Análise | Mafia: Definitive Edition se reafirma como um dos melhores jogos da série

Máfia é uma palavra que, mesmo indiretamente, está sempre conectada com nossa vida, nosso dia-a-dia. Seja através da política, jornalismo, investigações policiais e é claro, na ficção. Quem poderia esquecer do clássico do cinema e literatura O Poderoso Chefão? Mas os games também não ficam atrás, temos diversas série abordando esse tema como Grand Theft Auto (GTA), Yakuza, Sleeping Dogs, Saints Row, mas penso que nenhum traduz tanto o nosso imaginário quanto a franquia Mafia.

Diferente da maioria dos jogos citados, apesar de seu cenário e personagens serem fictícios, seus títulos tentam se basear na realidade, um passado estadunidense marcado por desigualdade e preconceito. Quero enfatizar isso, pois este foi um motivo surgimento de muito dos grupos criminosos, incluindo as máfias italianas, e em todos os jogos da série essas injustiças são motivo que faz com que seus protagonistas se vejam obrigados a entrar para o mundo do crime.

A Origem do Capô dos Games

Mafia foi desenvolvido alguns anos após o lançamento de GTA III, o primeiro game da franquia em 3D, porém ao contrário deste, optou por deixar gráficos e mecânicas um pouco de lado, se focando na ambientação – cenário de época, história e principalmente nos diálogos. Além disso, sua trama é mais séria e realista que a franquia da Rockstar. Isso fez com que ele fosse muito bem aceito pela crítica e se tornou memorável entre os jogadores, um verdadeiro clássico.

Agora, mais de 18 anos depois de seu lançamento, a Hangar 13 e a 2K, empresas responsáveis pela série, finalmente lançaram um remake do primeiro jogo da série, Mafia Definitive Edition. O novo título se mantêm fiel a trama e aos personagens, mas com grandes mudanças nas mecânicas e gráficos.

Primeira versão de Mafia, lançado em 2002.

Lembrando que não se trata de um mero remaster, onde simplesmente teríamos uma mudança no visual. O fato é que o jogo foi todo refeito do zero.

Crime, uma proposta irrecusável

A trama de Mafia Definitive Edition começa na passagem da década de 1920 para 1930, durante a Lei Seca na cidade fictícia de Lost Heaven. Você encarna Tommy Angelo, um taxista que inesperadamente dá de cara com um dupla de mafiosos italianos e é obrigado a ajuda-los a fugir da polícia. O que seria uma experiência traumatizante para a maioria das pessoas, é encarado como uma grande oportunidade pelo taxista. Apesar de relutante no início, dinheiro e poder falaram mais alto.

Esse enredo leva crer, que história seja idêntica ao da versão original, o que para a felicidade dos fãs, não deixa de ser verdade. Todavia, houveram alguns pequenos acréscimos nos diálogos, o que efetivamente não provoca grandes traz mudanças na trama, mas torna a conversa entre os personagens mais fluida e realista, beirando a cinematografia hollywoodiana. Ao mesmo tempo, mantém uma distância sadia da complexidade de filmes como O Poderoso Chefão, o que é algo positivo, caso contrário haveria o risco de boa parte dos jogadores pulassem as cinematics ou simplesmente achassem o jogo tedioso.

Ainda sobre os diálogos, a atualização dos gráficos para a geração atual veio muito bem a calhar. Agora percebemos claramente os gesto faciais e manuais dos integrantes do seu grupo criminoso pode parecer um mero detalhe, mas isso dá ênfase, complementa e às vezes, expressa mais do qualquer uma das palavras proferidas pelos personagens.

E as mudanças não para por aí. As faces enormes enormes e poligonais dos personagens foram trocadas por rostos realistas e condizente com a personalidade de cada um dos NPCs. Com destaque para Poly, o debochado beberrão te acompanha em muitas das suas empreitadas em Lost Heaven. No remake este mafioso tem um rosto redondo e está sempre sorridente, algo tão intenso que provavelmente irá contagiar os jogadores, provocando-lhes risos e servindo para suavizar essa sanguinolenta trama.

