Uma excelente história de ficção científica escondida em um jogo de construção de cidade.
Per Aspera é o primeiro jogo do estúdio argentino Tlon Industries. Apesar de ser a estreia da Tlon, o jogo conta com Troy Baker (dublador do Joel de The Last of Us) no seu elenco e uma direção de arte impecável, a trilha sonora original composta por Tomas Batista, o compositor vencedor do prêmio IGF, aliada ao primoroso trabalho dos dubladores te coloca em um clima de mistério, contemplação e ansiedade de uma maneira pouco vista neste estilo de jogo.
A MISSÃO É TERRAFORMAR MARTE… PARA QUE?
O enredo do jogo é contado através das lentes da inteligência artificial AMI, que fica no controle do jogador. A sua missão é terraformar Marte, ou seja, tornar o planeta habitável para seres humanos. Durante os primeiros minutos do jogo já fica claro que o jogo pretende levantar questionamentos profundos, pois nos diálogos com Houston (base da missão no planeta terra) e nas próprias reflexões da Inteligência artificial, é fácil perceber a evolução do pensamento crítico e existencial da AMI.
Questionamentos como: “Será que isso é necessário? Porque eu preciso escutar ordens de humanos? Eu estou ansiosa? O que é isto que estou sentindo agora? Medo?” começam a surgir conforme os eventos e evoluções acontecem no jogo. Logo no início do gameplay, após você construir sua primeira fábrica de robôs “trabalhadores”, o primeiro robô 100% montado em marte é feito e a inteligência artificial considera isso um nascimento, o primeiro “nascido/montado” em Marte. E quando o primeiro robô “morre”, ela começa a flertar com sentimentos como tristeza e luto.
Este tema, robôs e inteligências artificiais criando “consciência” não tem absolutamente nada de novo, por isso mesmo é de se valorizar o que foi feito narrativamente neste jogo, a narrativa consegue, fazer de forma brilhante o jogador acompanhar e tomar junto decisões deste florescer da “individualidade” da AMI, de uma forma que não é nova ou inovadora, mas ainda assim, muitíssimo bem feita.
No geral a história é interessante, em diversos momentos intrigante e tem umas reviravoltas legais, mas aqui o foco é este desenvolvimento cognitivo e psicológico maquina X homem.
SE VOCÊ CONSTRUIR, ELES VIRÃO!
Como todo bom jogo de administração de recurso e construção de cidade, Per Aspera vai exigir paciência, até mesmo no modo fácil o jogo precisa de um pouco de raciocínio e tempo para as coisas começarem a ficar realmente interessante, pouco vai acontecer nas primeiras duas horas de jogo, mas confie, vale a pena a espera.
O sistema é simples, você precisa minerar recursos, construir as fábricas, estradas, painéis de energia solar e eólica, extração agua e tudo que for necessário para deixar a vida em marte mais parecida possível com a Terra. Para fazer as coisas acontecerem, você usa seus robôs trabalhadores, que tem autonomia, ou seja, você não consegue dar ordens diretas para eles, você aponta o objetivo e eles vão fazer da maneira que a inteligência artificial do jogo achar que faz mais sentido, o que pode causar confusão, neste aspecto eu gostaria que fosse possível direcionar os robôs individualmente, pois quando as coisas ficam mais complexas e sua base maior, as vezes é fácil se enrolar e dar a ordem errada ou as ordens na ordem errada, e aí, nada funciona e você não sabe o porque.
O saldo do gameplay é positivo, o sistema do game consegue entregar uma experiência mais leve para os mais casuais, e no modo difícil um verdadeiro desafio para os fãs mais hardcore do gênero. (O jogo tem algumas batalhas mas eu não vou dar spoiler).
VALE A PENA… EXISTIR?
Per Aspera foi uma agradável surpresa, um daqueles jogos que me deu vontade de procurar imediatamente outras pessoas pra conversar e vídeos de análise no youtube para conferir o que outras pessoas acharam do game e da narrativa. É um prato cheio para quem gosta de ficção científica e jogos de construção de cidade. Vale a pena conferir.