Incógnita… essa é a palavra que definiu Death Stranding desde seu anúncio na E3 2016 até aqui.
Por ser um projeto encabeçado por Hideo Kojima, uma das principais mentes criativas dos jogos digitais, o projeto gerou expectativas bastante elevadas independentemente de estar envolto em segredos e mistérios que a cada apresentação gerava mais discussões e teorias.
Sendo o primeiro jogo do seu próprio estúdio, a Kojima Productions, Hideo apostou em algo ambicioso incluindo no elenco nomes de peso como Norman Reedus e Guillermo Del Toro, antes companheiros no famigerado Silent Hills, que foi cancelado com pouco tempo de vida.
A grande pergunta que se manteve nos últimos três anos: Fará Death Stranding jus ao legado de seu criador?
E a resposta, meus amigos, é sim.
Uma história ambiciosa e densa
Ao iniciar a campanha, somos apresentados a Sam Bridges, um portador responsável por realizar entregas entre os diferentes centros isolados de uma América assolada por um fenômeno que mudou toda a percepção do mundo, chamado Death Stranding.
Os seres humanos restantes passaram a ter contato direto com o outro lado, condições climáticas como a chuva e neve se tornaram um perigo para tudo que tocam, o que acabou culminando em uma sociedade dividida, desconectada.
A pedido da última presidente da América, Sam tem a responsabilidade de unir novamente as cidades, criando um elo entre elas através da conexão à Rede Quiral, conceito que não irei abordar aqui para evitar spoilers.
Inicialmente parece simples, porém os mistérios que circundam o Death Stranding, porque ele aconteceu, o que o causou, o que são as ameaças chamadas EP, são perguntas que permeiam todo o game e impulsionam toda a jornada.
A forma como a história é conduzida é bem interessante, mas se torna monótona em alguns momentos.
Apesar de possuir cinemáticas incríveis há diversos momentos nos quais informações e contextos necessários são passados de forma menos interessante como contatos por rádio ou mensagens por texto. Ocasionalmente essas situações ocorrem de forma mais brusca e aleatória.
São pequenos detalhes que não ferem a experiência, mas que se tornam maçantes pela repetição.
Apesar de grandiosa, a história de Death Stranding pode causar certa confusão nos jogadores, uma vez que nem mesmo os próprios personagens entendem bem o que está acontecendo e isso vai sendo desvendado ao longo da jornada.
É preciso bastante foco para não perder os detalhes e absorver ao máximo as informações. Ler os arquivos de entrevistas são um complemento importantíssimo.
Como já dito anteriormente pelo próprio Kojima, o início do jogo possui um ritmo bem lento e de fato é assim. Um fator determinante para essa quebra de ritmo é, obviamente, o seu vasto mundo.
Apesar de divertido (vamos chegar lá), certas entregas feitas por Sam, que não contribuem tanto para o caminhar da história, acabam demorando mais do que deveriam devido a enorme distância percorrida.
A partir do capítulo 4 as coisas começam a tomar rumos críticos e novas perguntas vão surgindo para alimentar mais nossa curiosidade e, meus amigos, certos acontecimentos eu ainda estou digerindo, acreditem ou não.
Um Elenco de Peso
Uma boa história não pode ser 100% aproveitada caso seus personagens deixem a desejar. Felizmente este não é um problema em Death Stranding.
Kojima foi cuidadoso ao escolher o elenco que integra seu jogo.
Grandes nomes como Norman Reedus e Guillermo Del Toro, citados anteriormente, são acompanhados por Mads Mikkelsen, Léa Seydoux, Troy Baker, Lindsay Wagner, entre outros.
Cada ator entrega um trabalho excepcional, porém o personagem de Norman Reedus pode causar certo estranhamento devido a forma como foi construído dentro do roteiro.
Sam é um personagem que cortou laços com a humanidade, não gosta de ser tocado, então raramente vemos expressões e representações mais intensas do ator, mas elas estão lá e quando acontecem, Norman mostra a que veio.
O grande destaque no entanto vai para Troy Baker e Mads Mikkelsen, que interpretam os antagonistas Higgs e Cliff.
Higgs rouba a cena sempre que aparece com seu jeito sarcástico, imprevisível e que te deixa com medo, sem saber o que ele está pensando e qual será sua próxima ação.
Quanto a Cliff, ele é o personagem que entrega a maior carga dramática dentro da história e Mads Mikkelsen impressiona neste quesito.
É, sem dúvidas, um grande ponto positivo desta obra, pois facilmente criamos empatia com estes personagens, nos importamos ou os odiamos, tornando a experiência ainda mais saborosa.
Temos um segundo protagonista?
Acalme-se, não se trata de um spoiler referente a algum personagem não apresentado nos trailers divulgados e informações reveladas. Se trata simplesmente do BB que acompanha Sam durante toda a jornada.
Esse carinha, apesar de retratado como um mero equipamento, tem grande importância não só para a história, mas para o gameplay em si.
Ele não só cria um vínculo com Sam e com nós jogadores, como também ajuda em momentos cruciais como o embate contra as EP.
O BB permite que Sam enxergue as entidades de forma a evitá-las ou utilizar recursos a sua disposição para combatê-las.
Tudo isso pode fazer com que o BB fique estressado e nessas horas precisamos literalmente brincar e ninar até que ele esteja feliz novamente. Caso ele entre em um estado chamado autotoxemia, você estará refém das EP no campo de batalha, sem saber onde irão aparecer.
A sua participação foi mais do que bem vinda, pois além de todos benefícios e cuidados que citei anteriormente, ele é responsável por criar momentos de ternura, aumentando ainda mais nossa empatia por ele e por Sam.
Um simples garoto de entregas?
