Durante a BGS 2022, o Meia-Lua teve a oportunidade de conversar com Rodrigo Terra, da Associação Brasileira de Jogos eletrônicos, onde o mesmo pode nos falar um pouco do mercado de games independentes no Brasil, tendências, auxílio para desenvolvedores e mais. Veja a entrevista completa abaixo, conduzida pelo Alanius!
Conheço o trabalho da ABRAGAMES há algum tempo por conta da minha formação em jogos digitais, além do já visto no Big Festival. Por isso, gostaria primeiramente de agradecer e parabenizar pelo trabalho. O mercado de games no Brasil atualmente é complicado, devido a falta de incentivo e preconceito sobre os jogos de desenvolvedores brasileiros. Nesse sentido, você nota que há alguma mudança na relação do consumidor com os jogos brasileiros? Estes jogos são hoje mais bem aceitos?
Eu acredito que ainda é preciso muito trabalho, mas essa mudança já começou. É mínima mas já começou. Temos hoje uma evolução do jogo indie que, de dez anos pra cá, elevamos a qualidade destes jogos a níveis que digo com propriedade que estão sendo feitos igual ou ainda melhores que alguns com temas clássicos do jogo europeu, americano ou até mesmo canadense. Em alguns gêneros é perceptível a melhora da qualidade dos jogos brasileiros.
O que ainda deve ser trabalhado com firmeza é a exposição destes jogos para o mercado brasileiro. O brasileiro precisa conhecer esses jogos nacionais que lá fora já são reconhecidos. Já eram reconhecidos há um bom tempo, e atualmente vemos um mercado internacional que parte do Brasil, da América Latina que tem muita sede do desenvolvedor brasileiro, isso significa que estamos mandando bem pra caramba!
Estamos mandando bem na arte, no desenvolvimento, em game design; e isso são méritos dos novos talentos que estão surgindo e amadurecendo no país, além dos próprios estúdios, que estão melhorando a forma de conduzir seus negócios. Eu vejo que este é o momento de alavancar essa visibilidade pra cá, isso é um dos projetos da ABRAGAMES, conseguir mais oportunidades.
Não é só BGS, não é só o Big (festival), mas também em outros lugares, conseguir botar os jogos brasileiros pra que o pessoal veja também. Para que o consumidor tenha acesso ao olhar do desenvolvedor. Também os veículos de imprensa, hoje os veículos de games têm dado um bom espaço ao jogo brasileiro, agora só temos que conseguir que seja recorrente nas notícias, nas pautas, na fonte de informação do consumidor.
Uma última alternativa é a ativação de comunidade. Quando um brasileiro reconhece um jogo brasileiro numa grande plataforma, esse consumidor divulga a outros gamers, então é preciso informar que muitos dos jogos que estão em plataformas como a steam, são jogos brasileiros, as vezes falta conhecimento.
A Há algum tempo havia essa desvalorização e resistência contra jogos brasileiros. No Meia-Lua, algumas vezes já jogamos e divulgamos alguns games brasileiros, o que eu acredito ser importante para mostrar que os jogos brasileiros estão no mesmo patamar de jogos de fora, e que temos profissionais de alto nível aqui.
Acredito que inclusive ver os showcases aqui na avenida indie da BGS, ou mesmo na CURADORIA do Big e em outros eventos que estão começando a surgir no nordeste, no sul, é importante ter esses eventos abertos ao público para que vejam que estamos fazendo jogos, e para amplificar essa mensagem.
É a primeira BGS de vocês?
Não, a ABRAGAMES já esteve presente em outros anos. Estamos juntos na retomada, estamos em parceria com a BGS na área institucional para dar apoio e incentivar esse trabalho juntamente com a própria BGS pela ABRA e também dos associados. Temos associados que estão fazendo exposição na avenida indie, o que é bem legal pois mostra que o pessoal identifica a BGS como um palco importante pra se comunicar com o consumidor brasileiro.
Qual a expectativa de vocês pra este ano em relação à receptividade? Está percebendo que o público está visitando, que estão obtendo um resultado legal dentro do esperado aqui na BGS?
Como a abertura foi ontem, estamos vendo uma movimentação e interesse muito grande na Avenida Indie, isso é o ponto que estamos observando. Tem outros associados com jogos, por exemplo, na Nintendo, então temos estúdios grandes associados também.
Temos associados só no business, como por exemplo a minha empresa, Arvore. E o resultado visto está sendo muito positivo. Para a primeira BGS pós pandemia, o movimento está muito interessante, o espaço é realmente de crescimento e esse interesse dos associados pelos jogos está sendo correspondido pelo público. Vamos aguardar pelo final de semana, onde há a maior concentração de pessoas, mas não tenho dúvidas de que será um sucesso.
