Quando Starlink: Battle for Atlas foi anunciado eu fiquei muito empolgado com a possibilidade de jogar novamente com Fox McCloud, mesmo não sendo um novo Star Fox e nem ao menos ser um jogo desenvolvido como exclusivo da Nintendo.
Pilotar aviões e naves não é algo que possa dizer que seja minimamente capacitado nos mundos dos video games, mas Star Fox eu joguei durante muitas horas, assim, muitas e muitas horas.
A princípio minha expectativa era de um jogo mais guiado e linear, assim como é na franquia da Nintendo, e a idéia de poder montar as suas naves com acessórios fisicamente era ainda mais interessante.
Como recebemos a chave digital para Nintendo Switch, não pude experimentar a montagem física das naves, mas isso não tira o brilho da mecânica desenvolvida.
Me intrometendo na guerra dos outros
Antes de explicar como o jogo funciona, melhor falar sobre o argumento do jogo.
O pesquisador St. Grand e sua tripulação estão trafegando pelo sistema Atlas quando são atacados. Os pilotos imediatamente saem com seus caças para defender a nave, mas essa é atacada e St Grand sequestrado.
Nas versões de Xbox e PS4 o jogador controlará a tripulação para batalhar contra os sequestradores e resgatar St Grand. Na versão de Switch, Fox e sua trupe estão perseguindo Wolf e acabam se intrometendo na batalha e se incubem de auxiliar os jovens, enquanto procuram pistas do paradeiro de seu inimigo.
A ideia de encaixar Fox na batalha é simples e funcional, e esses termos resumem todo o contexto de enredo de Starlink. Os personagens são clichê e rasos, as justificativas para as ações idem. Entretanto, há todo um carinho e cuidado na criação e apresentação deles e isso torna o jogo cativante e carismático.
As missões de Fox em perseguição a Wolf são um belo acréscimo a essa aventura espacial. As personalidades já estabelecidas e adoradas dos quatro heróis veteranos complementam bem a juventude dos demais pilotos. As cenas com Wolf também são muito boas.
A dublagem em inglês é excelente, cada voz encaixa bem com os personagens, o texto funciona e ajuda o jogador a imergir no espaço profundo de Atlas.
Não espere nada grandioso ou dramático, Starlink é como um filme de domingo à tarde, para se aproveitar com os amigos, conversando e bebericando.
Inclusive a parte de aproveitar com os amigos é possível, já que o jogo inclui um modo cooperativo para dois jogadores.
Explorando planetas e a jornada pelo (quase) vazio
Pouco depois de iniciar o jogo fica claro que a minha expectativa de um jogo extremamente linear seria frustrada, mas já na primeira hora a narrativa te conquista e a possibilidade de explorar os Sistema Estelar de Atlas anima e, até mesmo, assusta. A esperada jogatina de cinco horas passa a ser extrapolada e as possibilidades infinitas como o espaço.
Claro que essa segunda expectativa não é real, o jogo não quer ser isso. Entender exatamente a proposta de Starlink é crucial para aproveitar o jogo de forma satisfatória e confesso que não foi bem assim a minha experiência.
A proposta de Starlink é permitir ao jogador batalhas frequentes e exploração contínua, mas sem deixar que o jogador se perca no sistema ou se frustre com a necessidade constante de evolução das naves para sobreviver em batalha. A simplicidade de seu enredo também é nítida em suas mecânicas.
O jogador poderá, dependendo de qual versão do jogo tiver ou de quantas naves comprar (com dinheiro real mesmo), pilotar seis tipos diferentes de nave, utilizar quatro pilotos diferentes (cinco, no Switch) e equipar as naves com duas das quinze possibilidades de armas. Entre as naves e entre os pilotos, as mudanças são sutis.
Dentre as armas há cinco tipos de ataque: impacto, fogo, gelo, gravidade e cinética. As combinações dessas características permitirão ao jogador infligir dano agravado em inimigos com fraquezas (atacar com fogo um inimigo de gelo) e executar combinações para ampliar o dano de ambas (usar a arma de gravidade para gerar um vórtice e atirar com rajadas de gelo para que o vórtice puxe e congele os inimigos próximos).
