Continuando a série Tempos de Sangue, li Deuses Esquecidos.
Como gostei muito do livro O Andarilho das Sombras, também escrito por Eduardo Kasse (@edkasse), quis continuar lendo mais sobre aquele mundo. Dessa forma, peguei para ler o Deuses Esquecidos sem nem ter lido a sinopse no site da Editora Draco. Talvez devesse ter feito isso, já que não conta uma continuação da saga do protagonista Stonecross, mas ainda assim foi engraçado ficar o tempo todo esperando ele aparecer ou achar alguma ligação com a primeira obra.
Relações realmente puderam ser encontradas, afinal é exatamente o mesmo universo, mas prefiro deixar aqui a sinopse para que ninguém ache que eu sou um louco ao tecer minhas opiniões:
“Deuses Esquecidos é o segundo romance da Série Tempos de Sangue, de Eduardo Kasse, e narra a história de Alessio, um camponês temente a Deus que se tornou imortal contra a própria vontade.
Em uma Itália governada pela incontestável Igreja Católica, com seus dogmas e imposições, Alessio se vê em um grande dilema: depois de ser transformado em um bebedor de sangue, ainda teria chance de obter a Salvação?
Enquanto segue em busca de respostas, deixando à própria sorte a mulher e o filho, percorre caminhos tortuosos pela Europa medieval contando com a ajuda de um monge glutão e preguiçoso que também precisa expiar os seus próprios pecados.
Durante essa jornada fantástica, sua alma sempre estará envolta por sombras. Se reais ou imaginárias, só o tempo poderá dizer.”
A obra me agradou muito e consumi suas 216 páginas em duas ou três sentadas, afinal o autor sabe o que está fazendo e, como na maioria das sagas, foi ganhando experiência no caminho, deixando ainda mais imersiva a narrativa. Entretanto, algo foi alterado e ficou estranho.
No primeiro livro o texto é montado todo em primeira pessoa, mesclando o passado e o presente do protagonista, mas em Deuses Esquecidos o foco acontece na estória de múltiplos personagens, sendo que só Aléssio tem sua narrativa na forma antiga, todos os outros passam para a terceira pessoa. A ideia é interessante e funciona muito bem, até como um aviso sutil de quem é o foco em certo trecho, porém acaba complicando em alguns capítulos onde essas duas técnicas são intercaladas. Existem passagens nas quais os primeiros parágrafos são em terceira, depois passam para a primeira pessoa e terminam voltando para a estrutura inicial. Achei ousado, mas é algo que precisaria ser trabalhado um pouco mais ou com pequenas diferenças.
Obviamente que isso não compromete a qualidade da história montada e nem sua compreensão.
Não poderia deixar de ressaltar, falando da qualidade do enredo, que Kasse continua sendo um excelente escritor descritivo e com bom ritmo. Como mencionei no review de sua obra anterior, ele deixa muito claro as principais características das personagens e ambientes, mas sem se tornar maçante. Consegui visualizar bem as ruas italianas e pequenas vilas, mas sem ter que me preocupar com quantos tijolos havia em cada parede. Um outro fator que soma muito valor, é o bom uso de metáforas e comparações que o autor elabora, passando muito bem os sentimentos, sensações e emoções de cada ato.
Deses Esquecidos tem algo que gosto muito: o aprofundamento daquele universo onde se encontra a estória. Foi muito interessante ver uma vampira extremamente antiga e que gosta de filosofar sobre como encara a passagem do tempo ou como quão ínfima são certas coisas, ainda mais sendo colocada em contraste com Aléssio que tem poucos meses de sua “nova vida”. O enredo tem um vilão, tem um protagonista e outras ferramentas narrativas bem testadas, mas é o creme que intercala essas peças que faz a obra deliciosamente imersiva de ser lida.
Espero muito que tenham a oportunidade de ler Deuses Esquecidos, ainda mais que não é preciso ter lido o livro anterior.
Deixo aqui os links da obra e, se tiverem interesse, recomendo baterem um papo com o autor via twitter, pois ele é muito receptivo e pode dar aquele “empurrãozinho final” para que se entreguem a essa leitura.
Grande abraço!
Livro na Editora Draco:
http://editoradraco.com/2013/09/03/deuses-esquecidos-eduardo-kasse/