desempenho aquém quando comparado com o Switch Oled. A Valve poderia ter se esforçado mais nesse quesito. Mas, quem sabe em uma futura revisão do aparelho ou até mesmo um update/atualização de software isso seja resolvido? Vamos aguardar.
Se considerarmos todo conjunto da obra, podemos dizer que a Valve fez um excelente projeto. Cabe ressaltar que o apoio da comunidade para com o portátil é grande. Por se tratar de um sistema aberto, cada vez mais o Steam OS vem recebendo atualizações e melhorias, sejam elas pelos próprios usuários ou pela Valve. Por conta disso e de outros fatores, é notório o sucesso do Steam Deck, um aparelho capaz de melhorar o conceito de “jogar” que a Nintendo inovou lá em 2017.
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