Kunitsu-Gami: Path of the Goddess | Análise

Kunitsu-Gami: Path of the Goddess é o lançamento mais recente publicado e desenvolvido pela Capcom. Contudo, Kunitsu-Gami sugere ser uma relação indireta com outra franquia muito conhecida e amada por muitos: Okami.

Apresentação

Kunitsu-Gami: Path of The Goddess chegou no mercado no último dia 19. Este mais recente e inovador lançamento chamou a atenção por parecer algo diferente: um novo produto, em uma indústria saturada de jogos repetitivos e sem criatividade. No entanto, chamar a atenção não é o mesmo que agradar, principalmente em uma sociedade que parece estar cada vez mais condicionada à procurar sua zona de conforto.

Entretanto, Kunitsu-Gami é uma grata surpresa que sugere uma relação com Okami. Ambos, possuem uma paixão evidente pela cultura japonesa, o chamado Wa – que caracteriza uma obra cujo foco é a tradição cultural do japão – que é o que torna essas obras tão especiais.

Em Okami, o jogador acompanha as aventuras no Okami da deusa do Sol, Amaterasu, para purificar a terra tomada pelos pecados humanos: pecados esses que reviveram a serpente Orochi. E o mesmo plot (exceto a presença de Orochi) é encontrado em Kunitsu-Gami.

Kunitsu-Gami: Path of The Goddess conta a história de uma sacerdotisa que usa sua fé inabalável na deusa da montanha para salvar seu povo. Em resposta às orações da sacerdotisa surge Soh, uma figura que atuará como guardiã em sua jornada para purificar a terra tomada por criaturas oriundas dos pecados humanos, chamadas Seethes.

Um plot simples, mas contado de forma efetiva, sem a necessidade de voltas mirabolantes em um jogo com gameplay focado na diversão do jogador foi, durante muitos anos, o sucesso da indústria dos games, principalmente entre os anos 90 e 2000. E é exatamente isso que Kunitsu-Gami parece: um jogo que foi feito nos anos 2000, um jogo daqueles que encontrávamos no Playstation 2, por exemplo.

O visual do jogo é encantador, sua direção de arte demonstra um nível acima da média e só passará despercebida aos olhos desatentos. Com modelos 3D feitos a partir do escaneamento de protótipos de alto nível, Kunitsu-Gami traz uma riqueza de detalhes de encher os olhos e momentos que parecem ter sido tirados de um Ukyo-e, estilo artístico que inclusive é perfeitamente emulado no jogo com imagens que parecem ter sido pintadas na era Edo, que lembram A Grande Onda de Kanagawa de Hokusai.

O visual do jogo não falha em se comunicar com as nossas emoções, apresentando criaturas perturbadoras e criando tensão em meio à escuridão da noite e, por outro lado, comunicando a contaminação da natureza e dos animais trazendo uma sensação bem desconfortante. Também não falha em comunicar o contentamento e trazer o alívio da purificação ao final de cada cenário. Tecnicamente os mesmos aspectos representados em Okami usando técnicas bem parecidas.

Para dar um breve exemplo, locais de contaminação a serem purificados pelo jogador se assemelham a uma alma torturada que saiu de um dos infernos do jogo Dante’s inferno, e além de serem representadas por cores não naturais (entenda cores primárias) possuem um efeito que sugere uma fumaça com cores que comunicam que a “criatura” aparenta exalar um cheiro bem ruim.

Detalhes como usar a cor certa para evocar uma emoção específica, escolha adequada de caracterização dos personagens secundários buscando criar uma imagem concreta de um conceito abstrato, tudo isso trabalhando em conjunto com o conceito de Wa tornam Kunitsu-Gami uma obra com um charme especial.

Gameplay

 “Kunitsu-Gami: Path of the Goddess” é um jogo do gênero ação e estratégia kagura. Tecnicamente o gênero está sendo inaugurado pela Capcom, mas do que se trata?

