A análise já estava pronta quando um update de ultima hora me fez sentar de novo por mais algumas horas e repensar todo o produto. O que antes parecia algo inacabado e, até certo ponto horrível, se tornou uma experiencia relativamente divertida ainda que tão repetitiva quanto possível.
Jogos Multiplayer assimétricos já não são novidades e cresceram em popularidade calcados em franquias de cinema e tv, principalmente as de terror, como os infinitos dlcs de Dead by Daylight e no jogo oficial de Sexta Feira 13.
Era hora de expandir o conceito para algo um pouco mais elaborado do que fugir de um vilão, saindo do lugar comum, e a escolha do Predador para a missão é uma escolha bem acertada.
Não sou exatamente fã apesar de ter assistido todos os filmes e sempre achei que, para um jogo da franquia explorar o melhor que o Predador pode oferecer, teria que ser baseado no filme de 1987 ou então em Predadores. Por sorte, a Illfonic escolheu o primeiro, o que abre margem para uma série de referencias e detalhes que tiram um sorriso do rosto do fã mais casca grossa.
GET TO THE CHOPPA!
Diferente dos concorrentes, Hunting Ground coloca um grupo de 4 mercenários em uma missão na selva, onde um grupo paramilitar está sempre fazendo algo ruim, seja envolvendo drogas, roubos ou testes ilegais, coisa comum na selva em 1987 e em 2020. Tem uma historinha nos extras pra justificar, mas é tão inútil quanto roteiro em filme adulto…
Antes de cada partida, 3 missões são jogadas aleatoriamente na tela e, basicamente são as mesmas em um rodizio aleatório: Matar alguém, roubar alguma coisa, destruir algo, proteger um ponto específico por um tempo…
Para que os mercenários vençam, é preciso cumprir a missão e voltar para o helicóptero, vivos se possível. A outra opção é eliminar o predador, coisa que não é relativamente fácil. Se não for devidamente abatido, o Predador pode ativar a explosão de uma área gigante do mapa e os jogadores podem tentar fugir da área de explosão ou desarmar a bomba… Boa sorte!
Para fugir ou enganar o predador, dá pra cobrir o corpo com lama, jogar granadas cegantes ou explosivas e contar com a sorte enquanto luta com soldados genéricos “esponja de balas” de ia nula e procura diamantes, medkits e munição extra no mapa.
Já como Predador a coisa é, de certa forma, mais simples: Eliminar a equipe de jogadores inteira. Usando seus laser, garras, invisibilidade, visão e audição ampliada e o infame “Predakour”, marcas em arvores onde o predador se desloca apenas apontando a direção no controle em um parkour simplificado.
Começando quase sempre na outra ponta do mapa, quem controla o predador deve pular pelas arvores, usar a visão térmica e audição ampliada para localizar os combates e se aproximar de forma invisível, causando o caos, e finalizar os mercenários um a um, arrancando o cranio dos inimigos.
Se ferido, o jeito é correr para longe, pois o predador deixa uma grande trilha de sangue verde brilhante e leva um bom tempo pra se curar.
Eliminar os mercenários rápido ou cerca-los em um ponto é essencial, pois depois de 30 segundos de eliminado o jogador pode ser ressuscitado se um aliado chegar a um ponto de apoio. E é imensamente frustrante ver uma equipe inteira ressuscitar faltando 1 inimigo e pouco tempo para a vitória, pode ter certeza disso… Eu sei!
Duas experiencias diferentes, só que não
Jogar com o predador e os mercenários não são experiencias diferentes somente por conta das habilidades: O predador é controlado em terceira pessoa, de forma simples e um tanto quanto similar a um Assassins Creed engessado. Já os mercenários são controlados em primeira pessoa, de modo padrão ao que temos no mercado.
Se as diferenças fossem somente estas, seria fácil administrar, mas o jogo parecia rodar em duas engines totalmente diferentes: enquanto o predador funcionava de forma relativamente estável, jogar em primeira pessoa com os mercenários era um martírio.
Ausencia de Vsync, frame rate entre 20 ou menos, raramente chegando aos 30, travadas ocasionais e um visual horrível estragava a experiencia de forma muito similar ao que havia ocorrido no beta. Coisas toleráveis em um beta jogável, mas que se espera que esteja corrigida no launch. Era tão frustrante e incomodo, que eu aguentava as longas filas de mais de 5 minutos para jogar de predador.
Felizmente, um pequeno patch saiu um pouco antes de finalizar essa análise e , de pois de mais algumas horas de jogo, me dei por satisfeito em ver que o básico foi corrigido de forma a fazer da experiencia algo pelo menos palatável: o Vsync agora funciona, o frame está mais estável perto dos 30 (ainda que role umas travadas ocasionais) e vários efeitos ausentes ou mal implementados foram corrigidos, principalmente coisas como a invisibilidade do predador, que de invisivel não tinha nada.
