Baseado no manga de mesmo nome escrito e desenhado por Tsutomu Nihei, Knights of Sidonia trata de uma luta pela sobrevivência da humanidade contra uma espécie alienígena, nomeada Gauna, em uma ambientação futurista e espacial.
Tsutomu Nihei possui um estilo de desenho e estórias cyberpunk relativamente famoso tanto no Japão quanto na Europa, tendo como principais características o desenvolvimento arquitetônico dos ambientes, por conta de sua formação em arquitetura, e a exploração de temáticas de disputa entre seres biologicamente diferentes.
Esta animação produzida pela Polygon Pictures e disponibilizada no ocidente pela Netflix é meu primeiro contato com o autor, mas ao pesquisar sobre ele é possível notar que usou algumas idéias de obras anteriores nesta que é a sua mais recente.
No ano 2339 a Terra foi atacada pela espécie alienígena Gauna, sendo completamente destruída. Mas a humanidade conseguiu escapar em naves, se espalhando pelo espaço. A estória do manga se passa mil anos depois desta fuga, em uma das naves, chamada Sidonia.
Em Sidonia a população manteve uma cultura próxima à japonesa e expandiu suas pesquisas científicas para ampliar as chances de sobrevivência até que encontrassem um outro planeta habitável e, claro, se livrassem da ameaça Gauna.
As pesquisas cientificas estabeleceram para esta sociedade um processo de mudança genética que permitiu a clonagem, a geração de humanos que podiam escolher seu sexo em momento futuro e um processo alimentar associado à fotossíntese, que permite a população economizar recursos. Uma parte desta pesquisa permitiu a criação de humanos imortais, mas estes não são de conhecimento público.
É nesta sociedade que acompanhamos o jovem Nagate Tanikaze, morador do subterrâneo, em sua tentativa desesperada de conseguir comida, se arriscando na superfície desconhecida. Mas ele acaba capturado e levado à enfermaria. A partir daí vemos sua introdução na sociedade e à academia de pilotos de Guardiões, robôs humanoides gigantes utilizados na luta contra os Gauna.
Tanikaze fora criado por seu avô para se tornar piloto de Guardião e lutar contra os Gaunas, para isso treinou desde cedo em simulador semelhante ao utilizado na academia de pilotos, o que justifica a inserção rápida dele no time.
No primeiro episódio são apresentadas as bases de funcionamento da sociedade e os personagens principais da série, podendo também identificar as alianças entre os personagens e algumas pistas do caminho que a estória tomará devido à motivação deles.
A animação da série é digital, como a grande maioria dos animes atuais, e mescla o visual 2D tradicional dos animes com o 3D das CGI, mistura que funciona muito bem, apesar de em alguns momentos a movimentação dos personagens parecer um pouco estranha.
As batalhas são o ponto alto da animação, sendo bastante detalhadas, rápidas e, mesmo com a velocidade, conseguem deixar claro o que está acontecendo mesmo em meio a tantos monstros, tiros e explosões.
O design dos personagens mantém o padrão dos animes mais tradicionais, não há grande destaque visual neles. O contrário acontece com os cenários de Sidonia que são muito bem trabalhados e diversos, e com o design das máquinas e dos robôs que são muito funcionais.
A trilha sonora e a edição de som são competentes, mas não marcantes e os pontos que costumam chamar mais atenção: abertura e encerramento, são um tanto sem graça e as traduções das letras beiram ao bobo.
Para quem já assistiu alguns animes deste estilo, haverá uma sensação de familiaridade permeando toda a série. Em diversos momentos me peguei fazendo comparações com Macross, Gundam e, principalmente o meu favorito: Neon Genesis Evangelion.
Mas não deixe a familiaridade com outras obras tirar você desta, pois ela tem muitas coisas que trazem um frescor ao estilo. Inclusive por conta de um lado ficção-científica mais desenvolvido e ativo no desenvolvimento da estória e dos personagens.
E, assim como muitos animes shonen há uma quantidade razoável de fan service que na segunda temporada chega a incomodar um pouco.
