Na semana passada, havia conversas na indústria de games a respeito da possível demissão em massa na Activision Blizzard, que acabaria por afetar centenas de funcionários, algo que deixou muitas pessoas que trabalham na indústria preocupados com o andamento da empresa e com o futuro dos funcionários. Infelizmente, essa possibilidade se mostrou verdadeira ontem quando aproximadamente 775 funcionários tiveram que deixar seu emprego. Porém, o que deveria ser uma discussão a respeito do futuro da empresa e da recolocação desses funcionários – tal como ocorreu quando a TellTale Games teve que encerrar suas atividades -, se transformou em uma discussão a respeito da motivação por trás dessa decisão.
Segundo a IGN, reproduzindo a informação dada pela Kotaku no assunto, os funcionários que foram demitidos não participavam das divisões de desenvolvimento de jogos, divisão em que especulava-se que seria a mais atingida, e sim pessoas que trabalhavam em outras áreas da empresa, como as divisões de publishing e de e-sports. A justificativa para a demissão em massa aparenta ser uma “reestruturação” da empresa para o novo ano fiscal, tendo foco nas franquias Call of Duty, Candy Crush, Overwatch, Warcraft, Hearthstone e Diablo, e não por dificuldades econômicas.
É nesse ponto em que alguns jornalistas e sites que trabalham com a indústria de games começaram a questionar a decisão da diretoria da Activision Blizzard, já que no mesmo dia em que essas demissões ocorreram, a empresa anunciou que o ano fiscal de 2018 foi o ano mais lucrativo de sua história. Apesar desse grande sucesso, o CEO da Activsion Blizzard, Bobby Kotick, disse que mesmo assim os resultados foram “menores que o esperado”.
Enquanto alguns sites, como a Polygon e a Variety foram mais profissionais a respeito do assunto, analisando que perante projetos de reestruturação não é incomum que empresas demitam funcionários mesmo quando elas não estão com problemas financeiros. A Variety inclusive relembrou que uma demissão em massa assim aconteceu na Blizzard em 2012, com 600 demissões– 10% desse número incluía desenvolvedores -, na época em que World of Warcraft estava em declínio. Com isso, é válido lembrar que Heroes of Storm – o jogo de MOBA da empresa – teve seu evento anual de e-sports cancelado em dezembro por conta de seu declínio, colocando em dúvida o futuro do jogo. Em outras palavras: as demissões foram decisões baseadas em mudanças para o futuro da empresa e para alcançar o “potencial total” que Bobby Kotick esperava em 2019.
Por outro lado, jornalistas como Patrick Klepek, da Waypoint, tiveram críticas mais “coloridas” a respeito da decisão. Em uma postagem com o título “Activision Blizzard Reports Record Revenue as They Fuck Over 800 Employees” – que pode ser traduzido literalmente como “Activision Blizzard relata recorde de lucro enquanto fodem mais de 800 funcionários” -, Klepek fala como esse ato foi um claro caso de descaso das grandes empresas com seus funcionários, e que a Activision Blizzard tomou a decisão buscando lucrar mais para os administradores de alto escalão da empresa enquanto arruína a vida de seus funcionários, e questiona o uso do termo “reestruturação”. Klepek inclusive traz números como justificativa para sua opinião negativa, dizendo que a demissão de 8% de 9000 funcionários que ajudaram a desenvolver alguns dos jogos mais populares do mundo não é consistente com o ano recorde de lucro – que ainda assim foi considerado um desapontamento -, e lembrou que Dennis Durkin recebeu um bônus milionário e um salário de seis dígitos quando foi contratado pela Activision no mês passado, mostrando que dinheiro não aparenta ser um problema para a empresa.
Claramente, a postagem de Klepek mostra suas críticas e ressentimentos pessoais a respeito de como as grandes empresas fazem seus negócios, inclusive tendo aberto a possibilidade dos funcionários da Activision Blizzard não terem um sindicato para proteger a segurança de seu local de trabalho e direitos, trazendo a discussão que está em alta nos Estados Unidos à respeito de muitas empresas que trabalham com games colocarem seus funcionários – principalmente no setor de desenvolvimento de jogos – em condições abusivas de trabalho. Um contraste bem forte em consideração aos jornalistas de outros sites, que buscavam ter uma opinião menos pessoal e mais analítica ao mesmo tempo que viam a dualidade da situação.
Como já é de costume, a internet teve reações bem visíveis a respeito dessas duas notícias. A princípio, quando a notícia a respeito das demissões começou, houve uma comoção da comunidade gamer, se perguntando se o ano para a empresa havia sido tão ruim assim e qual seria o futuro desses funcionários, porém quando o relatório do ano fiscal foi revelado, ninguém entendeu como era possível a empresa estar lucrando tanto e mesmo assim estar “cortando lucros”. Tal como se esperava, a reação foi muito negativa, com a Activison Blizzard recebendo diversas críticas negativas por conta de sua decisão.
Porém, nem tudo são más notícias. Nas redes sociais, desenvolvedores da indústria demonstraram a mesma reação que o resto da internet: confusão e dúvida. Inclusive alguns avisaram que os funcionários demitidos poderiam se candidatar à vagas em suas empresas.
Apesar das dificuldades que os funcionários da Activision Blizzard enfrentam agora com essa demissão repentina e aparentemente pouco justificável aos olhos de outros membros da indústria e de seus consumidores, é muito bom ver que eles estão sendo amparados por outros membros da indústria nesse momento difícil.
Não se pode dizer que realmente é fácil compreender os motivos para as decisões tomadas pela Activision Blizzard na última semana, pois deve estar ocorrendo muita coisa por baixo dos panos, porém o que podemos fazer e ficar de olho se a “demissão em massa em prol da reestruturação” da empresa dará resultados. Ficaremos de olho.