Eu tenho a sensação de que o jogo indie é quem tem mantido esse “suspiro” na indústria. Uma pergunta sobre estatísticas: sobre equipes de desenvolvimento, o conhecimento que o público tem é de que são majoritariamente masculinas. Vocês têm recebido muitas equipes de desenvolvimento femininas?
Nós sabemos que o mercado evoluiu bastante no sentido de haver diversidade nas equipes, seja de gênero ou outras questões, e é muito importante ver o público LGBTQIA+ mais presente nessas equipes também nas áreas de liderança técnica e criativa. Criativos, desenvolvedores e artísticos todos somos, mas nas áreas de arte, de game design, de direção criativa, vemos que cada vez mais temos presença feminina, presença LGBTQIA+, principalmente aqueles que conduzem seus próprios negócios ou lideram equipes.
Há uma transformação em curso no mercado que ainda está longe do ideal, mas é um trabalho que a ABRA se preocupa em incentivar por meio de iniciativas como o Conselho da Diversidade, que é ligado a ABRAGAMES, como forma de olhar para a diversidade da indústria e como está evoluindo a composição de times de desenvolvimento, de liderança de empresas, questões relacionadas a assédio moral e sexual. Temos feito essa observação de forma regular através de reportes, da própria imprensa, e daí temos tomado ações drásticas, temos posicionamento firme em relação a isso.
Instauramos políticas de governança dos estúdios que agora estão implantadas na ABRAGAMES, no código de ética e conduta, que o associado deve seguir. Essa é a nossa contribuição para que haja a mudança que a indústria precisa.
É algo que eu falo porque vejo na minha indústria e em outras: um time diverso nos ajuda a contar melhores histórias, e melhores histórias, jogabilidades inovadoras, vendem mais. Nós precisamos desse movimento para fazer uma indústria economicamente viável e artisticamente sólida.
Qual tem sido a maior dificuldade relatada por quem entra no mercado? Montar uma equipe, lançar o jogo, ou alguma outra situação?
Quando conversamos com o desenvolvedor que está começando, algumas questões surgem, e essas duas são algumas das principais. Não dá pra mencionar uma só. Cada perfil de grupo que quer o coletivo, que quer virar cnpj, no caso da ABRAGAMES associados já são um cnpj.
Mas acompanhamos muito quem ainda está formando um grupo, quem quer lançar um jogo mas ainda não formalizou, então tentamos ajudar a guiar essa formalização. Contamos muito com a rede de associações regionais, estabelecendo com elas cada vez mais parceria e diálogo.
Em cada estado brasileiro tem surgido mais representações, e isso é muito importante pra quem tá chegando. Então o que ouvimos muito sobre essa questão de lançamento de um primeiro jogo, não é só sobre encontrar talentos.
Os problemas são variados: desde muita ambição num primeiro lançamento, onde alguém quer fazer um jogo muito complexo com um time muito pequeno e sem a experiência necessária, tem também a falta de dinheiro, recursos, onde o dinheiro que ele poderia colocar não é o suficiente pra lançar o jogo, e algumas questões de mão de obra. Mas em alguns estúdios novos, quem está se formando agora está se juntando.
Então todos são mão de obra nova, todos são talentos novos. Na base não vejo tanto problema, o que a gente precisa é de mais e mais profissionais, então a gente precisa aumentar o recurso público para mais cursos públicos de games, a gente tem uma imensidade de cursos e oportunidades de ensino privado, mas precisamos ter igual ou superior no ensino público.
A gente tem iniciativas estaduais, federais, municipais, mas precisamos disso cravado no ensino público para alcançar todo mundo que queira trabalhar na indústria.
A Rodrigo, uma última pergunta: você tem alguma consideração que queira deixar, alguma mensagem?
Eu queria, na verdade, convidar aquele que não faz parte do diálogo com a ABRAGAMES, aquele que quer conhecer mais sobre a associação, sobre o que a gente tem feito; não tem tamanho, pode estar começando, desde que tenha acabado de se formalizar, que venham conhecer o trabalho da ABRAGAMES, dos associados, que venha ajudar o mercado de games brasileiros a ter o renome que merecemos ter, pois fazemos jogos bons pra caramba, e precisamos de mais gente levando essa mensagem.
Então convidamos a conhecer o trabalho da ABRAGAMES, se conectarem e quem sabe se associar, se for o momento certo!
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