O gameplay foi um dos pontos que mais gerou preocupação entre os jogadores quando melhor explorado por Kojima e sua equipe em trailers e eventos.
Sam é um cara que faz entregas para as diversas cidades isoladas da América. Inicialmente é difícil imaginar como isso pode ser divertido dentro de um jogo vasto como Death Stranding e acreditem, consegue ser.
Vários fatores influenciam para tornar essa experiência agradável desde o mundo, que é muito bonito, vasto e bem construído; sua trilha sonora, que toca em momentos chave; mas a cereja do bolo é sem dúvida a imensa gama de recursos a disposição de Sam que facilitam suas entregas.
Death Stranding é um jogo sobre exploração e descoberta, então se você espera embates a todo momento seja contra as EP ou até mesmo os Mulas, que são uma facção de viciados em carga que querem te roubar a todo momento, este não é o jogo para você.
Quando realizamos entregas, vamos adquirindo mais popularidade e com isso novos recursos como escadas, ganchos de escalada, armas letais e não letais, tratores de carga, exoesqueletos de energia e assim por diante.
Cada área explorada apresenta desafios como rios impossíveis de serem atravessados sem risco de perder sua carga, precipícios, montanhas íngremes, além das condições climáticas que representam um perigo para sua carga como a chuva e neve temporal, que faz com que elas deteriorem com o tempo.
O “arsenal” de Sam é capaz de proporcionar uma variedade de situações onde é possível determinar a melhor rota ou até mesmo criar caminhos antes não vislumbrados que agilizam sua entrega.
Isso foi algo bem surpreendente pois além da história, que te guia até o fim, temos estes momentos singulares e divertidos unidos ao belíssimo mundo que estamos inseridos.
Sam também possui uma bússola com recursos para prever onde e quando uma chuva temporal irá cair ou quando irá parar, auxiliando também na estratégia para de determinar melhores rotas.
Aliado a isso, além de todos estes recursos, temos também uma comunidade de jogadores conectada que realmente se ajudam.
A conexão com outros jogadores funciona… e muito bem
Um dos pontos fortes de Death Stranding, enaltecido pelo próprio Kojima, foi seu mundo compartilhado.
Enquanto jogamos estamos conectados a um servidor com diversos jogadores do mundo todo, em uma mesma jornada.
Mas como isso afeta o nosso próprio gameplay?
Simplesmente as ações de outros jogadores no que diz respeito à utilização de recursos, reflete em nosso mundo.
Por diversas vezes cheguei em um determinada área, seja uma montanha ou rio, e lá estava a escada de um outro jogador, ou um gancho de escalada, ou até mesmo cargas perdidas e deixadas para trás que poderiam ser úteis futuramente.
Em momentos que esquecemos de fabricar certos equipamentos para nos auxiliar isso serviu de grande ajuda, pois facilitou inúmeros trajetos, fazendo com que eu economizasse tempo, que é um recurso que pesa em sua recompensa no momento da entrega.
O jogo conta também com estruturas como pontes e pavimentadoras para criação de estradas que necessitam de muitos recursos como metais, resinas, entre outros para serem construídos.
Com este mundo compartilhado, isso é algo benéfico para todos, então é muito interessante ver que sua estrutura foi alimentada com recursos por outro jogador em prol dos demais.
É possível encontrar postes de energia de outros jogadores para abastecer a bateria dos exoesqueletos e veículos usados por Sam. Este em particular foi um recurso que me ajudou bastante.
Você pode também recompensar estes jogadores por esta ajuda deixando curtidas em suas estruturas que são basicamente o XP de Sam para que ele alcance níveis mais altos, consiga mais entregas e libere mais equipamentos.
De fato este mundo compartilhado cumpre o que promete e nos traz a sensação de que, mesmo estando neste ambiente inóspito, não estamos sozinhos.
Bug’s irritantes que não ferem a experiência
Bom, nem tudo são flores em Death Stranding. Apesar dos pontos positivos e algumas ressalvas que citei anteriormente,o jogo traz consigo alguns bugs que podem irritar bastante.
A utilização de veículos é algo que ajuda bastante em nossa jornada, porém, ao utilizá-los em terrenos com pedras principalmente, algumas coisa estranhas acontecem.
Utilizando minha moto ou caminhonete, bati em pedras invisíveis ou pequenas demais para que o veículo parasse abruptamente.
Inúmeras vezes foi mais recompensador trilhar determinado caminho a pé do que se arriscar com veículos e até mesmo perder uma certa quantidade de carga que Sam não teria condições de carregar. Isso aconteceu comigo.
O próprio Sam, em sua jornada a pé, apresenta alguns problemas ao subir em pedras e às vezes tropeça do nada, mesmo com uma carga pequena demais para justificar este desequilíbrio.
Contudo, apesar de irritantes, não ferem a experiência de um modo geral.
Kojima conseguiu
Death Stranding me surpreendeu. Mesmo sabendo da mente por trás do projeto eu estava bastante cético desde o seu anúncio, o que acabou sendo bem positivo para minha experiência.
Kojima entrega um enredo denso e cheio de mistérios, capaz de envolver e guiar os jogadores até o final para obter as respostas que procuram.
Conseguiu transformar algo bastante simples e monótono como as entregas em algo divertido devido a variedade de recursos, o mundo criado e compartilhado com os demais jogadores.
Escalou um elenco incrível para nos contar essa história de forma primorosa.
Em suma, Death Stranding é uma jornada especial e que precisa ser experienciada. Minha recomendação é que fujam dos spoilers, pois as descobertas que fazemos no início, meio e fim tem um sabor muito diferente quando vislumbradas pela primeira vez. Vale muito a pena.
Confira nossa análise em vídeo no YouTube: