Ótimas atuações e uma construção técnica impecável são os pontos fortes desse filme. A direção é de Paul Greengrass (dirigiu também A Supremacia Bourne e O Ultimato Bourne), ele utilizou todos os seus aspectos estilísticos para enriquecer a história, sendo fiel aos seus antigos trabalhos, simplesmente um diretor maravilhoso. E a contribuição talentosa de Tom Hanks, como protagonista, que fez mais uma atuação digna em sua carreira, a qualidade é tanta que você assiste sem receios a qualquer trabalho feito por ele, a confiança e a segurança que Hanks transmite é algo sensacional, poucos atores tem esse carisma que te convida a assisti-lo sempre.
O roteiro é bastante coerente e retrata a história de uma maneira diferente, não é um simples embate entre mocinhos e vilões, a trama tem um significado maior que isso. Esse longa é uma adaptação do livro A Captain’s Duty, escrito pelo próprio Capitão Richard Phillips, que em 2009 teve seu cargueiro sequestrado por piratas somalis, uma experiência que ele dividiu com todos através do seu livro. Por ser baseado em algo real você já coloca uma atenção extra, é inevitável. Contudo, só teve uma “coisinha de nada” que me incomodou, o patriotismo desmoderado presente nesse filme ofusca um pouco o brilho maior que seria sobre o tema abordado, desigualdade socioeconômica é um assunto delicadíssimo e a importância disso seria melhor apresentado se não tivessem dado tanto foco ao trabalho da Marinha dos Estados Unidos, que foi tão bem executado, tão perfeito em seguir o que é politicamente correto que acaba deixando de lado a desproporção entre os personagens centrais de toda a história. No início do filme se mostra cenas alternadas, fazendo uma comparação básica das vidas desses dois seres humanos, Capitão Phillips (Tom Hanks) e o jovem pirata da Somália, Muse (Barkhad Abdi), com uma edição memorável as coisas tomam sentido e abre os seus olhos para aquelas duas realidades extremamente diferentes, humanizando os personagens sem rotulá-los como heróis ou bandidos, uma premissa muito interessante. A fotografia marca tanto quanto a direção e a edição, a luz natural foi utilizada com sutileza e simplicidade que trouxe um toque especial, a trilha sonora bem engajada, fazendo aumentar o suspense nos momentos certos, os efeitos sonoros estão muito reais e isso exalta a veracidade das ações em cena.
Enfim, Tom Hanks mostra mais uma vez a razão dele ser um grande ator, numa cena específica, onde ele se deixa levar por toda a emoção que lhe tinha sido contida até aquele instante é um dos melhores momentos do filme. E Barkhad Abdi não fica em desvantagem nisso, pelo contrário, ele surpreende com sua atuação extraordinária, cheio de olhares cínicos e sábios, a ambição e a coragem, tudo muito bem interpretado, nota-se perfeitamente cada sentimento do personagem com apenas o olhar desse ator, maravilhoso desempenho da parte dele. Concluindo, tirando o patriotismo excessivo, o conjunto da obra vale a pena assistir. Em relação ao Oscar 2014, posso dizer que a concorrência está muito forte, não será surpresa se não ganhar nenhum prêmio.