Li os contos Dō-Maru e Ninjas não tem Honra da coletânea Samurais x Ninjas
Dentro dos diversos Contos do Dragão, agrupamento elaborado pela Editora Draco, Samurais x Ninjas é uma das coletâneas que sempre me atraiu. Toda voltada para o tema oriental, fantástica ou mais realista, traz diversos contos com valorosos combates, criaturas gigantes, samurais disciplinados e astutos ninjas.
Obviamente, com apenas dois contos, não irei passar por toda a temática possível de ser abordada, mas, como é costumeiro, farei minha análise da qualidade dos contos, que se refletem em toda a obra, pelo esmero da seleção e da edição de Samurais x Ninjas.
O primeiro conto que li foi Dō-Maru, do Eduardo Kasse (@edkasse). Ele trata de uma batalha do ponto de vista de um garoto que está sendo treinado para ser um samurai e defender não só as terras de seu suserano, mas sua própria vila.
Como mencionei na análise de sua outra obra “O Andarilho das Sombras“, Kasse tem uma grande preocupação em estudar a fundo o ambiente e cultura que usará em seu texto. No momento de fazer as descrições, a quantidade de detalhes fica no nível agradável e fluido, não cansando os leitores, principalmente aqueles que escolhem contos por não curtirem leituras mais densas. O único transtorno que um estudo tão elaborado pode causar é a questão dos nomes de alguns objetos.
Durante o conto, Kasse respeita a grafia da nomenclatura original de algumas coisas, principalmente armas, mas não explica o que são em certos pontos da narrativa. Como é o caso da Yari que nada mais é que uma lança. Se o leitor se preocupar em entender todo o vocabulário, pode ser que tenha de fazer pausas para olhar no Google Imagens o que é uma coisa ou outra. Entretanto, a falta desse conhecimento não implica na não compreensão geral do conto, que é muito bem escrito.
Dō-Maru, falando em estrutura, tem um ritmo extremamente agradável, começando lentamente e ganhando velocidade e tensão conforme se desenvolve. Inclusive, nos momentos de flashback ou inserção dos pensamentos/visão de outros personagens, o ritmo não é negativamente afetado. É como eu imagino o funcionamento da mente humana. Teria de ser muito romântico para acreditar que, no meio de uma batalha, um guerreiro teria pensamentos calmos e serenos.
Por fim, sobre esse conto: Eduardo Kasse coloca no enredo a crença do destino ser inexorável de um modo sutil que, do meu ponto de vista, dispensaria a explicação que o acompanha. Achei belo e bem colocado, ficando na beira do Deus Ex Machina, mas não ultrapassando o limite. O nível de detalhes, mesmo não entendendo algumas palavras; os diálogos, poucos, mas ricos, e as ações e índoles das personagens, bem características, me jogaram de cabeça dentro do mundo de Dō-Maru, me dando toda a imersão instantânea que espero num conto.
O segundo conto que li foi Ninjas Não Têm Honra, do Erick Santos Cardoso (@Ericksama). Este conta a história de uma jovem ninja de cabelos violeta que tem seu primeiro encontro com samurais, fazendo valer o nome da coletânea: Samurais x Ninjas.
O que me chamou a atenção, logo de cara, foi o ritmo imposto por Erick, que nos apresenta a personagem já correndo, mas de maneira extremamente leve e ágil, e é assim que ele nos mantém preso por toda a narrativa. A rapidez de detalhes, diálogos curtos, mas com pensamentos e reflexões bem mais profundas, deixam o conto quase etéreo, como o vendo no qual a ninja quer se tornar.
O plot central do enredo é, proporcionalmente, simples, sendo até previsível no final, mas este não é, no meu entender, o objetivo maior por trás do texto, o qual realmente precisaria de uma ou duas centenas de páginas para ser desenvolvido. A grande beleza de Ninjas não têm Honra está na contradição interna da personagem principal. Me encantei com o conflito entre a jovem inocente, a aprendiz respeitosa e a ninja treinada dentro da mente da protagonista, ditando suas respostas, pensamentos e ações.
A produção do Erick é rápida de ser lida e vale muito como um rico ensaio de uma personagem atraente que poderia ser lançada num mundo muito maior que sua pequena ilha.
Tendo contato com esses dois contos, afirmo com tranquilidade que a coletânea Samurais x Ninjas merece ser considerada tranquilamente para sua futura leitura.
Deixo aqui, me curvando respeitosamente, os links da coletânea e dos contos.
– Coletânea Samurais x Ninjas:
http://editoradraco.com/2015/07/02/samurais-x-ninjas/
– Dō-Maru
http://editoradraco.com/2016/03/23/samurais-x-ninjas-do-maru-eduardo-kasse/
– Ninjas Não Têm Honra
http://editoradraco.com/2016/03/23/samurais-x-ninjas-ninjas-nao-tem-honra-erick-santos-cardoso/