Dirigido por Kiyoshi Kurosawa (Sonata de Tóquio, Crimes Obscuros), Para o Outro Lado (Kishibe no Tabi) nos faz acompanhar a jornada de Mizuki (Eri Fukatsu) e seu marido Yusuke (Tadanobu Asano) pelo Japão, para que Yusuke possa retornar a ajuda que algumas pessoas lhe deram para que ele conseguisse voltar para casa.
Esta podia ser uma premissa normal para a estória, não fosse o fato de Yusuke ter morrido três anos antes. É esse toque fantástico que faz o filme ganhar uma intensidade maior e possibilitar situações mais interessantes e comoventes.
Mizuki é uma professora de piano e em sua primeira cena é possível notar sua dificuldade em mostrar entusiasmo com a vida e com a profissão, exemplificada pela bronca da mãe de sua aluna ao não ver evolução na capacidade da criança. Sua postura mais passíva e menos entusiasmada muda imediatamente quando Yusuke retorna.
Filmes orientais costumam ter uma abordagem diferente ao tratar de morte e espíritos, usando esta ferramenta para utilizar eventos sobrenaturais e fantásticos em uma narrativa, sem deixar de lado as raízes no mundo real. É um item cultural importante trazido para o filme e permite a reaçãao contida e serena de Mizuki ao reencontrar o marido e tratá-lo com naturalidade.
A construção dos personagens na cena de reencontro é bem interessante, principalmente na postura de Yusuke, que por conta de sua morte e jornada olha os objetos e trata as conversas de forma um tanto distante.
A iluminação das cenas é com certeza o melhor item técnico do filme, pois ela é extremamente importante para a estória e para o entendimento das cenas. As transições entre claro e escuro guiam o foco de atenção, como no teatro, mostram a importância de algumas ações de personagens e também indica quem está morto ou vivo.
Outra simbologia que gostei foi que na relação entre os dois a proximidade e o toque mostram a evolução da jornada.
Há claro alguns pontos negativos. O ritmo lento, comum a esses filmes dramaticos japoneses, é um pouco quebrado e em alguns momentos um pouco entediante. Alguns efeitos digitais que pareceram não receber o mesmo cuidado dado à iluminação.
A jornada deles tem três paradas principais e cada uma delas ensina a Miziki um pouco mais sobre a vida e sobre relacionamento, colocando ela como agente no processo de agradecimento de Yusuke àqueles que o auxiliaram a voltar pra casa.
Yusuke utiliza a jornada para mostrar o quanto mudou nos últimos tres anos e o que ele fez nesse período, mostrando a Mizuki um outro lado de sua personalidade, acredito eu, que evoluída por conta de sua vivência no pós-morte. E ele trabalha, também, como guia do espectador, explicando as regras envolvidas nos planos de vida e morte.
Para o Outro Lado está em exibição na 39a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (até 04/11) e recomendo que vejam o filme, mas não veja o trailer antes, pois tem algumas coisas que podem atrapalhar um pouco a experiência.
Trailer:
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