Nem todas as mudanças, no entanto, foram positivas, foi caso dos momentos de tomadas de decisão, que simplesmente capada da narrativa. O fato é que no jogo original, há pelo menos, duas ocasiões em que o jogador pode optar entre duas escolhas e sua decisão alteram o desenrolar da história. Na versão Definitive Edition essa escolha foi simplesmente retirada, te obrigando a trilhar o caminho imposto pelos novos escritores do jogo.

Entre balas e perseguições

Uma vez que já esclarecemos todas as principais alterações relacionadas ao visual e narrativa do novo Mafia, partamos para as mecânicas, que foi um dos elementos mais agraciados nesta nova versão.

Já nos primeiros minutos de jogatina, é possível notar mudanças no HUD, em sua interface. O radar que ficava que ficava no canto da tela foi substituído por um mini-mapa, tornando mais fácil dirigir e encontrar seus objetivos em Lost Heaven.

Os veículos e NPCs que te acompanham em suas missões não possuem mais uma barra de vida. Agora, caso um carro sofra muito dano, ele simplesmente começa a pegar fogo no capô e posteriormente explode, dando tempo para que o jogador saia e se afaste do automóvel. Quanto aos seus companheiros, não há perigo deles morrerem, porém estão presente mais para dar um clima do que para serem uteis durante os tiroteios.

A mecânicas de troca de armas também ganhou melhorias. No remake é possível alternar imediatamente entre até quatro armas com o pressionar de um único que as apresenta em formato de circular e ao mesmo tempo a partida para momentaneamente. Essa mecânica torna troca bem mais rápida e precisa, além de evitar que Tommy sofra qualquer dano durante esse processo.

Mas é claro que, às vezes, o melhor que você tem a fazer, é recuar e se esconder atrás de um algo que te forneça cobertura, como caixas, carros ou até mesmo paredes. O problema é que até você encontrar um bom lugar, é capaz de já ter sido baleado ou até mesmo morrer. Para facilitar esse tipo de ação durante o combate, agora é possível deslizar sobre capôs de carros e rolar sobre caixas, o que agiliza bastante os combates e evita que você morra por um erro bobo de posicionamento.

Morte ou consequência

Por fim, não podemos deixar de falar dos pequenos detalhes e de como o mundo reage a ações jogadores. Se ainda não ficou claro, Mafia é um jogo de mundo aberto, no qual é possível dirigir diferentes veículos, atirar em seus inimigos, entre outras coisas. Seja como for, seus feitos afetam diretamente a cidade e a maioria deles terão consequências por mínimas que essas sejam.

Ao atirar aleatoriamente na perna de um NPC, por exemplo, esse personagem irá começar a sangrar e mancar, caso você continue enchendo o coitado de balas, ele irá cair, agonizar e morrer, mas não antes de implorar por sua vida ou em um último acesso de raiva literalmente te mostrar o dedo do meio antes de bater a botas.

A partir daí, a polícia será chamada, porém mesmo antes dela chegar há possibilidade de outros transeuntes, pessoas que estão no local, intervirem e atacar Tommy quando ele estiver desprevenido

Um Paraíso Perdido

Da mesma maneira que o novo Resident Evil 2, o remake de Mafia é extremamente fiel ao jogo original. Todas as mudanças, sejam essas narrativas, visuais ou mecânicas foram positivas e ajudaram a moldar esse antigo clássico para a geração atual em grande estilo.

Mas nada é tão bom que não possa melhorar. Além das tomadas de decisão que sem motivo algum foram abruptamente retiradas do remake. Confesso que gigantesco mapa de Lost heaven poderia ter sido melhor aproveitado com algumas sides quest ou atividades típicas da época, como cinemas e pubs (barzinhos) ao som de swing e Big Bands, ritmos que gradativamente estavam substituindo o jazz na década de 30.

Mafia Definitive Edition já está disponível para PC, PlayStation 4 e Xbox One.

Manoel Siqueira

é formado História, Filosofia e cursa Pós no Uso de Jogos e Brincadeiras em Sala de Aula. Também é redator, podcaster e editor no site http://meialua.net @meialuafsoco.