Quando gen:LOCK foi anunciado pela primeira vez em julho de 2017, não havia muito para especular sobre a série visto que só havia um nome, um pôster e uma música de entrada. Não ouvimos muito sobre a série fora algumas informações que esporadicamente apareciam nas redes sociais da Rooster Teeth sobre o personagem principal, Julian Chase e um vídeo teaser que foi postado no Facebook da empresa. gen:LOCK começou a receber mais atualizações e atenção da imprensa de entretenimento americana em maio do ano passado, quando foi anunciado que Michael B. Jordan seria o dublador de Julian Chase, o protagonista da série, o olhar da imprensa brasileira veio com mais atenção após que David Tennant foi anunciado como a voz do Dr. Rufus Weller. Depois desses dois eventos, mais grandes nomes do cinema e da televisão foram anunciados como parte do cast, os holofotes se direcionaram mais para a produção, as expectativas subiram e o trem do hype não estava limitado a apenas aos fãs da Rooster Teeth.
Por isso é muito bom dizer, que mesmo com as expectativas lá no alto, gen:LOCK não decepcionou.
Atenção: Alerta de Spoilers!!!!
A animação da série é muito bonita, com diversas cores e com pequenos detalhes bem-trabalhados. Os movimentos estão bem fluentes com as câmeras girando e acompanhando o foco da cena constantemente, algo que é bem significativo considerando que as cenas de batalha tiveram embates aéreos. O movimento de fluídos, que é algo dificílimo de fazer, está muito bem trabalhado e a sua física está muito natural, não apresentando erros ou “quebras” aparentes.
Em questão da história, o episódio faz um bom trabalho em estabelecer o mundo em que a série se passa assim como construir bem o que precisamos saber sobre Chase e o que faz dele o herói da história.
O episódio é apropriadamente chamado de “O Piloto” (The Pilot), que faz referência não apenas como esse sendo o primeiro episódio da série como também a apresentação do personagem Julian Chase, que é um piloto da força aérea da Vanguarda. A narrativa faz um bom trabalho em estabelecer os relacionamentos de Chase com a sua família, amigos e namorada, mostrando o que ele valoriza e o tipo de pessoa que ele é. No episódio, também temos o início da guerra entre a União e a Vanguarda, algo que não sabemos muito sobre e que com certeza será desenvolvido conforme a série progride, porém o discurso e as direções dadas pela Coronel Raquel Marin – interpretada por Monica Rial – é o suficiente para nos dar o tom do conflito e como a Vanguarda vê eles mesmos: como protetores.
A União é mostrada não só como uma força militar mais bem equipada e numerosa, como também como também possuindo uma ideologia de “se não está conosco, está contra nós”, pois todos que não fazem parte ou apoiam a União são imediatamente mortos, sem distinguir entre civis e militares, indicando que ela também está disposta a cometer genocídio. Os seus soldados se movem de forma mecanizada, sem comunicação entre eles e em ritmo constante, o que pode ser um recurso da narração para mostrar que estamos vendo o conflito pelos olhos da Vanguarda como também para estabelecer que a União age de forma sistêmica e sem misericórdia, seguindo ordens à risca.
No final do combate em Nova York, acontece algo que é pouco comum em séries: Chase morre ao se sacrificar para prejudicar o avanço da União e permitir que os soldados da Vanguarda, assim como os civis que estão evacuando a cidade, tenham mais tempo para fugir.
Essa cena de sacrifício de Chase de destaca por dois motivos:
1- Estabelece onde as prioridades do personagem estão no conflito e constrói sua personalidade como uma de um protetor e de um homem corajoso e altruísta,
2 – A saída mais fácil do roteiro para desenvolver a determinação de Chase contra a União e seus ideais seria matar sua namorada – Miranda Worth, interpretada por Dakota Fanning -, que usaria o estereótipo danoso da “Mulher na Geladeira” do uso de personagens femininas em histórias e desvalorizaria o papel de Miranda na série. Porém, em uma jogada muito corajosa – e um tanto anarquista -, o roteiro mata Chase para desenvolver o próprio personagem.
Em um salto para quatro anos depois do início do conflito, vemos que os personagens estão com suas personalidades afetadas dado a guerra, sendo menos otimistas e endurecidos, tentando agirem de maneira normal, algo que é possível ver principalmente em Miranda, cuja personalidade e a maneira como ela se porta mudou completamente em comparação a que ela tinha no início do episódio. Logo é revelado que a Vanguarda está perdendo a guerra, se limitando – ao menos a unidade apresentada na série até agora – em segurar o avanço da União e tendo muita dificuldade nessa tarefa.
Essa dificuldade é mostrada quando uma simples missão de resgate se mostra em um combate em que a Vanguarda está prestes a perder até que novos mechsse unem ao embate e conseguem reverter a situação, assim colocando que a superioridade dessa tecnologia. Apesar de haver dicas que Yasamin e Chase estão pilotando os mechs, essas dicas foram apresentadas de forma que ficasse claro para a audiência e confusa para os personagens.
A cena final do episódio é muito bem construída: assim que é relevado que Chase está vivo – mesmo que mostre que pode ser uma cópia dele por ser um holograma e não ele em carne e osso -, a câmera foca nele e em Miranda, ampliando a sua visão de modo que mostra o cenário, personagens de fundo e sons desaparecendo, deixando apenas Chase e Miranda na cena, mostrando qual é o foco dos dois personagens no momento e dando uma carga de drama e emoção.
Em resumo:
- O primeiro episódio está com uma arte e uma animação maravilhosa;
- A interpretação dos atores está equilibrada entre os profissionais e os atores menos experientes;
- A história dele é uma montanha-russa muito bem construída, ele faz um bom trabalho em estabelecer bem a audiência ao mundo e personagens de gen:LOCK.
O primeiro episódio está disponível gratuitamente para todos assistirem no site da Rooster Teeth, porém os episódios posteriores estarão disponíveis apenas para os assinantes do Rooster Teeth First, o serviço de streaming vip da empresa. O segundo episódio já está disponível para os assinantes do serviço.
O segundo episódio é muito mais intenso que o primeiro, sendo um sinal que a qualidade será mantida nessa temporada. Eu recomendo muito a série e digo que todos que puderem assinar o Rooster Teeth First não irão se arrepender.