Querendo ler um livro de intriga mais denso, escolhi O Quinto Evangelho.
Escrito por Ian Caldwell e publicado no Brasil pela Editora Record, O Quinto Evangelho me ganhou logo na sinopse:
Nos últimos meses do pontificado de João Paulo II, uma misteriosa exposição é montada nos Museus do Vaticano. Seu curador, Ugo Nogara, alega ter descoberto um grande segredo, porém, uma semana antes, ele é encontrado morto. Na mesma noite, a casa dos padres Alex e Simon é invadida. A polícia não consegue encontrar um suspeito e Alex inicia sua própria investigação. Para encontrar o culpado, ele precisa descobrir o segredo mantido por Ugo a qualquer custo.
Esse pequeno texto e a perspectiva de uma estória contada em mais de 500 páginas foi mais que o suficiente para me fazer decidir ler essa obra. Queria algo mais denso, complexo e intercortado e não fui desapontado por O Quinto Evangelho.
O autor ficou mais de dois anos pesquisando sobre o Vaticano, seus costumes, estruturas, horários, sem falar na atenção dada à rotina dos clérigos de diversas linhas que passam por lá ao longo das semanas. Isso deu uma enorme riqueza de detalhes, alimentada por essas particularidades, e me senti acompanhando os protagonistas em sua busca pela verdade.
O enredo, terei muito cuidado aqui para não estragar nenhuma experiência, tem o pano de fundo da morte de Nogara e seu segredo, mas é muito mais que isso. Ele carrega grandes discussões sobre relações familiares entre padres, disputas entre linhas filosóficas, grega contra romana por exemplo, questionamentos sobre relevâncias de alguns símbolos religiosos e pertinência das relíquias perante o povo e a própria instituição do Vaticano.
O autor tem a preocupação de explicar, falarei como ele faz isso mais para frente, todo esse contexto para o leitor. Mesmo nunca tendo pisado no Vaticano, não me senti perdido em momento nenhum da narrativa. Essa “condução pela mão” feita por Ian é o que deixa interessante a leitura. O tempo todo eu sabia o que estava acontecendo, entendia reações de certas personagens perante essa ou aquela situação, mas não recebi nenhum segredo antes do momento certo. Realmente me manteve amarrado.
Infelizmente não poderia discutir aqui, uma resenha sem spoilers, mais sobre a intriga sem entregar alguma coisa. Então falarei um pouco da estrutura do livro e as ferramentas narrativas usadas.
Normalmente vemos muitos livros narrados em primeira pessoa, mas poucos fazem isso no presente. A maioria passa a impressão de que o protagonista está contando algo que passou, algo de sua memória. Já em O Quinto Evangelho tive a surpresa de ver uma obra escrita no presente.
Por si só isso seria interessante, você estar presente na mente do Padre Alex enquanto ele toma as decisões e reage a acontecimentos. No início é até estranho, por não ser tão senso comum, uma vez que até quando falamos com outras pessoas, raramente usamos o presente do indicativo, mas logo a estranheza passa e a imersão começa.
Fiquei tão mergulhado na mente do protagonista que demorei a perceber a sutileza do autor. A troca do tempo para o passado quando acontece um flashback na estória. Esse detalhe de produzir esses trechos como se o personagem estivesse se lembrando de algo foi um acerto e tanto.
Realmente admiro autores com essa capacidade. Não é para muitos e, definitivamente, não é para todo tipo de narrativa.
Em fim, quem pode ter achado, pela sinopse, que O Quinto Evangelho seria algo similar aos livros de Dan Brown está errado. Apesar de contar em detalhes sobre locais turísticos, pontos de referências da religião e o lado não comum do Vaticano, o livro de Ian tem uma condução muito particular e outro foco na mentalidade de cada um de seus participantes. Vale muito a pena dar uma chance.
Não precisam se assustar com o tamanho, para quem não está acostumado, pois a linguagem é completamente acessível e, como eu disse, a narrativa flui tranquilamente. Até para aqueles que evitam livros com essa temática, já que o enredo não envolve a conversão do leitor ou profanação da fé.
Deixo aqui meu abraço evangelizador… ficou estranho isso, mas tudo bem. E o link para a obra no site da Editora Record.