War. War never changes. A guerra em si pode nunca mudar, mas desde seu início, Fallout passou por grandes modificações. Inicialmente desenvolvido pela Black Isle Studios em 1997, a franquia aborda a devastação provocada por ataques nucleares em uma guerra moderna entre Estados Unidos e China, no ano de 2077 (algo que até hoje é muito abordado e especulado como sendo o provável “fim do mundo”, caso haja uma terceira guerra mundial). Claramente inspirado no sistema de RPG de mesa GURPS e com uma visão isométrica, Fallout 1 e sua sequência Fallout 2 conquistaram uma legião de fãs e foram considerados alguns dos melhores games já feitos.
O terceiro jogo da série foi lançado muito tempo depois e passou a ser desenvolvido pela Bethesda Softworks. Esta mudança provocou alterações radicais no jogo, que agradou alguns e desagradou profundamente outros. O jogo passou a ser em primeira pessoa (com possibilidade para alterar a visão para terceira pessoa) e o sistema de combate se dividiu em duas possibilidades: o combate em tempo real (como qualquer jogo de ação) e o combate pelo sistema V.A.T.S. (Vault-tech Assisted Targerting Sistem), no qual o jogador pode escolher em qual parte do inimigo atingir, usando pontos de ação, se assemelhando mais ao combate que víamos nos primeiros Fallout. O jogo ganhou ainda uma expansão (na verdade um novo jogo com a mesma engine) chamado Fallout “New Vegas”.
Uma forte característica da franquia sempre foi, desde o início, a liberdade do jogador. E embora sempre existisse uma linha central da história, era bem comum nos perdermos (no bom sentido) naquele vasto mundo, ricamente ambientado e com diálogos incríveis, esquecendo assim o foco da MISSÃO DO JOGO e passando a habitar aquele mundo, a viver aquela realidade. Ainda mais, Fallout mostra um futuro preocupante e até certo ponto “possível”, o que torna ainda maior a imersão.
Em Fallout 4, a impressão que tive foi a mesma de quando joguei Skyrim na época. Um jogo bem mais bonito, com mecânicas mais simplificadas e acessíveis ao grande público, porém bem mais objetivo e “urgente”. O que quero dizer com isso é que tanto em Fallout 3 e New Vegas, quanto Elder Scrolls Morrowind ou Oblivion, por exemplo, havia um plot principal bastante vago e cabia ao jogador explorar aquele vasto universo, sem saber muito bem para onde ir, descobrindo muito aos poucos seu papel neste mundo, o que frequentemente nos deixava “perdidos” e ao mesmo tempo muito envolvidos com aquele ambiente. Já em Skyrim você descobre muito rapidamente que é o escolhido, o lendário Dragonborn e que deve derrotar Alduin, e o peso daquela missão o mantém mais focado na linha principal do enredo. O mesmo acontece em Fallout 4.
Explico. O início do jogo mostra algo que os outros games não haviam mostrado: o período pré-guerra. Com a iminência dos ataques nucleares, nosso personagem, juntamente com esposa e filho se refugiam em um abrigo nuclear e são criocongelados. E logo nos primeiros minutos, vemos que ao serem “descongelados”, sua esposa é morta e seu filho raptado. Ao conseguir sair do refúgio, percebemos que nosso mundo mudou. Foi devastado pela radiação e, embora seja novamente um vasto mundo a ser explorado, com diversos quests secundários, este é um plot muito forte para ser ignorado ou adiado. CARAMBA, MATARAM MINHA ESPOSA E ROUBARAM MEU FILHO BEBÊ! Não quero saber de ajudar ninguém, de me envolver com problemas locais. Eu só conseguia pensar como Liam Neeson em Busca Implacável : I will find you, and I will kill you!
Assim, movido pelo desejo de vingança e a esperança de encontrar meu filho, fiz tudo o que fosse necessário para atingir meus objetivos. Isso envolveu roubar, pilhar, matar e outras coisas das quais não me orgulho (risos). Enfim, o que quero dizer com isso é: assim como em Skyrim, o plot principal moral e emocionalmente me obrigou a seguir sempre que possível a missão principal e ignorar quests secundárias, embora nada no jogo me impedisse de fato de me desviar do meu objetivo.
Vale frisar que a princípio a história parece rasa, mas contém reviravoltas muito interessantes e que colocam em xeque os ideais que desenvolvemos e cultivamos durante o game, podendo gerar desfechos diferentes e, até certo ponto, coerentes com suas decisões. Vale ressaltar ainda que após o término da missão principal o jogo continua, o que aumenta muito a sua longevidade. E agora que finalmente tive um desfecho na minha história (seja ele bom ou ruim), me sinto apto a ajudar outras pessoas e reconstruir este mundo.
Em termos gráficos, Fallout 4 evoluiu lindamente em relação a texturas e iluminação. São gritantes as diferenças com seu antecessor. Contudo, a versão que joguei (XBox One) apresentou quedas de framerate em alguns pontos do jogo. Além disso, um problema recorrente nos jogos da Bethesda se mantém: expressões faciais e movimentações de personagens. Eles continuam bastante “robóticos” (e não, isso não é um trocadilho com os “sintéticos” do jogo) e, em um jogo que muitas vezes contém uma grande carga dramática, isso pode diminuir a imersão. A trilha sonora se constitui um espetáculo à parte. Melancolia, drama e ação transmitidas de maneira bastante delicada e sensível. Somando-se tudo isso, temos uma ambientação incrível, certamente o ponto de maior destaque do jogo.
