Seguindo o tema do Costelas e Hidromel dessa semana, inauguro nossa nova coluna com AMALDIÇOADO.
Está oficialmente aberta a coluna “No Sofá”, para falar daqueles filmes que já foram para home video. (Só para cumprir formalidades)
Já faziam alguns meses que Amaldiçoado (“Horns” no original) estava na minha lista do Netflix, mas sempre acabava vendo outra coisa. Ontem, no entanto, ele não me escapou.
Amaldiçoado conta a história de Ig Perrish (Daniel Radcliffe) que está sendo acusado pelo assassinado de sua amada Merrin Williams (Juno Temple, que tem um nome ESPETACULAR para amantes de mitologia). Numa noite, após um ato de profanação, Ig começa a crescer um par de chifres, que obriga todas as pessoas ao seu redor a contarem seus segredos mais íntimos e não se lembrarem disso depois, com os quais começa a investigar o que aconteceu na noite fatídica e quem é o verdadeiro assassino de Merrin.
Dirigido por Alexandre Aja (Piranhas 3D), eu não esperava uma grande obra, mas algo bom deveria ter, uma vez que o roteiro é adaptado de um livro homônimo de Joe Hill, filho de Stephen King. Não me decepcionei… muito.
Entretanto, já que estamos falando de roteiro, vou começar minha crítica por ele. A história é bem contada e bem estruturada, mas achei um pouco previsível. No último terço do filme, eu já tinha uma ideia bem razoável de qual era o segredo da trama e não fui pego de surpresa, mesmo sem terem respondido a grande pergunta que ainda restava: “Que porra eram aqueles chifres?”.
Tudo bem que Amaldiçoado é, desde o início, um filme de fantasia, no entanto eu gosto mais quando a magia não acontece, puramente, pela magia. Algo do tipo “Tó, é o nosso mundo, só que mágico” me causa a impressão de preguiça no roteiro e criação do enredo, justificado por querer manter a seriedade. Algo que é muito diferente dos chamados “High Fantasy”, onde o mundo é mágico na sua essência.
Mesmo com o pequeno “twist” que acontece mais para o final, eu ainda senti que chutar a estátua de uma santa era um motivo bem pobre para tudo se desenrolar daquela forma.
Em completo contraponto dessa tensão e seriedade, o filme é cheio de frases de efeito e piadinhas de duplo sentido, que funcionam apenas em inglês, como Merrin virar para Ig e perguntar se ele está “Horny” (Com tesão, mas que também poderia ser uma brincadeira com “com chifres”), assim como o equivalente visual dessas piadinhas. Para essa última, tomo como exemplo Ig ter de se defender num certo momento e a “arma” que ele escolhe é um tridente. Tudo seria muito mais divertido se eu tivesse alguém comigo na hora para apontar e tirar sarro.
Já o jogo de câmera, em alguns planos particulares, é muito interessante. Gostei muito, após a primeira quebra temporal, pois usam bastante o “flashback” como ferramenta narrativa, a imagem entrar na terra e aparecer do outro lado mostrando Ig e seus arredores de ponta cabeça, uma vez que era assim que estava todo o universo do protagonista.
Detalhes de cenário, objetos e tudo mais, dão a impressão do filme estar repleto de informações escondidas, como uma certa carta de tarô surgindo ao fundo, mas no final, quando Amaldiçoado acaba, resta apenas a impressão de que tudo aquilo não tinha real importância, frustrando um pouco mais pela falta de profundidade.
Terminando a análise visual, queria registrar que a fotografia do filme é bem OK, uma vez que parece existir apenas meia dúzia de locais e nenhum deles realmente exuberante. Mesmo a floresta passa a impressão de ter sido filmada num estúdio. Já o efeitos de computação gráfica deixam muito a desejar, há momentos eu que parece uma animação, sendo salvo um pouco pela maquiagem no protagonista.
Nenhum dos atores pareceu se sobressair muito, mantendo um bom nível de atuação, e o Daniel Radcliffe estava quase me convencendo que não era o Harry Potter, mas algo acontece e tudo isso vai para a lama. Ele faz uma amizade, em certo momento, que me fez pensar: “Tá bom, já pode tirar a porcaria da varinha do bolso e resolver tudo com uma quebra de pulso”. Uma pena, pois o rapaz parece ter potencial, mesmo com as expressões de dor bizarras que ele faz desde criança.
Em suma, Amaldiçoado é um filme que tem conceitos interessantes de céu e inferno, anjo caído e tudo mais, mas com uma execução aquém do esperado. Só recomendo assistir se tiver com amigos, para dar risadas, e caso não tenha nada melhor em vista. Não vale o tempo apenas pela curiosidade.
De qualquer modo, fiquem com o trailer e esperem mais reviews “no sofá”.
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