Real e humano, A Dama Dourada me fez sair do cinema completamente emocionado.
Convidado pela Diamond Films, fui assistir A Dama Dourada (The Woman in Gold). Havia lido a sinopse, visto o trailer e achado interessante, mas nada me preparou para a profundidade desse filme.
Dirigido por Simon Curtis (Sete Dias com Marilyn), A Dama Dourada conta duas fases da vida de Maria Altmann (Helen Mirren, quando mais velha, e Tatiana Maslany, quando mais jovem). Uma contando da juventude de Maria, uma judia austríaca, e sua relação com sua tia Adele Bloch-Bauer (Antje Traue), pintada como a Dama Dourada por Gustav Klimt. Anos depois, na mesma linha temporal, Maria vive a invasão Nazista, tendo que fugir do país para não ser levada para os campos de concentração.
A segunda trama mostra uma Maria Altman muito mais velha, em torno dos 80 anos, lutando na justiça, ao lado do jovem advogado Randy Schoenberg (Ryan Reynolds), para conseguir de volta a pintura de sua tia, roubada pelos nazistas durante a ocupação e em posse atual de museu de Vienna.
Esse filme começou sem atiçar muito minha atenção, Maria me parecendo uma velha chata e insistente, o que continuou sendo, e Randy um advogado interesseiro buscando um bom caso. Entretanto, quando começam as cenas pré invasão nazista e após a ocupação, A Dama de Ouro começou a brilhar para mim.
Normalmente, quando se faz um filme criticando ou apenas mostrando o nazismo, é comum que usem a violência para chocar o público, mostrando o sofrimentos dos judeus nos campos de concentração, sendo executados ou torturados, mas aqui foi tudo diferente. É mostrado, todo o tempo, o ponto de vista da Maria que, por ser baseado em relatos históricos, acaba sendo muito mais humano e até mais tocante e emocionante do que seria a abordagem mais “clássica”.
Temos contato com a família da personagem principal, suas decisões, a união deles no tempo de crise, a dor da perda gradual de suas posses e sua liberdade, o que acaba dando uma profundidade enorme àquelas figuras históricas que vão te conquistando e te trazendo para a luta deles pela liberdade, assim como mostrando de onde vem boa parte da personalidade de uma Maria Altman mais velha.
Essas história é mesclada com os acontecimentos mais “modernos” (entre aspas, pois se refere à 1998) e, por ter conhecimento do passado, vamos compreendendo cada vez mais a motivação da protagonista, mostrada em detalhes. Seu desejo de ter de volta algo que lhe foi tirado pela tirania, o medo e desprazer em voltar à Vienna, sua insistente convicção de ser ajudada por outro judeu.
Tal judeu, Randy, que no início é apenas um advogado recém contratado de uma enorme firma em Los Angeles e vê na recuperação dos quadros uma ótima oportunidade de conseguir renome e rendimentos para seus superiores, vai mudando com o passar do tempo.
Ao acompanhar Maria, Randy vai tomando conhecimento da sua própria história familiar, do que seus bisavós passaram e do quão irracível pode ser o sistema atual. Achei seu desenvolvimento interessante, mas nem de perto se compara ao de Maria Altman.
Por ser uma história real, tudo acontece de modo muito orgânico e vemos motivações que são extremamente cabíveis e identificáveis. Acredito que um dos melhores exemplos disse é o personagem Hubertus Czernin (Daniel Brühl) que parecia estar ali como uma “muleta” de roteiro, para ensinar coisas de Vienna, mas que se torna completamente factível após uma conversa na qual é questionado do porquê de estar ajudando Maria e Randy.
Por fim, quero falar que a trilha sonora é sensacional, toda baseada em músicas clássicas, mas que não é de se surpreender, uma vez que foi feita por Hans Zimmer (Rei Leão e Piratas do Caribe, só para começar) e Martin Phipps (Harry Brown e outros filmes do circuito europeu). As músicas, como deve ser no cinema, completam toda a emoção e complexidade do que está sendo mostrada pela excelente atuação dos protagonistas, aumentando a angústia em certos momentos e crescendo com a adrenalina de outros.
Assim como não poderia deixar de falar da fotografia, Vienna é uma cidade linda e as tomadas da cidade atual são muito bem colocadas, mas o impressionante mesmo é a reconstrução da cidade e das moradias durante a invasão nazista. É fantástico ver como as pessoas viviam e como os judeus, dos comerciantes medianos aos ricos, foram tratados. Dá para sentir o quão opressor foi a situação do lado deles, mas também a forma gloriosa que o resto do povo estava encarando tudo aquilo, assim como a naturalidade cruel perante aos distratos de outro ser humano.
A Dama Dourada é um filme lindo e forte que, como de costume, acaba mostrando ao final fotos dos protagonistas e o que aconteceu com eles depois dos fatos mostrados. Recomendo muito assistirem, principalmente se quiserem escapar da montanha gigantesca de filmes de ação que normalmente permeiam os grandes cinemas.
Assistam o trailer e deixem que A Dama Dourada o emocione também.
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