A jogabilidade também está mais precisa e intuitiva. Ainda há dificuldades em acertar tiros em “tempo real”, mas acredito que isso seja até mesmo uma forma de forçar o uso do sistema V.A.T.S e valorizar o componente estratégico do jogo. É possível ainda ter companheiros na sua jornada, que ajudam durante o combate, destravar terminais e portas, identificar pistas e etc. O interessante é poder alternar entre eles quando quiser ou ainda optar por cursar esta aventura sozinho, como foi meu caso.
Sobre a árvore de evolução, foi totalmente modificada e simplificada. Isso, apesar de poder desagradar os jogadores assíduos de RPG, com certeza torna o game mais acessível ao grande público. Seja como for, a customização de acordo com os perks é bastante ampla, fazendo com que cada jogador tenha um perfil diferente de personagem, o que obviamente implica na maneira de jogar e nas estratégias adotadas.
Por fim, temos um sistema de crafting bastante elaborado e ao mesmo tempo muito intuitivo e útil. Diversas modificações podem ser feitas em armas e armaduras, bem como receitas para preparação de alimentos mais seguros de serem consumidos. Além disso, nas comunidades e alojamentos aliados é possível customizar totalmente o local, montando defesas, casas, energia elétrica, recrutando pessoas, etc.
Tenho certeza que Fallout 4 representa um marco. Não por ser o melhor jogo da série, mas por, assim como Skyrim, ter apresentado uma franquia incrível e tornado o game mais acessível para o grande público, ainda que para isso, tenha que ter sacrificado alguns elementos.
ótima análise Babachi, estou apreciando de mais esse game, e sobre: “Vale frisar que a princípio a história parece rasa, mas contém reviravoltas muito interessantes e que colocam em xeque os ideais que desenvolvemos e cultivamos durante o game” uaheiuaheiuaha BAITA plot twist!!! Eu estou tentando jogar ele por completo.. fazendo a missão principal e as secundárias.. dando atenção aos assentamentos..etc.. para tentar aproveitar mais do game!! abraços
Valeu Paulo! É um grande jogo mesmo! Boa diversão rs
Muito bom texto. Platinei Fallout na terça passada, e venho jogando desde o 3, assim como Elder Scrolls jogo desde o Morrowind. Discordo de algumas coisas.
A primeira é sobre o quesito de urgência. Se em Skyrim você descobre que é o Dohvakin. e, Morrowind você descobre bem cedo também que é o Nerevarine. Se em Fallout 4 você quer encontrar seu filho, em Fallout 3 você busca seu pai, e depois a vingança contra quem o matou, com um motivo nobre (ou escuso) de fundo.
Em Fallout 4 o sistema de assentamentos “capou” o jogo. No 3 tinhamos vários lugares habitados muito legais. Megaton, Teppeny Tower, Rivet City, Little Lamplight, Oasis, Citadel, Republic of Dave, Paradise Falls, Underworld, Cantebury Commons, etc. TODOS com quests excelentes.
Já em Fallout 4, nos resumimos a Diamond City, Goodneigboor, Bunker Hill e Covenant. Mais pra frente aparecem Prydwen e Instituto, mas ou um ou outro não dura no jogo.
Comparemos 2 lugares cheios de bandidos nos 2 jogos. Enquanto no 3 você tem Paradise Falls, onde tu pode realizar várias quests, e até se juntar aos escravagistas, no 4 temos Quincy, cidade cheia de Gunners que se você pisar já leva tiro.
Aliás, essa é uma característica clara em Fallout 4. Tem poucos diálogos realmente relevantes. Normalmente você resolve a disputa na bala. Poucos NPCs aparentemente hostis podem gerar quests.
Enfim, Fallout 4 evoluiu em bastante coisa. Mas simplificou demais em outras.
Verdade Everardo, acho que o que eu quis dizer é que em morrowind embora vc descubra isso, em skyrim você é a todo tempo lembrado da sua missão principal. E em fallout embora tenha a busca pelo pai, achei o assassinato da esposa e o rapto do filho algo mais visceral, mas foi meu ponto de vista. As outras coisas que levantou é exatamente isso, bem menos diálogos. Pra quem jogava interagindo bastante com o mundo e dialogando, foi uma grande perda. Pra quem já ia na porrada sempre, talvez não tenha sentido tanto.
Mas a questão final é exatamente essa: evoluiu simplificando.
Talvez seja até proposital. Vai ver as quests secundárias são rasas (tirando a do Silver Shroud, que pra mim é a melhor quest de qualquer fallout) justamente pra dar esse sentido de urgência na quest principal.
Gostei muito do sistema de modificação de armas e armaduras. Mas achei o sistema de construção de assentamentos totalmente desnecessário. Perfumaria pra aumentar tempo de jogo mesmo.
Só deixando claro que não desgostei do jogo não. Ainda gosto bastante. Mas não me pegou como o 3 não.
Sim entendo perfeitamente, tb curti o game, mas é estranho alguns aspectos pra quem jogou antes. Mas pra quem está entrando na franquia parece um game excelente, já que mostra até o que houve no pré-guerra