Kagura é uma dança religiosa japonesa originária do xintoísmo, que geralmente envolve uma sacerdotisa evocando a presença de uma divindade. Dessa forma, podemos entender que o jogo terá como referência essa dança, ao passo que o gameplay em si envolve uma mistura de combate hack’n slash com “tower defense”.

O game loop funciona assim: o jogador inicia na entrada de um vilarejo e deverá coletar cristais que usará para abrir caminho para a travessia da sacerdotisa que atravessará a vila realizando uma dança (Kagura). Ela atravessa a vila durante o dia e para no período da noite. Durante o dia o jogador deve purificar a vila, liberar os moradores contaminados e durante a noite deverá proteger a sacerdotisa dos Seethes que invadem a vila durante a noite. O jogador poderá conceder poderes aos aldeões salvos para que eles o ajudem a proteger a deusa.

Não há nada de complicado: o loop é relativamente fácil de compreender e, comentando dessa forma, parece até repetitivo e cansativo. Porém, a criatividade de level design e a curva de aprendizado tornam o jogo engajante e relativamente viciante.

O combate é responsivo, e cuidadosamente fluido. E esse é um elemento crucial ao gameplay. Era extremamente importante ao jogo que o combate fosse fluido, uma vez que Soh realiza os movimentos de combate como uma coreografia de dança: os passos complementares da dança Kagura, um elemento que requer ritmo e fluidez.

O jogador encontrará ao longo da primeira gameplay 12 “profissões” diferentes com especializações que exigirão do jogador perspicácia para montar as melhores estratégias e sobreviver às invasões noturnas.

Upgrades estão presentes no jogo e possuem um caráter versátil que estimula a experimentação por parte do jogador. Esse é um elemento importante para fortalecer a individualidade do gameplay, uma vez que cada jogador poderá experimentar ao montar seu time ou até mesmo ao estruturar as habilidades de Soh adequando-os ao seu estilo de jogo.

Além dos upgrades, o jogo apresenta inúmeros itens que podem ser equipados. Alguns desses itens focam especificamente em dificultar a jornada de Soh, trazendo opções como: Yoshihiro morrerá com apenas um golpe, Soh morrerá com apenas um golpe, etc. Um prato cheio aos fãs de Kaizo Mario, etc. No entanto, há também habilidades que facilitam o jogo agradando o público mais casual.

A economia do jogo é balanceada, de modo que sempre entrega os mínimos itens necessários para sobreviver a cada noite, para vencer cada boss. Além disso, cada onda de inimigos é cuidadosamente pensada de modo a manter o desafio constante, assegurando o engajamento e afastando o tédio e a frustração.

Por fim, é importante mencionar também que o jogo inclui um modo de New Game + contendo novos desafios e recompensas, além de uma colaboração com o jogo Okami (o que aponta ainda mais para a relação entre os dois).

Trilha sonora e musical

A trilha musical de Kunitsu-Gami: Path of the Goddess é excelente. É comum se perder no gameplay guiado pela tensão das invasões ou de uma boss fight, mas quando paramos por um instante para prestar atenção ao que está acontecendo por trás da ação notamos a música cuidadosamente aumentando a nossa ansiedade com tambores, criando descontração com um ritmo mais alegre como o de um festival, inserindo metais agudos e desarranjados criando confusão, etc.

Em qualquer jogo a música é fundamental para guiar nossas emoções. Em Kunitsu-Gami ela atua quase que como um personagem extra guiando as emoções do jogador de acordo com o que cada momento sugere.

Conclusão

Kunitsu-Gami é, a primeira vista, um jogo que pode gerar um estranhamento, uma vez que foi apresentado como uma nova IP e um novo gênero de gameplay. No entanto, dê 10 minutos de atenção ao jogo e ele lhe mostrará todo seu charme. O trabalho dos desenvolvedores de Kunitsu-Gami é primoroso e entrega uma experiência inesquecível. Além disso, um primo distante de Okami certamente não é algo a se ignorar completamente, não é mesmo?

 

Agora é com você, mas antes de ir testar Kunitsu-Gami:

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