Mesmo com essas variações, a baixa variedade de inimigos diminui a necessidade de explorar as diversas combinações e em minha jogatina me vi focando em duas ou três combinações apenas.
Pilotar é algo bastante direto, há poucas opções de manobras e os controles são aprendidos rapidamente.
Há duas formas de guiar sua nave: o modo livre e o modo rasante.
No modo livre você guiará utilizando plenamente o espaço tridimensional, podendo girar e dar piruetas.
O modo rasante é como pilotará durante boa parte da exploração dos planetas, ele simplifica a navegação e as batalhas, já que os inimigos são todos terrestres. Será também necessário para o transporte de equipamentos entre as diversas bases terrestres e na exploração de algumas ruínas, que o colocarão para jogar pequenos puzzles em plataformas (com certeza a pior parte).
Os planetas são pequenos, mas a travessia de um canto ao outro demora, principalmente por ter que ficar indo e vindo diversas vezes entre os pontos para auxiliar seus aliados e coletar recursos.
A travessia entre planetas é exatamente o que se espera considerando as enormes distâncias do espaço. São trechos mais vazios, mais tediosos e viagens em linhas retas, sem muito a observar. Você passará por destroços de algumas naves, campos de asteroides, encontrará algumas naves inimigas e é isso.
Agora a parte que impressiona é a transição entre a exploração dos planetas e a espacial. Nesse quesito a Ubisoft acertou em cheio, é tecnicamente brilhante.
Você está explorando o planeta, coletando recursos, destruindo inimigos e estabelecendo a paz, mas chegará o momento que deverá retornar à nave mãe para encontrar prosseguir com sua busca por St Grand. Em outros jogos você iniciaria sua acensão, o jogo cortaria para uma tela de carregamento e você apareceria no espaço. Starlink não faz isso. Ele te deixa atravessar a atmosfera, ver as estrelas brilhando cada vez mais, o atrito gerando calor ao redor de sua nave e em segundos você estará flutuando. Não há tela e transição, cut scene, loading. É tudo em tempo real. É maravilhoso. E lembrem que eu joguei no Switch.
A repetição e o cansaço
A simplicidade de Starlink: Battle for Atlas é seu grande mérito, mas também é o motivo pelo qual jogar por algumas horas seguidas é uma tarefa enfadonha.
Para estabelecer a paz em Atlas e derrotar a Legião e Wolf você deverá agregar aliados, explorar os planetas e derrotar os monstros.
Por mais bem feita que seja a ambientação ela não sustenta as repetidas batalhas contra os três ou quatro inimigos iguais (mudando apenas seu elemental) e a coleta incessante de recursos para conquistar a confiança dos postos de comando e fornecer a eles material para evoluírem suas capacidades de produção e defesa.
No início podemos ignorar essas tarefas logo após completar os mini-tutoriais, mas chegará (rápido) o momento em que a necessidade de se tornar mais forte te obrigará a fazer a limpa num planeta e coletar recursos suficientes para fazer os upgrades das naves e dos pilotos.
É nesse momento que a estrela de Atlas esmaece e o jogador precisará se esforçar para ir em frente. Foi aqui que eu comecei a diminuir o tempo de jogo seguido e aumentar o espaçamento entre as sessões. Havia a minha vontade de viver cada segundo as interações de Fox e companhia, afinal, era isso que eu queria do jogo e essa característica era prazerosa.
O mérito e a esperança
Starlink: Battle for Atlas pode parecer ambicioso, mas o time sabia das limitações do projeto e soube extrair belos diamantes nesse processo.
É inegável o esmero do time em otimizar o jogo para permitir uma ótima experiência até mesmo no limitadíssimo Nintendo Switch.
A qualidade visual e sonora refletem o carinho que tiveram para estabelecer essa nova franquia e ainda mais para conseguirem inserir um personagem tão negligenciado pela Nintendo como é Fox McCloud.
Ficarei muito contente se algum dia tivermos um novo Starlink.
Ficarei ainda mais se a Nintendo aproveitar o bom momento da relação com a Ubisoft para permitir que ela desenvolva um novo jogo de Star Fox que não seja uma repetição dos anteriores.