Knights of Sidonia está no catálogo da Netflix brasileira com diversas opções de áudio e legendas, então, se você é fã de animes, sente no sofá e faça um teste com os três primeiros episódios.
Se você já assistiu a série ou não liga para spoilers logo após o trailer eu falo um pouco mais de ambas as temporadas.
Trailer:
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PRIMEIRA TEMPORADA
A introdução e o desenvolvimento dos personagens é interessante e alterna entre exposições diretas e subentendidas, o que auxilia bastante na dinâmica de Knights of Sidonia e exige um tanto de atenção. Apesar disso a série ainda se apoia bastante nos estereótipos tão utilizados nos animes shonen.
Para a estória avançar e termos Nagate como protagonista ativo das batalhas há muitas mortes a cada episódio, principalmente dos melhores pilotos, o que ajuda na sensação de tensão e medo pelos personagens que gostamos e beira ao que sentimos em Game of Thrones, no qual você não pode se apegar aos personagens.
Dentre essas mortes, a morte de Shizuka Hoshijiro, primeiro interesse “amoroso” de Nagate, é a mais importante para a série e é trabalhada na forma de flashback, mostrando a entrada do time em batalha e em seguida mostrando Nagate acordando no hospital. A forma como ele descobre da morte dela foi muito impactante e para piorar, Kunato, o líder do time, diz que a culpa pela morte é de Nagate.
O impacto direto em Nagate é obvio e interessante, mas o mais importante é o impacto posterior, causado não apenas em Nagate mas em diversos outros personagens, pois o Gauna que absorvera Shizuka passa a utilizar a voz, forma e até mesmo as habilidades dela contra os pilotos.
Foi difícil para eu não relacionar os Gauna com os Anjos, de Evangelion. Os Gauna atacam a Terra, são tratados como ameaças para a existência humana e há uma guerra contra eles, os Gauna tem semelhanças com os humanos mas não conseguem se comunicar, etc.
A batalha que define o final da temporada é muito boa e épica, mas não senti como se fosse o final da temporada, mas esse final prepara muito bem o terreno para a segunda.
Ao final da primeira temporada temos um empurrão no personagem Kunato, que decide investigar mais sobre os experimentos com Gaunas realizados por Ochiai e acaba caindo em uma armadilha criada por Ochiai para que seu plano tivesse continuidade e isso faz com que as disputas internas dos postos militares mais altos tomem proporções muito maiores.
Aquele mesmo desenvolvimento de personagem que eu elogiei na primeira temporada foi o responsável por eu não entender a mudança nas ações da Capitã Kobayashi. Algumas sutilezas que foram postas acabaram passando despercebido e quando aquele desenvolvimento teve consequência acabei demorando a entender e achando que houvesse uma falha grave na série. Mas revendo os dois primeiros episódios consegui notar a origem do comportamento mais agressivo da Capitã.
Algo muito curioso incluído nesta segunda temporada foi um híbrido humano-gauna criado por Kunato, digo curioso por trazer boas discussões e interações entre os personagens enquanto ao mesmo tempo traz um pouco de bizarrice no mesmo ponto, já que a interação de Nagate, Izana e Yuhata com a híbrido Tsumugi beira o ridículo em diversos momentos.
Nesta temporada também são explicitadas as relações das garotas com Nagate, tendo um pouco mais de foco nesse estereótipo do personagem principal que todas as meninas gostam e querem estar juntas dele. E em alguns momentos essa linha destoa um pouco do restante do anime, mas serve para construir algumas relações que ajudam a justificar algumas outras ações.
Os últimos três episódios desta temporada formam o arco da última missão e preparação para a provável batalha final na terceira temporada, e eles são excelentes. Constroem muito bem a tensão causada pelo imprevisto do ataque Gauna à uma missão de reconhecimento da qual Izana faz parte e consequentemente motiva o resgate por Tsumugi e Nagate.
Acredito que pelo padrão Netflix de distribuição a próxima temporada saia apenas em julho de 2016, então há muito tempo para aguardar, mas acredito que valerá a pena. Enquanto isso, vou buscar os mangas!