Entre o meia boca e o bom, salvaram-se todos
Pode-se imaginar que, por fotos e pelos problemas acima, o jogo fosse algum tipo de petardo visual, mas as coisas nem de longe são assim: entenda, para o tipo de jogo que é, em comparação como que temos no mesmo estilo, ele é relativamente caprichado, forçando muitas matas e vegetação viva sacudindo, com alguns pontos de alguns mapas um pouco mais trabalhados.
O problema é que, mesmo assim, tem cara de jogo da geração passada, ainda que seja um bom jogo velho. Tirando a vegetação,que é bem farta e sofre dano local,algo semelhante ao Crysis original, onde atirar em uma arvore específica arranca ela, mas de forma mais genérica e não valendo para as arvores grandes. O resto é um quebra cabeças de texturas pobres, repetitivas e em resolução baixa, inimigos genéricos e mal animados, aliados pouco inspirados e cenários tão parecidos que, salvo raras exceções, dá a impressão de estar sempre no mesmo mapa.
Efeitos como a luminosidade do sol,que tenta simular uma selva úmida mas serve mesmo para reduzir o campo de visão, são relativamente bacanas e aceitáveis.
Os modelos do predador e as animações de entrada e saída das missões são talvez a unica coisa que mereçam um destaque maior no visual: as animações de inicio e final de missão rodam a 60 fps e parecem ter uma resolução maior, o que garante cenas curtas, mas bem feitas. Terminar a missão matando o predador garante até o aperto de mão a lá Schwarza!
Já em termos de personalização, ainda que a estrutura seja similar e nem sempre dê pra notar durante as partidas, o predador tem um numero bacana de armaduras, capacetes e peles, e ainda dá pra montar uma predadora, se preferir.
Os mercenários também tem uma infinidade de itens cosméticos, mas são relativamente genéricos e fazem mínimo pra dar uma identidade diferente dos soldados inimigos genéricos.
O grande destaque do jogo fica mesmo para a trilha sonora e alguns efeitos vindos do filme de 1987. A trilha do filme é bacana e ganha peso no game, enquanto efeitos como os gritos e grunhidos do predador são bem bacanas. Quando o predador precisa se curar, ele solta um grito ensurdecedor, que ecoa na floresta e liga um alerta nos jogadores, coisa bacana mesmo. O ruim é apenas que a trilha atrapalha um pouco quando jogamos como predador: o som é essencial para localizar os inimigos no mapa e a musica constante não deixa ouvir direito de onde vem os tiros.
Um longo caminho na escala evolutiva
Como é comum nesse tipo de jogo, o senso de recompensa vem de lootboxes que dão itens diversos para personalizar seus personagens. Cada lootbox do jogo custa 500 veritânios, o diamante que você recolhe no mapa e ganha no final das partidas. Felizmente, não é difícil ganhar (por enquanto) em quantidade suficiente pra comprar uma caixa a cada duas ou 3 partidas.
A grande pegadinha é que, apesar dos itens serem exatamente os mesmos , você precisa ter sorte de abrir aquele item especifico para a classe que você usa. Meu primeiro item foi um capacete raro do predador… Para uma classe que abre no nível 45!
Tanto os predadores quanto os soldados tem classes, que funcionam basicamente iguais, mas tem diferentes niveis de vida, resistencia, velocidade e consegue carregar mais ou menos equipamentos. No final, a primeira e mais equilibrada acaba sendo a melhor opção.
Se quiser comprar uma peça especifica, é só entrar no menu e escolher, mas assim custa beeeem caro em níveis de veritânios. Ainda não há moeda a venda com dinheiro real, mas acredito que seja apenas questão de tempo. Por enquanto, só jogando.
Por bom senso, existe um nível de conta que abre itens, habilidades e classes conforme aumenta e é único para o jogador, abrindo o leque tanto para o predador quanto para os soldados.
No final, perder a cabeça são ossos do ofício
Depois do ultimo patch, felizmente posso dizer que, ainda que não seja excelente, é um jogo divertido, que faz bem o que se propõe, ainda que deixando a desejar em pontos que hoje não deveriam ser problema.
A progressão de conta não é injusta, tem crossplay com o pc e o matchmaking funciona relativamente bem, em média de 1 a 2 minutos para achar uma partida rápida sem preferencias, Pra jogar com a estrela do show, aí já leva um pouco mais de 5 minutos, já que todo mundo quer correr pelas arvores semitransparente.
Ainda sim, é divertido arrancar cabeças, braços ou explodir o quarteirão inteiro, levando umas 15 pessoas junto. Vale a pena lembrar que o jogo é para maiores! Então atenção nos mais novos, pois a violência e o gore, ainda que meio caricato, são de alto nível.
Se você curte o estilo, pelo fato do jogo não ser a preço cheio de lançamento, dá pra considerar a compra, ainda mais se for fã da franquia ou se estiver procurando algo no estilo para jogar com os amigos. Em promoção, é diversão certa se os padrões gráficos exigidos não forem altos, afinal, é um dos melhores jogos solo do caçador mais feio do universo…